12 de fevereiro de 2021

Opinião – “Palmer” de Fisher Stevens

Sinopse

O ex-astro do futebol americano Eddie Palmer (Justin Timberlake) passou de herói local a criminoso sendo condenado a 12 anos numa penitenciária no estado da Louisiana. Quando volta para casa fica a morar com Vivian (June Squibb), a avó que o criou. Enquanto tenta manter sua cabeça baixa e reconstruir uma vida tranquila para si mesmo, Palmer é assombrado pelas memórias de seus dias de glória e pelos olhos desconfiados de sua pequena comunidade. As coisas ficam mais complicadas quando Shelly (Juno Temple), vizinha de vida dura de Vivian, desaparece depois de uma tortura prolongada, deixando seu único filho de 7 anos, Sam (Ryder Allen), frequentemente alvo de bullying na escola, sob os cuidados relutantes de Palmer. Em tempo, Palmer é atraído para um mundo mais esperançoso enquanto estabelece uma ligação com Sam por meio da experiência compartilhada de ser feito para se sentir diferente por aqueles ao seu redor. Palmer começa a recuperar a sua vida quando um romance se desenvolve entre ele e a professora de Sam, Maggie (Alisha Wainwright) constituindo uma jornada inspiradora e inesperada para os três, mas logo o passado de Palmer ameaça destruir esta nova vida.

Opinião por Artur Neves

Palmer representa a transição de um intérprete vocal e compositor de canções com assinalável sucesso, para ator, desempenhando neste caso o personagem de um condenado por roubo e agressão em liberdade condicional que chega à casa da sua avó para tentar recompor a vida. Não se sabe exatamente qual foi a natureza e a motivação do crime cometido que só nos será revelada posteriormente de forma não muito relevante, porque o que interessa é o processo e o modo de recuperação deste jogador de futebol universitário, de rosto fechado, silencioso, procurando sítios solitários que escondam a sua vergonha e uma raiva constantemente reprimida revelada pelo seu olhar sempre dirigido para um lugar definido.

Com alguma dificuldade e a relutância inicial do diretor, consegue um emprego como contínuo na escola primária local, a credibilidade da sua religiosa avó são o fator decisivo da aceitação na escola e Palmer esforça-se por corresponder, não se furtando a realizar os trabalhos solicitados seja de que natureza forem (não sei se isto corresponde á efetiva realidade dos USA mas se fosse na nossa terra haveria logo uma queixa do sindicato e mais um não sei quanto de contestação, pelas solicitações não incluídas na função).

No quintal da casa da sua avó existe uma rulote alugada (com rendas em falta) a uma mulher de conduta duvidosa, mãe de Sam (Ryder Allen), um miúdo em idade escolar, que apresenta caraterísticas sociais não conformes com o seu género. Aqui reside a marca diferenciadora desta história relativamente às suas congéneres, porque o facto de Sam ser adepto fervoroso de filmes de fadas e princesas, usar uma pregadeira de cabelo na cabeça, brincar com bonecas e fazer tardes de chá a fingir com as meninas da sua classe, não deixa de ser um miúdo por quem Palmer se afeiçoa, embora relutante no início, mas posteriormente rendido à sua inocência, fragilidade e necessidade de proteção que projeta a sua própria necessidade de aceitação num mundo que naturalmente lhe é hostil. Quando Palmer o conhece e priva com ele não pode imaginar como ele irá constituir a sua oportunidade de redenção social e aos olhos da lei.

Sam é apenas um miúdo diferente e o argumento de Cheryl Guerriero nunca se desvia dessa premissa ilustrando uma análise mais profunda e sombria sobre maternidade acidental, paternidade por adoção, abuso e bem estar da criança. Sam não permite que alguma coisa atrapalhe a sua diversão e gosto por princesas e fadas, nem se perturba com o bullying homofóbico dos seus colegas, perseguindo o modelo imposto pelos adultos que os educam. Palmer tenta educá-lo sobre o comportamento heteronormativo, mas o espírito de Sam é forte o suficiente para constituir uma fonte de inspiração para que Palmer possa evoluir para a pessoa que não foi até aqui mas que deseja ser.

A realização de Fisher Stevens é suficientemente robusta, embora com alguns desvios ornamentais de índole sentimental e serve na perfeição para que Timberlake nos mostre as suas capacidades de ator dramático, embora suportadas por um Sam (Ryder Allen), num personagem forte na sua fraqueza e ingenuidade que merece atenção em aparições futuras.

“Palmer” é assim uma história inspiradora sobre a expressão de género que aborda os desafios da idade adulta que as crianças enfrentam, como forma de influenciar os adultos a viverem a sua vida de forma mais autêntica, todavia, durante toda a narrativa ocorre-nos limites onde a história poderia ter chegado, mas não chega. Ainda assim, é um filme amplamente recomendável e interessante, disponível na Apple TV.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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