30 de julho de 2020

Opinião – “A Nota Perfeita” de Nisha Ganatra


Sinopse

No mundo deslumbrante de Los Angeles, Grace Davis (Tracee Ellis Ross), é uma diva com talento e ego imensuráveis.

Maggie (Dakota Johnson) é a sua assistente pessoal, sobrecarregada de trabalho, mas que não desiste do seu sonho de infância de se tornar produtora musical. Quando o manager de Grace, Jack (Ice Cube), lhe apresenta uma proposta que pode colocar um ponto final na sua carreira, Maggie e Grace elaboram um plano para reinventar as suas vidas...

Opinião por Artur Neves

Há vários filmes sobre os bastidores do mundo do “show bis” sendo o último que mais deu nas vistas por merecer um prémio da academia americana, o remake de “A Star is Born” em 2018 “Assim nasce uma Estrela”, em que Lady Gaga e Bradley Cooper deram corpo a um tórrido romance dentro e fora do ecrã cujos ecos ainda não se apagaram de todo. É um verdadeiro filme de multidões muito menos autêntico do mundo real por detrás do espectáculo que este nos mostra, destacando a voz poderosa de Tracee Ellis Ross (filha de Diana Ross) e recuperando Dakota Johnson, (filha de Don Johnson) cujo talento está muito para lá do que “As Cinquenta Sombras de Gray” e seus derivados, poderiam revelar e isso pode também apreciar-se neste personagem omnipresente de Maggie.

Grace Davis é a grande diva que no auge do seu sucesso sabe que está a atingir o ponto de inflexão da carreira de superstar na medida em que depende dos êxitos antigos que constituíram hits no seu percurso. Grace sabe isso e Jack, o seu manager, também sabe que a seguir virá o declínio igualmente nocivo para ambos pela redução do cash flow correspondente à diminuição dos contratos e à grandeza dos espectáculos futuros pelo que lhe propõe o princípio do fim com a segurança de um contrato fixo num casino de Vegas onde só terá de atuar alguns dias por semana dentro de um programa previamente estabelecido.

O caminho não é fácil, nem existem atalhos para se cumprir o sonho. Maggie trabalha para uma diva egoísta, que ocupa o topo como se este lhe pertencesse por direito. Jake também sente a encruzilhada, entre continuar com a rotina de um trabalho que já conhece ou sair da sua zona de conforto para tentar algo novo.

Neste seu plano Jack esquece-se de Maggie que tem planos pessoais e agenda própria para se tornar num produtor musical e potenciar o talento emergente de David Cliff (Kelvin Harrison Jr.) com quem ela mantém um romance em início e um amor que crescerá na direta medida das suas capacidades de futuro. E é aqui que este filme se distingue consideravelmente de “Assim nasce uma Estrela”. Neste mundo musical anda tudo ligado; carreira, afetos, dinheiro, futuro e só se conseguem conciliar objetivos, com planos cheios de vontade, capacidade de lutar e inspiração. Os outros nem sempre são os melhores parceiros quando a experiência é escassa o os conselhos são para desistir. É a altura de excelência para acreditar.

É aqui que esta história de Flora Greeson, realizada por Nisha Ganatra realizadora canadiana descola do romance fácil e da lamecha e o filme torna-se na história de Maggie, impulsionando o aparecimento dos produtores musicais que faltam ao negócio não escondendo que as relações românticas entre o produtor e o artista que este está produzindo, ao invés de facilitarem o êxito, podem transformar-se em embaraços que conduzem a prejuízos não só financeiros como emocionais. Neste ponto o filme não ilude nem mente.

 “A Nota Perfeita” conta uma história original sobre os bastidores e o funcionamento do negócio da música e tem ainda a vantagem de nos elucidar com pormenores sobre Beach Boys, Stevie Nicks, Bruce Springsteen e outros, com reflexões sobre as carreiras e os percursos artísticos destes nomes famosos enquanto nos delicia ao som dos seus maiores êxitos, tornando-se uma história sobre música, amor e amizade constituindo a fuga perfeita ao mundo real do vírus e dos riscos da pandemia que nos assola. Se o leitor é versado em temas musicais vai ficar algum tempo a lembrar-se destas músicas, para lá da excelente voz de Tracee Ellis Ross que eu nem conhecia, por defeito próprio, obviamente. Recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

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