Sinopse
Vic, um jovem desafortunado
russo-americano, conduz uma carrinha de transporte de pessoas incapacitadas em
Milwaukee. Já atrasado, num dia em que começam protestos, e à beira de ser
despedido, concorda, relutantemente, em levar o avô e vários idosos russos a um
funeral. Quando pára num bairro predominantemente afro-americano para ir buscar
Tracy, uma jovem com esclerose lateral amiotrófica, o dia de Vic vai de mau a
pior.
Opinião
por Artur Neves
Esta é mais uma obra apresentada
no festival de Sundance Film Festival
de 2019, essa montra generosa que privilegia filmes de baixo orçamento e
produção independente, fundada em Agosto de 1978 por Robert Redford, na capital
do estado do Utah, a cidade de Salt Lake City tendo cumprido até agora os
objetivos propostos, apresenta-nos esta história dirigida por Kirill
Mikhanovsky, um realizador russo que se inspirou nos seus tempos iniciais como
emigrante em Milwaukee, em 1993, onde serviu como motorista de transporte de
pessoas com deficiência, e se confrontou com situações caricatas mas de elevado
conteúdo humanista que agora, num tom habilidosamente ligeiro transportou para
cinema.
Vic (Chris Galust) está num
dia complicado pelo atraso que já regista na sua volta programada devido a
diversas manifestações públicas contra a ocorrência de um tiroteio policial num
bairro negro, que o fazem procurar alternativas ao percurso estabelecido. Não obstante,
os imigrantes russos que moram no prédio onde ele visita o seu avô, pedem-lhe
para os levar ao cemitério para as exéquias de um falecido que pertencia à
comunidade. Vic sabe que o transporte que os devia levar já sofre um
significativo atraso pelo que ele assume mais essa tarefa de transportar o
grupo.
A habilidade de Mikhanovsky
leva-o a pegar em pessoas deficientes reais, membros da comunidade russa
imigrante de Milwaukee, frequentadores regulares do Eisenhower Center da cidade,
incluídos num grupo de apoio de pessoas com deficiência e transforma-os em
atores que exibem com a genuinidade inerente os seus medos, fragilidades e
carências que compõem esta comédia, refinadamente caótica e imprevisível.
São pessoas despojadas do glamour do palco que exibem as suas
carências naturais de atenção, excesso de solidão e prioridades avulsas, mostrando
com o realismo rústico da sua existência as dificuldades levantadas numa
viagem, num dia particularmente intenso e frio do inverno do Wisconsin.
Vic tem de seguir, embora
remotamente, o plano estabelecido pela empresa de transporte onde trabalha, as
coisas já estão a correr suficientemente mal com o seu patrão para que ele,
sempre que é contactado por este, refira que se encontra a 10 minutos do
destino, quando em boa verdade, devido às alternativas de percurso que tem de
encontrar, seja impossível calcular o tempo em falta.
A “cereja no topo do bolo” é
Tracy (Lauren “Lolo” Spencer) que num desempenho digno de registo se assume
como defensora de pessoas com deficiência tendo obrigações de horário a cumprir
para ajudar um amigo, Steve (Steve Wolski), que vai a uma entrevista de emprego.
Por outro lado quem mais ajuda Vic e desestabiliza o grupo, é um pugilista
russo, desempregado, barulhento e brigão, Dima (Maxim Stoianov) que entra em
conflito com Tracy, portadora de ELA e tem de manobrar a sua cadeira de rodas
motorizada, no interior de uma carrinha lotada de pessoas que reclamam,
protestam e cantam canções folclóricas russa acompanhadas por um acordeão que
rouba espaço necessário à cadeira de rodas.
É mais um filme sem heróis,
que se desenvolve notavelmente pela sua autenticidade. A deficiência não é
usada como lamentação de pessoas incapazes e incompletas ou como compensação
moral da ajuda prestada pelas pessoas saudáveis. Mikhanovsky, a maior parte do
tempo de câmara na mão, assume o compromisso de mostrar um nicho de sociedade
marginalizada, cujas reflexões sobre a vida e o amor recentram a história em
padrões comuns que proporcionam lindos momentos de tranquilidade e repouso
naquela atribulada viagem.
Disponível na plataforma
Netflix desde 12 de maio. Muito interessante.
Classificação: 6 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário