Sinopse
Al Capone (Tom Hardy), um cruel empresário e contrabandista de bebidas que governou Chicago com mão de ferro, foi o gangster mais famoso e temido na história dos EUA. Aos 47 anos, após quase uma década na prisão, a demência deteriora a mente de Capone, e o seu passado torna-se presente.
Memórias angustiantes das suas origens violentas e brutais fundem-se com a sua vida real. Enquanto passa o seu último ano rodeado pela família, com o FBI à espreita, o debilitado patriarca luta para se recordar da localização dos milhões de dólares que escondeu na sua propriedade.
Baseado em factos verídicos, CAPONE conta a história nunca antes contada dos últimos dias da vida do mais famoso gangster da história.
Opinião por Artur Neves
Al Capone (Alphonse Gabriel
Capone de seu nome, também conhecido por Scarface) é o biopic do seu último ano de vida que nos é apresentado por Josh
Trank, um realizador americano nascido na California que foi particularmente
feliz com o seu “Quarteto Fantástico” de 2012 e a sua série pata TV “The Kill
Point” em 2007 mas que neste filme apresenta algumas inconsistências.
“Capone” é assim
interpretado por Tom Hardy, no último ano da sua vida na sua sumptuosa
propriedade em Palm Island, Flórida, desgastado pela doença contraída na
juventude, a neuro sífilis, que lhe provoca alucinações mentais e memórias
sombrias de festas luxuosas e visões loucas que constituem a narrativa
principal do filme, já que, com um homem incontinente, fisicamente inválido, vago
de cérebro e super protegido pela família mais próxima, quase nada pode
acontecer que suporte a história que este filme pretende contar.
Tom Hardy é sempre
competente no seu desempenho e de acordo com o argumento constrói um personagem
demente e sólido na sua loucura, permanentemente agarrado a um charuto que
segura no canto da boca que posteriormente é substituído por um toco de cenoura,
por recomendação médica após a ocorrência de um derrame cerebral num dos seus
desvarios de loucura violenta. A caraterização faz de Hardy um homem pálido,
com o rosto marcado por cicatrizes, com vários quilogramas em excesso, flácido,
que mastiga charutos e balbucia palavras sem sentido com uma voz que parece de
um sapo alojado na sua garganta.
Até aqui tudo bem, o pior
começa no enquadramento desta figura que representa os resquícios de si
própria, cada vez mais delirante, manifestando visões aterradoras que o filme
recria em flashbacks sucessivos, por
vezes algo confusos relativamente aos motivos, períodos de vida e aos
personagens envolvidos.
Para tentar manter o suspense o argumento serve-se do
esquecimento de Capone sobre o local onde terá escondido dez milhões de dólares
resultantes da sua atividade criminosa, que ele cita frequentemente como
objetivo e o FBI mantém agentes escutando as suas conversas telefónicas e os
seus movimentos. Outro caso é o de um filho bastardo que lhe telefona algumas
vezes, sem falar, deixando no ar uma promessa de revelação. Só que a história
apenas os cita inconsequentemente e rapidamente para logo os abandonar deixando
cair os elementos que poderiam ser reveladores de outra realidade atualmente
inexistente.
Josh Trank, poderia assim
abrir a história para eventos hiperbolicamente concebidos se fecharem na
realidade inválida de um homem que sucumbe à sua loucura, mas em vez disso
prefere investir no espetáculo que usou nos “Quatro Fantásticos”, apresentando
o artifício visionário e a fúria subjetiva de um homem doente em conflito
consigo próprio como o agente do vazio de razões em que a história mergulha,
concebida por uma mente em colapso, segundo o qual nenhum argumento pode fazer
sentido.
O real problema porém, não
reside na dependência da fantasia alucinada de Capone mas na conceção estreita e
limitada do realizador que ao cingir-se às suas reminiscências confusas e
distorcidas sem as conotar com os seus momento anteriores de grandeza e
felicidade, afoga a história nas insuficiências de um homem em declínio que só
por si não é motivo suficiente para justificar o filme. É pena… Tom Hardy vê-se
com gosto.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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