21 de julho de 2020

Opinião – “Judy & Punch – Amor e Vingança” de Mirrah Foulkes


Sinopse

Na anárquica cidade de Seaside, os marionetistas Judy e Punch tentam revitalizar o seu espetáculo de marionetes. O espetáculo torna-se um sucesso, graças à elevada mestria de Judy (Mia Wasikowska), enquanto manipuladora de marionetas, mas a desmedida ambição de Punch (Damon Herriman) e a sua propensão para abusar do whisky acabam por provocar uma inevitável tragédia, da qual Judy procurará vingar-se.

Nesta visceral e dinâmica reinterpretação em live-action da famosa peça de marionetas do século XVI, a realizadora e argumentista Mirrah Foulkes dá uma reviravolta na história tradicional de Punch e Judy, juntando-lhe uma forte componente de crítica social e criando uma história de vingança, feroz e sombria mas ao mesmo tempo cómica e épica, com Mia Wasikowska e Damon Herriman nos principais papéis.

Opinião por Artur Neves

Como primeira obra de realização e de escrita do argumento de Mirrah Foulkes, esta atriz que conta entre as suas obras de representação mais emblemáticas, a personagem de Sophie em “Beleza Oculta” de 2012, apresenta-nos aqui uma história de fantasia que recupera os “Punch and Judy” que surgiram na tradição da comédia dell’arte do século XVI em Itália, como forma de contar uma realidade da época que se cingia à supremacia do marido sobre a esposa e ao seu direito feudal sobre ela, constituindo essa prática o motivo central de diversão para gáudio de uma população inculta, com preconceitos atávicos e crenças seguras no poder da bruxaria sob qualquer forma que o feitiço lhe fosse apresentado.

Assim este filme de Mirrah Foulkes, que foi estreado no festival de Sundance traz-nos Punch e Judy os clássicos fantoches brigões que existem pelo menos desde 1600, a exibirem-se na cidade de Seaside, donde é totalmente impossível ver o mar, ou qualquer mar, numa comédia intrigante e sombria em que a alteração da justaposição dos nomes não é acidental mas antes, essa sim, a vingança de Judy sobre Punch, depois de séculos da supremacia de Punch.

É aqui, que Judy e Punch, casados, depois de Judy se ter apaixonado por Punch na sua primeira passagem na cidade, agora com uma filha e morando na casa de Judy que ficou aos cuidados do casal de servos que a criaram, que tentam restabelecer o seu show de marionetas, encenando um teatro medieval, onde uma multidão ululante de espectadores nem sempre deixava sair vivos, os atores ou performers de qualquer outra arte.

A representação não é mais do que o tradicional Punch & Judy, onde na maior parte do tempo o boneco de Punch surra desalmadamente o boneco de Judy e na realidade ele é um bêbado e um falhado querendo arvorar-se no maior marionetista do mundo, enquanto Judy é o cérebro e o talento do espetáculo que antes de fazer a apresentação tem de cuidar das necessidades da filha pequena de ambos e deixar que Punch brilhe em palco e se embebede em casa.

A história do filme oscila entre Shakespeare e Dickens, composta por rufiões, povo crédulo e inculto, vendedores de batata e um polícia incipiente Mr. Frankly (Tom Budge) que representa uma emergente ordem policial que ainda não se sabe impor naquela sociedade desordenada. Todo o filme desenrola-se num mundo próprio que nos proporciona um conto de fadas bizarro e revisionista sobre os bastidores das histórias de marionetas, brutal e elementar.

O próprio sentido humor da história alimenta-se da violência cómica que tradicionalmente está ligada a Punch e Judy, exceto nos heréticos, o povo expulso de Seaside que formou uma comunidade na floresta e que salvou Judy da morte após uma violenta tareia de Punch. A Drª Feelgood (Gillian Jones), líder da comunidade, insiste com Judy que é melhor ela fugir do que tentar combater o patriarcado reinante em Seaside, mas Judy quer vingar a morte da sua menina e como tal não desiste de fazer justiça.

Tem elementos curiosos sobre a tradição do espetáculo de marionetas e um humor sombrio sobre realidades medievais horríveis, mas para Foulkes constitui uma estreia promissora e como tal merece ser vista.

Estreia a 30 de Julho nos cinemas NOS

Classificação: 6 numa escala de 10

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