22 de julho de 2020

Opinião – “Capone” de Josh Trank


Sinopse

Al Capone (Tom Hardy), um cruel empresário e contrabandista de bebidas que governou Chicago com mão de ferro, foi o gangster mais famoso e temido na história dos EUA. Aos 47 anos, após quase uma década na prisão, a demência deteriora a mente de Capone, e o seu passado torna-se presente.

Memórias angustiantes das suas origens violentas e brutais fundem-se com a sua vida real. Enquanto passa o seu último ano rodeado pela família, com o FBI à espreita, o debilitado patriarca luta para se recordar da localização dos milhões de dólares que escondeu na sua propriedade.

Baseado em factos verídicos, CAPONE conta a história nunca antes contada dos últimos dias da vida do mais famoso gangster da história.

Opinião por Artur Neves

Al Capone (Alphonse Gabriel Capone de seu nome, também conhecido por Scarface) é o biopic do seu último ano de vida que nos é apresentado por Josh Trank, um realizador americano nascido na California que foi particularmente feliz com o seu “Quarteto Fantástico” de 2012 e a sua série pata TV “The Kill Point” em 2007 mas que neste filme apresenta algumas inconsistências.

“Capone” é assim interpretado por Tom Hardy, no último ano da sua vida na sua sumptuosa propriedade em Palm Island, Flórida, desgastado pela doença contraída na juventude, a neuro sífilis, que lhe provoca alucinações mentais e memórias sombrias de festas luxuosas e visões loucas que constituem a narrativa principal do filme, já que, com um homem incontinente, fisicamente inválido, vago de cérebro e super protegido pela família mais próxima, quase nada pode acontecer que suporte a história que este filme pretende contar.

Tom Hardy é sempre competente no seu desempenho e de acordo com o argumento constrói um personagem demente e sólido na sua loucura, permanentemente agarrado a um charuto que segura no canto da boca que posteriormente é substituído por um toco de cenoura, por recomendação médica após a ocorrência de um derrame cerebral num dos seus desvarios de loucura violenta. A caraterização faz de Hardy um homem pálido, com o rosto marcado por cicatrizes, com vários quilogramas em excesso, flácido, que mastiga charutos e balbucia palavras sem sentido com uma voz que parece de um sapo alojado na sua garganta.

Até aqui tudo bem, o pior começa no enquadramento desta figura que representa os resquícios de si própria, cada vez mais delirante, manifestando visões aterradoras que o filme recria em flashbacks sucessivos, por vezes algo confusos relativamente aos motivos, períodos de vida e aos personagens envolvidos.

Para tentar manter o suspense o argumento serve-se do esquecimento de Capone sobre o local onde terá escondido dez milhões de dólares resultantes da sua atividade criminosa, que ele cita frequentemente como objetivo e o FBI mantém agentes escutando as suas conversas telefónicas e os seus movimentos. Outro caso é o de um filho bastardo que lhe telefona algumas vezes, sem falar, deixando no ar uma promessa de revelação. Só que a história apenas os cita inconsequentemente e rapidamente para logo os abandonar deixando cair os elementos que poderiam ser reveladores de outra realidade atualmente inexistente.

Josh Trank, poderia assim abrir a história para eventos hiperbolicamente concebidos se fecharem na realidade inválida de um homem que sucumbe à sua loucura, mas em vez disso prefere investir no espetáculo que usou nos “Quatro Fantásticos”, apresentando o artifício visionário e a fúria subjetiva de um homem doente em conflito consigo próprio como o agente do vazio de razões em que a história mergulha, concebida por uma mente em colapso, segundo o qual nenhum argumento pode fazer sentido.

O real problema porém, não reside na dependência da fantasia alucinada de Capone mas na conceção estreita e limitada do realizador que ao cingir-se às suas reminiscências confusas e distorcidas sem as conotar com os seus momento anteriores de grandeza e felicidade, afoga a história nas insuficiências de um homem em declínio que só por si não é motivo suficiente para justificar o filme. É pena… Tom Hardy vê-se com gosto.

Classificação: 5 numa escala de 10

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