Sinopse
Durante uma viagem de
negócios do marido, Gam-hee encontra três amigas. Visita as duas primeiras nas
suas casas e a terceira encontra-a por acaso num cinema. Enquanto conversam
amigavelmente, como sempre, várias correntes fluem acima e abaixo da superfície
do mar.
Opinião
por Artur Neves
Este é um filme de mulheres,
sem história, apenas quatro mulheres com relações de amizade variáveis entre si
que se encontram na sequência de Gam-hee (Min-hee Kim) ficar temporariamente sozinha
como desde há cinco anos não se lembrava de ter estado.
Primeiro visita a sua amiga
mais chegada, Su-young (Seon-mi Song) onde almoça com ela e com a outra amiga Young-ji
(Eun-mi Lee) que faz o almoço e conversam as três sobre trivialidades da comida
e da vida. Após a saída de Young-ji convive com Su-young, comenta sobre a sua
vida de divorciada, sobre a casa que possui nos subúrbios de Seul, bem
arranjada, confortável, num prédio moderno com todas as necessidades de que se
pode lembrar. Confidencia-lhe também, que desde que casou com o seu marido nunca
se tinham separado até agora, por declarada preferência deste em estar com ela
todo o tempo enquanto ele desenvolvia a sua atividade literária de escritor e
tradutor em casa.
Ela revela-nos e à amiga,
não saber se aquilo é amor, ou o que é realmente, não quer pensar muito no
assunto e não lhe tinha tocado se a amiga não lhe tivesse perguntado tão
diretamente. Ambas continuam a conversar sobre assuntos quotidianos, sobre o
estado em que Su-young se encontra, divorciada, sozinha, a tomar conta do seu
jardim e sem outros desejos que não seja manter a sua situação inalterada,
embora sinta alguma curiosidade pelo vizinho do 2º andar, também aparentemente sozinho,
com quem se cruzou e falou com agrado no café local. Gam-hee passa a noite em
casa da amiga que a acolhe agradavelmente.
“A mulher que fugiu” aparece
nos diálogos entre as duas como sendo uma mulher da vizinhança que abandonou o
filho e o marido sem motivo aparente, apenas porque não suportava mais a sua existência
com a família que tinha criado e tinha optado por sair de casa para sítio incerto,
desconhecido, que lhe permitisse uma existência anónima.
No dia seguinte Gam-hee
despede-se da amiga e vai ao cinema onde encontra Young-soon (Young-hwa Seo) de
que ficamos a saber pela conversa entre as duas, não ser propriamente uma
amiga, mas antes a mulher que anos antes lhe tirou o namorado e casou com ele. Gam-hee
não está zangada com ela e esse evento é já uma memória nebulosa e longínqua,
todavia não sabe bem porque foi aquele cinema e ao bar do cinema, onde sabia
ser inevitável encontrar-se com ela e possivelmente também com ele. De facto
encontra-o nas traseiras fumando um cigarro, falam de trivialidades, não tocam
no passado e despedem-se, Gam-hee sai do cinema, anda uns passos pela rua e
volta para o cinema para acabar de ver o filme, cujas imagens na tela são as
últimas deste filme.
Se alguma coisa nos mostra
esta história (sem constituir realmente uma história mas antes o relato de um
intervalo de tempo) é sobre a forma como determinadas ações da nossa vida não
possuem uma razão explícita para serem executadas e se as fazemos, pode dever-se
ao remorso de uma amizade abandonada, ao despeito de uma amor perdido, à
curiosidade sobre um futuro que poderia ter sido o nosso, ou simplesmente, ao
tédio de uma presença aliviada por uma viagem de negócios. O amor do outro nem
sempre preenche o nosso vazio interior e a solidão pode significar uma independência
e uma autonomia há muito desejada. Gam-hee deve ter percebido estas duas
realidades simultaneamente, não sabemos se lhe dará o melhor dos usos.
Hong Sang-Soo, realizador
coreano de 60 anos dirige o filme fluentemente, com diálogos simples mas claros,
enquadramentos diretos aos personagens lineares que vivenciam as suas frustrações
sem contaminação emocional. Todo o ambiente é sóbrio, sem exageros mas com a qualidade
que qualificamos como inerente a uma vida normal. Não encanta, não arrebata,
não nos envolve (até porque a língua não nos é familiar) mas é agradável de ser
ver.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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