Sinopse
Na
anárquica cidade de Seaside, os marionetistas Judy e Punch tentam revitalizar o
seu espetáculo de marionetes. O espetáculo torna-se um sucesso, graças à
elevada mestria de Judy (Mia Wasikowska), enquanto manipuladora de marionetas,
mas a desmedida ambição de Punch (Damon Herriman) e a sua propensão para abusar
do whisky acabam por provocar uma inevitável tragédia, da qual Judy procurará
vingar-se.
Nesta visceral e dinâmica
reinterpretação em live-action da famosa peça de marionetas do século XVI, a
realizadora e argumentista Mirrah Foulkes dá uma reviravolta na história
tradicional de Punch e Judy, juntando-lhe uma forte componente de crítica
social e criando uma história de vingança, feroz e sombria mas ao mesmo tempo
cómica e épica, com Mia Wasikowska e Damon Herriman nos principais papéis.
Opinião
por Artur Neves
Como primeira obra de
realização e de escrita do argumento de Mirrah Foulkes, esta atriz que conta
entre as suas obras de representação mais emblemáticas, a personagem de
Sophie em “Beleza Oculta” de 2012, apresenta-nos aqui uma história de fantasia
que recupera os “Punch and Judy” que surgiram na tradição da comédia dell’arte do século XVI em Itália, como
forma de contar uma realidade da época que se cingia à supremacia do marido
sobre a esposa e ao seu direito feudal sobre ela, constituindo essa prática o
motivo central de diversão para gáudio de uma população inculta, com preconceitos
atávicos e crenças seguras no poder da bruxaria sob qualquer forma que o feitiço
lhe fosse apresentado.
Assim este filme de Mirrah Foulkes,
que foi estreado no festival de Sundance traz-nos Punch e Judy os clássicos
fantoches brigões que existem pelo menos desde 1600, a exibirem-se na cidade de
Seaside, donde é totalmente impossível ver o mar, ou qualquer mar, numa comédia
intrigante e sombria em que a alteração da justaposição dos nomes não é
acidental mas antes, essa sim, a vingança de Judy sobre Punch, depois de
séculos da supremacia de Punch.
É aqui, que Judy e Punch,
casados, depois de Judy se ter apaixonado por Punch na sua primeira passagem na
cidade, agora com uma filha e morando na casa de Judy que ficou aos cuidados do
casal de servos que a criaram, que tentam restabelecer o seu show de marionetas, encenando um teatro
medieval, onde uma multidão ululante de espectadores nem sempre deixava sair vivos,
os atores ou performers de qualquer
outra arte.
A representação não é mais
do que o tradicional Punch & Judy, onde na maior parte do tempo o boneco de
Punch surra desalmadamente o boneco de Judy e na realidade ele é um bêbado e um
falhado querendo arvorar-se no maior marionetista do mundo, enquanto Judy é o
cérebro e o talento do espetáculo que antes de fazer a apresentação tem de
cuidar das necessidades da filha pequena de ambos e deixar que Punch brilhe em
palco e se embebede em casa.
A história do filme oscila
entre Shakespeare e Dickens, composta por rufiões, povo crédulo e inculto,
vendedores de batata e um polícia incipiente Mr. Frankly (Tom Budge) que
representa uma emergente ordem policial que ainda não se sabe impor naquela
sociedade desordenada. Todo o filme desenrola-se num mundo próprio que nos
proporciona um conto de fadas bizarro e revisionista sobre os bastidores das
histórias de marionetas, brutal e elementar.
O próprio sentido humor da história
alimenta-se da violência cómica que tradicionalmente está ligada a Punch e
Judy, exceto nos heréticos, o povo expulso de Seaside que formou uma comunidade
na floresta e que salvou Judy da morte após uma violenta tareia de Punch. A Drª
Feelgood (Gillian Jones), líder da comunidade, insiste com Judy que é melhor
ela fugir do que tentar combater o patriarcado reinante em Seaside, mas Judy
quer vingar a morte da sua menina e como tal não desiste de fazer justiça.
Tem elementos curiosos sobre
a tradição do espetáculo de marionetas e um humor sombrio sobre realidades
medievais horríveis, mas para Foulkes constitui uma estreia promissora e como
tal merece ser vista.
Estreia a 30 de Julho nos
cinemas NOS
Classificação: 6 numa escala
de 10
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