14 de julho de 2020

Opinião – “Clube dos Divorciados” de Michaël Youn


Sinopse

Após 5 anos de casamento, Ben (Arnaud Ducret) continua apaixonado pela mulher. Até o dia em que descobre, em público, que a mulher anda a traí-lo: além de humilhado, é descartado! Totalmente desanimado e evitado pelos amigos, Ben luta para não soçobrar, até que um dia se cruza com um antigo amigo, Patrick (François-Xavier Demaison) que também está divorciado e lhe propõe que vá viver para sua casa. Ao contrário de Ben, Patrick pretende tirar proveito do celibato recuperado e de todos os prazeres a que renunciou durante o casamento. Aos dois amigos depressa se juntam outros divorciados (Audrey Fleurot, Michaël Youn ...) e os foliões quarentões redigem as primeiras regras do "Clube dos Divorciados", sendo que a primeira delas é viver em permanente FESTA.

Opinião por Artur Neves

O cinema francês sempre se socorreu de particularidades identitárias nas abordagens temáticas que se caraterizam pela simplificação, por vezes espetacular, com que aborda temas sérios que destroem a estabilidade emocional das pessoas envolvidas, que neste caso se reporta ao divórcio e às estratégias utilizadas para ultrapassar as sequelas emergentes.

É o caso desta história em que Ben é confrontado em público, com a traição da sua mulher em presença de amigos e desconhecidos que entre graçolas, desculpas piedosas, e censuras, estigmatizam-no com o ónus do deixado, do abandonado, do preterido por incompetência inerente no cumprimento das suas atribuições.

Numa abordagem real, isto pode ser um trauma dificilmente ultrapassável, no “Clube do Divorciados” é apenas o motivo justificativo para a desbunda, para dar a volta, para a recuperação completa do trauma, que assim se ultrapassa, sem drama nem trauma, nem sequelas de baixa auto estima, considerando que a solução encontrada é fazer tudo o que apetece, sempre que apetece, com quem apetece e está para aí virado(a).

A ideia inicial do filme fundamenta-se num caso próximo de Michaël Youn, (que interpreta na história o personagem de Tiiti) um realizador Francês que já conta com duas comédias de êxito no seu CV, que se passou na vida pessoal do produtor Clément Miserez num caso de separação conjugal, que para lá da dor sentimental lhe permitiu viver algumas situações anedóticas sobre o assunto, através dos cruzamentos que a situação teceu. Daí até ao argumento desta comédia, passaram três anos a lamber feridas e a organizar todo o elenco que de preferência deveria ter alguma “experiência” no tema.

O cinema á francesa é isto mesmo, começar com um drama e através da farsa e da comédia recuperar as motivações profundas do amor que se atenuam com do passar do tempo e permitem inserir a amizade e a ideia de perdão, compreensão, companheirismo especialmente quando há filhos partilhados completamente inocentes relativamente ao turbilhão onde caíram. Tornar o filho do casal interesseiro e ardiloso, quase déspota, já faz parte das múltiplas direções que a comédia pode adquirir.

A principal direção é contudo o regozijo em ser celibatário, estar só, não ter ninguém a criticá-lo, poder ficar duas horas na casa de banho a fazer o que quiser, jogar por exemplo, sem qualquer constrangimento de ainda não ter ido comprar o pão para o pequeno almoço. Estabelecer compromissos a qualquer hora e simplesmente divertir-se sem remorso.

E assim o filme flui durante 108 minutos intercalando cenas de verdadeira anedota e outros mais explosivos do ponto de vista comportamental e musical mas que ainda assim se aceitam pela multiplicidade de personagens que se incluem naquela casa de celibatários masculinos e femininos, todos à procura do berço de onde caíram, porque a principal cauda do divórcio é… sempre… o casamento!... essa instituição social cuja principal utilidade consiste em reduzir o número de declarações IRS entregues anualmente.

Uma história engraçada, algo espalhafatosa por vezes, que nos diverte e surpreende, em exibição nos cinemas NOS a partir de 23 de Julho.

Classificação: 6 numa escala de 10

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