Sinopse
Neste drama policial
ambientado na década de 1970, uma mulher é forçada a fugir depois que seu
marido trai seus parceiros, enviando-a com o seu bebé numa perigosa viagem de
fuga sem destino fixo.
Opinião
por Artur Neves
Como pode pensar-se pela
sinopse o enredo deste filme é simples e direto, mas o seu verdadeiro mérito
reside na forma como nos é contado tudo o que envolve esta mulher, Jean (Rachel
Brosnahan) que a conhecemos em casa sozinha, até que que surge o marido, Eddie
(Bill Heck) com uma criança ao colo e a deposita nos seus braços que a aceitam
e abraçam com ar incrédulo e surpreendido. Percebe-se que são casados mas que a
relação entre eles aparenta estar em “ponto morto” pelo acolhimento formal com
que ela o recebe. Estamos em Pittsburgh, na década de 70, os modos dele são rudes
e autoritários ao determinar o que ela tem de fazer a seguir, embora fiquemos a
saber que anteriormente se apaixonaram, casaram e compraram aquela casa.
A partir daqui a história
revela-se lentamente, contando-nos tudo o que temos de saber em cada situação chave,
apresentando em primeiro lugar as consequências de eventos que não conhecemos e
só posteriormente as causas que lhe deram origem. Eddie confirma-lhe que aquele
é o bebé de ambos, ao que ela chocada, lhe pergunta o nome. Eddie entre o
irritado e o ligeiramente ameaçador, responde-lhe sorrindo que essa será a sua
tarefa, dar-lhe um nome por ser este o seu bebé. Entretanto somos informados
que Jean já teve mais do que um aborto espontâneo e que ambos desistiram do
sonho de ter um filho de sangue.
Jean escolhe o nome de Harry
(Jameson Charles) para o bebé, apenas porque sim, enquanto se esforça por fazer
dois ovos estrelados e uma torrada que se queima imprestavelmente, ao mesmo
tempo que Eddie se reúne na sala de porta fechada com dois colegas sombrios. Todo
o ambiente está carregado de tensão, o bebé chora copiosamente, ela mostra a
sua total falta de jeito para a cozinha, que na moda dos anos 70 era pintada em
cores fortes e com cores diferentes em cada parede, conferindo um aspeto quase surreal
a toda a cena.
Com todas aquelas revelações
de rompante, começamos a aceitar tudo como normal na esperança das explicações
futuras, até à noite em que Eddy desaparece e um dos seus amigos bate à porta,
entra em casa, mete $200 000 num saco e a manda sair rapidamente de casa com
Cal (Arinzé Kene) que a espera no exterior com um carro para iniciarem a viagem
de fuga que durará a maior parte dos 120 minutos de filme.
Julia Hart escreveu o argumento
em conjunto com o seu marido Jordan Horowitz e ambos confirmam a sua ascendente
carreira como cineastas com esta obra de suspense
ligeiro (o suspense decorre das
revelações de última hora que nos são prestadas) com diálogos simples mas concisos,
numa história sinuosa que nos surpreende pela sua labiríntica construção,
centrada no personagem de Jean, interpretado com segurança por Rachel Brosnahan
que se apresenta em todo o filme à altura das circunstâncias que a história
exige. Sóbria, determinada, bem adequada às exigências do personagem.
Outro tanto posso dizer de Teri
(Marsha Stephanie Blake) como esposa de Cal, que entra na história e se torna
em certa altura outra personagem central do processo de fuga de Jean, detentora
do conhecimento de certas facetas totalmente desconhecidas de Jean que conduzem
a múltiplos e definitivos desenvolvimentos na trapalhada criada por Eddy, que
embora ausente não seixa de ser a causa última de todo aquele imbróglio. Teri é
em última análise o despertar feminista e de tensão racial, em confronto com a
passiva Jean, que por ignorância dos factos somente age em última instancia e
desespero de causa.
“Im your Woman” (Eu sou a
tua Mulher) pode ser visto na plataforma de streaming
Amazon Prime Video, constituindo um thriller
com laivos de noir dos anos 70, com
boa aparência e história linear que nos surpreende até ao fim pela forma como é
contada. Gostei e recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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