Scott
(Pete Davidson) é um caso típico de “síndrome de Peter Pan” desde a morte do
seu pai, bombeiro, quando tinha 7 anos. Agora, com 20 e tal anos, e tendo
alcançado pouco ou nada, ele tem o, aparentemente inalcançável, sonho de se
tornar tatuador. A sua ambiciosa irmã mais nova (Maude Apatow) vai para a
Universidade, mas Scott continua a viver com a sua exausta mãe (Marisa Tomei),
enfermeira nos Cuidados Intensivos, passando os seus dias a fumar erva, nas
ruas com os amigos e em encontros secretos com Kelsey (Bel Powley), sua amiga
de infância.
Quando
a sua mãe começa a namorar com Ray (Bill Burr), um bombeiro fala-barato, este
relacionamento irá desencadear uma cadeia de acontecimentos que forçarão Scott
a enfrentar a sua dor e andar para a frente com a vida.
O elenco do filme inclui
ainda Steve Buscemi, como Papa, um bombeiro veterano que assume o papel de
protetor de Scott, e Pamela Adlon como Gina, a ex-mulher de Ray.
Opinião
por Artur Neves
A história deste filme é
baseada na vida de Scott Davidson, pai de Pete Davidson, um bombeiro incluído
no contingente de combate ao incêndio do World Trade Center em 11 de setembro
de 2001 que faleceu no desempenho da sua função e que é lembrado pela National
Fallen Firefighters como um homem corajoso, bom esposo e pai de família. A história
contada com humor, desvelo e humanidade por Judd Apatow, realizador americano
nascido em Nova Yorque pretende lembrar heróis anónimos que cuidam das nossas
vidas. Pete Davidson, o filho, é um homem de temperamento sofrido e
dolorosamente adorável que colaborou neste argumento semiautobiográfico em
homenagem ao seu pai.
Ele já entrou na idade
adulta mas continua meio perdido nos seus pensamentos e nos seus projetos de
futuro. Está a meio caminho entre ser tatuador ou outra coisa qualquer que o
mundo permita que ele seja. Situação semelhante é a que tem com a sua amiga de
infância Kelsey (Bel Powley), com quem mantém uma relação estranha
que ele próprio não sabe definir mas prefere que se mantenha assim para não ter
de assumir responsabilidades que o seu complexo de “Peter Pan” não lhe recomenda.
Pete tem amigos com quem
fuma maconha e faz projetos que não cumprirá porque no fundo ele tem bom íntimo
e foi bem educado pela sua família que lhe inculcou os preceitos da ordem e da
honestidade que ele segue sempre que pode, isto é, sempre que o medo de ser
preso ou de ser admoestado pela mãe fala mais alto do que os desejos desviantes
que o consomem.
A sua saúde é fraca e a sua clarividência
mental nunca tiveram melhores dias, o que lhe permite aproveitá-las como justificação
para a sua inércia e para a sua incapacidade geral. Todos estes problemas se
agravam quando a sua mãe Margie Carlin (Marisa Tomei) começa a namorar Ray (Bill
Burr) como consequência de um problema que ele próprio gerou na sua ânsia de praticar
a profissão de tatuador. Todos os seus amigos já foram tatuados por ele e não
estão completamente satisfeitos com os resultados porque ele ainda está em auto
aprendizagem e as suas tatuagens apresentam defeitos.
Toda a história é uma sequência
de avanços e recuos da vida de Scott Carlin para a qual o ator Pete Davidson
foi sem dúvida uma boa escolha com o seu corpo esguio, os olhos esbugalhados e
a sua face de espanto nas situações mais vulgares. A história tem um
desenvolvimento lento que nos permite interiorizar todo a confusão e sofrimento
na mente daquele adulto jovem que não sabe como afirmar-se, criar o seu espaço
e crescer.
O filme apresenta-nos assim um
relato na primeira pessoa, muito franco e honesto do que pode acontecer à
estabilidade de uma família na sequência de uma tragédia. Tem ainda a vantagem
de não cair na lamechice, embora conte uma história triste e por vezes
deprimente que embora não sendo inédita, está bem contada com um humor triste
mergulhado em solidão.
Vale a pena assistir a
partir nas salas de Lisboa a partir de 20 de agosto
Classificação: 6,5 numa
escala de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário