15 de novembro de 2020

Opinião – “Uma Pequena Mentira” de Julien Rappeneau

Sinopse

Theo (Maleaume Paquin) é um miúdo de 12 anos cheio de talento que joga num clube de futebol local. Tem grandes hipóteses de vir a ser profissional, mas também tem um pai que entrou numa espiral de autodestruição desde que se divorciou e começou a beber, o que o deixa ansioso e impotente. Theo recusa-se a desistir dele e quando chama a atenção de um olheiro de um clube inglês importante, vê aí uma oportunidade de dar um objetivo e alguma esperança ao pai.

No entanto, e apesar do esforço, Theo não é selecionado o que o leva a mentir ao pai, na esperança de o deixar feliz e orgulhoso, o que, de facto, acontece. Empenhado em ajudar o filho a agarrar “uma oportunidade única”, Laurent (François Damiens, o ator principal de A Família Belier) recupera o gosto pela vida e passa a acreditar no futuro feliz. Mas a mentira atinge proporções demasiado grandes e Theo perde o seu controlo…

Será que as mudanças que a vida de Theo e Laurent verificaram subsistem ao desmoronar desta pequena mentira?

Opinião por Artur Neves

Tal como o resumo descrito na sinopse, trata-se de uma história para toda a família visível numa altura em que não exista mesmo nada para fazer de mais dinâmico e interessante. O miúdo é um jeitoso com uma bola nos pés quando confrontado com o resto da sua equipa e da equipa adversária que o deixa jogar. Decorrente da sua baixa estatura seria fácil neutralizá-lo mas a história tem de seguir o seu curso e Theo lá consegue “botar” figura para gaudio do seu pai alcoólico, que não se cansa de lhe enaltecer as virtudes futebolísticas.

O clube é de aldeia e os adultos que o enquadram são simples, modestos e diretos à acção que os trás à cena, começando pelo treinador Claude (André Dussollier) que o trata como um filho, o chefe da equipa técnica Antoine (Sébastien Chassagne) que mostra mais interesse em apresentar os seus dotes culinários mal aprendidos num curso online, do que na situação física dos atletas e acabando no presidente do clube (Pierre Diot) que vê uma oportunidade de divulgação para o clube na mentira piedosa que Theo forjou, (sem o seu conhecimento) para não desiludir o seu pai como adepto e seu fan incondicional.

O pai de Theo, Laurent (François Damiens) é um homem desempregado, brigão, alcoólico, divorciado em guarda partilhada da custódia do filho, com a mãe que já constituiu outra família. É aqui que a história atinge algum dramatismo ao abordar um problema actual e cada vez mais frequente, gerador de conflitos emocionais nos filhos de pais divorciados e nos próprios pais como em Laurent que nunca mais foi o mesmo desde o divórcio.

A recusa do clube inglês, o Arsenal, em não contratar Theo por este ser baixo para a idade e fraco de físico, justifica a mentira de Theo que não tem coragem de dar mais esse desgosto ao pai. Todavia essa mentira é um incentivo para Laurent que na expectativa de o acompanhar em Inglaterra, deixa de beber, procura um emprego, e aluga uma casa para que o filho possa lá morar em condições adequadas á sua recente contratação pelo clube inglês. É a redenção de um homem desestruturado para mudar a sua condição de vida embora fundamentada numa mentira que ele e todos os outros, assumem como verdade.

Para manter a narrativa Theo tem de continuar a simulação com a ajuda de Max (Pierre Gommé) um miúdo com uma dependência patológica da Internet, que passa os dias em casa em jogos online e recusa-se a enfrentar o sol e o dia claro por receio de contaminação pelos ultravioletas. Theo pede-lhe ajuda ao mesmo tempo que o motiva a largar a sua clausura constituindo uma contribuição positiva para todos os casos em que esta patologia se torna incurável.

O filme esforça-se por nos mostrar o ponto de vista das crianças face a problemas que estão fora do seu alcance mas não tem força, nem motivação séria para nos empolgar ou entusiasmar com o enredo, ficando-se por uma história de bem-estar em que no final tudo se resolve.

Classificação: 4,5 numa escala de 10

 

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