17 de dezembro de 2020

Opinião – “Im your Woman” de Julia Hart

Sinopse

Neste drama policial ambientado na década de 1970, uma mulher é forçada a fugir depois que seu marido trai seus parceiros, enviando-a com o seu bebé numa perigosa viagem de fuga sem destino fixo.

Opinião por Artur Neves

Como pode pensar-se pela sinopse o enredo deste filme é simples e direto, mas o seu verdadeiro mérito reside na forma como nos é contado tudo o que envolve esta mulher, Jean (Rachel Brosnahan) que a conhecemos em casa sozinha, até que que surge o marido, Eddie (Bill Heck) com uma criança ao colo e a deposita nos seus braços que a aceitam e abraçam com ar incrédulo e surpreendido. Percebe-se que são casados mas que a relação entre eles aparenta estar em “ponto morto” pelo acolhimento formal com que ela o recebe. Estamos em Pittsburgh, na década de 70, os modos dele são rudes e autoritários ao determinar o que ela tem de fazer a seguir, embora fiquemos a saber que anteriormente se apaixonaram, casaram e compraram aquela casa.

A partir daqui a história revela-se lentamente, contando-nos tudo o que temos de saber em cada situação chave, apresentando em primeiro lugar as consequências de eventos que não conhecemos e só posteriormente as causas que lhe deram origem. Eddie confirma-lhe que aquele é o bebé de ambos, ao que ela chocada, lhe pergunta o nome. Eddie entre o irritado e o ligeiramente ameaçador, responde-lhe sorrindo que essa será a sua tarefa, dar-lhe um nome por ser este o seu bebé. Entretanto somos informados que Jean já teve mais do que um aborto espontâneo e que ambos desistiram do sonho de ter um filho de sangue.

Jean escolhe o nome de Harry (Jameson Charles) para o bebé, apenas porque sim, enquanto se esforça por fazer dois ovos estrelados e uma torrada que se queima imprestavelmente, ao mesmo tempo que Eddie se reúne na sala de porta fechada com dois colegas sombrios. Todo o ambiente está carregado de tensão, o bebé chora copiosamente, ela mostra a sua total falta de jeito para a cozinha, que na moda dos anos 70 era pintada em cores fortes e com cores diferentes em cada parede, conferindo um aspeto quase surreal a toda a cena.

Com todas aquelas revelações de rompante, começamos a aceitar tudo como normal na esperança das explicações futuras, até à noite em que Eddy desaparece e um dos seus amigos bate à porta, entra em casa, mete $200 000 num saco e a manda sair rapidamente de casa com Cal (Arinzé Kene) que a espera no exterior com um carro para iniciarem a viagem de fuga que durará a maior parte dos 120 minutos de filme.

Julia Hart escreveu o argumento em conjunto com o seu marido Jordan Horowitz e ambos confirmam a sua ascendente carreira como cineastas com esta obra de suspense ligeiro (o suspense decorre das revelações de última hora que nos são prestadas) com diálogos simples mas concisos, numa história sinuosa que nos surpreende pela sua labiríntica construção, centrada no personagem de Jean, interpretado com segurança por Rachel Brosnahan que se apresenta em todo o filme à altura das circunstâncias que a história exige. Sóbria, determinada, bem adequada às exigências do personagem.

Outro tanto posso dizer de Teri (Marsha Stephanie Blake) como esposa de Cal, que entra na história e se torna em certa altura outra personagem central do processo de fuga de Jean, detentora do conhecimento de certas facetas totalmente desconhecidas de Jean que conduzem a múltiplos e definitivos desenvolvimentos na trapalhada criada por Eddy, que embora ausente não seixa de ser a causa última de todo aquele imbróglio. Teri é em última análise o despertar feminista e de tensão racial, em confronto com a passiva Jean, que por ignorância dos factos somente age em última instancia e desespero de causa.

“Im your Woman” (Eu sou a tua Mulher) pode ser visto na plataforma de streaming Amazon Prime Video, constituindo um thriller com laivos de noir dos anos 70, com boa aparência e história linear que nos surpreende até ao fim pela forma como é contada. Gostei e recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

 

Sem comentários: