Sinopse
O ex-astro do futebol
americano Eddie Palmer (Justin Timberlake) passou de herói local a criminoso sendo
condenado a 12 anos numa penitenciária no estado da Louisiana. Quando volta
para casa fica a morar com Vivian (June Squibb), a avó que o criou. Enquanto
tenta manter sua cabeça baixa e reconstruir uma vida tranquila para si mesmo,
Palmer é assombrado pelas memórias de seus dias de glória e pelos olhos
desconfiados de sua pequena comunidade. As coisas ficam mais complicadas quando
Shelly (Juno Temple), vizinha de vida dura de Vivian, desaparece depois de uma
tortura prolongada, deixando seu único filho de 7 anos, Sam (Ryder Allen),
frequentemente alvo de bullying na
escola, sob os cuidados relutantes de Palmer. Em tempo, Palmer é atraído para
um mundo mais esperançoso enquanto estabelece uma ligação com Sam por meio da
experiência compartilhada de ser feito para se sentir diferente por aqueles ao
seu redor. Palmer começa a recuperar a sua vida quando um romance se desenvolve
entre ele e a professora de Sam, Maggie (Alisha Wainwright) constituindo uma
jornada inspiradora e inesperada para os três, mas logo o passado de Palmer
ameaça destruir esta nova vida.
Opinião
por Artur Neves
Palmer representa a
transição de um intérprete vocal e compositor de canções com assinalável
sucesso, para ator, desempenhando neste caso o personagem de um condenado por roubo
e agressão em liberdade condicional que chega à casa da sua avó para tentar
recompor a vida. Não se sabe exatamente qual foi a natureza e a motivação do
crime cometido que só nos será revelada posteriormente de forma não muito
relevante, porque o que interessa é o processo e o modo de recuperação deste
jogador de futebol universitário, de rosto fechado, silencioso, procurando
sítios solitários que escondam a sua vergonha e uma raiva constantemente
reprimida revelada pelo seu olhar sempre dirigido para um lugar definido.
Com alguma dificuldade e a relutância
inicial do diretor, consegue um emprego como contínuo na escola primária local,
a credibilidade da sua religiosa avó são o fator decisivo da aceitação na
escola e Palmer esforça-se por corresponder, não se furtando a realizar os trabalhos
solicitados seja de que natureza forem (não sei se isto corresponde á efetiva realidade
dos USA mas se fosse na nossa terra haveria logo uma queixa do sindicato e mais
um não sei quanto de contestação, pelas solicitações não incluídas na função).
No quintal da casa da sua
avó existe uma rulote alugada (com rendas em falta) a uma mulher de conduta
duvidosa, mãe de Sam (Ryder Allen), um miúdo em idade escolar, que apresenta
caraterísticas sociais não conformes com o seu género. Aqui reside a marca
diferenciadora desta história relativamente às suas congéneres, porque o facto
de Sam ser adepto fervoroso de filmes de fadas e princesas, usar uma pregadeira
de cabelo na cabeça, brincar com bonecas e fazer tardes de chá a fingir com as
meninas da sua classe, não deixa de ser um miúdo por quem Palmer se afeiçoa,
embora relutante no início, mas posteriormente rendido à sua inocência,
fragilidade e necessidade de proteção que projeta a sua própria necessidade de
aceitação num mundo que naturalmente lhe é hostil. Quando Palmer o conhece e
priva com ele não pode imaginar como ele irá constituir a sua oportunidade de redenção
social e aos olhos da lei.
Sam é apenas um miúdo diferente
e o argumento de Cheryl Guerriero nunca se desvia dessa premissa ilustrando uma
análise mais profunda e sombria sobre maternidade acidental, paternidade por
adoção, abuso e bem estar da criança. Sam não permite que alguma coisa
atrapalhe a sua diversão e gosto por princesas e fadas, nem se perturba com o bullying homofóbico dos seus colegas,
perseguindo o modelo imposto pelos adultos que os educam. Palmer tenta educá-lo
sobre o comportamento heteronormativo, mas o espírito de Sam é forte o suficiente
para constituir uma fonte de inspiração para que Palmer possa evoluir para a
pessoa que não foi até aqui mas que deseja ser.
A realização de Fisher
Stevens é suficientemente robusta, embora com alguns desvios ornamentais de
índole sentimental e serve na perfeição para que Timberlake nos mostre as suas
capacidades de ator dramático, embora suportadas por um Sam (Ryder Allen), num
personagem forte na sua fraqueza e ingenuidade que merece atenção em aparições
futuras.
“Palmer” é assim uma
história inspiradora sobre a expressão de género que aborda os desafios da
idade adulta que as crianças enfrentam, como forma de influenciar os adultos a
viverem a sua vida de forma mais autêntica, todavia, durante toda a narrativa ocorre-nos
limites onde a história poderia ter chegado, mas não chega. Ainda assim, é um
filme amplamente recomendável e interessante, disponível na Apple TV.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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