Sinopse
Georges, recentemente
divorciado, sente uma enorme dificuldade em adaptar-se à nova vida. A enfrentar
uma espécie de crise existencial, esforça-se por ultrapassar a angústia que
teima em não passar. Um dia, compra um casaco de camurça numa loja em segunda
mão. O que vem a descobrir assim que o veste é que esse casaco concede
estranhos poderes ao seu proprietário. Obcecado com a nova peça de vestuário,
Georges muda radicalmente a forma de ver e sentir o mundo.
Opinião
por Artur Neves
Quentin Dupieux é um
realizador francês nascido em 1974 do qual, quase conheço uma sua realização de
2010; “Rubber – Pneu”. Se digo que “quase conheço”, é porque contactei com ele
num videoclube, aluguei o videograma, comecei a vê-lo e ao constatar que se
tratava da história de um pneu filósofo!… sim, um pneu que falava e que tinha
vida própria rolando sozinho, acorreram-me imediatamente outras ideias de
coisas mais uteis para fazer e interrompi o visionamento cerca de 15 minutos
após o seu início. Devolvi o DVD e nunca mais pensei no assunto.
Nesta fase de confinamento
em que procuramos ocupações para o tempo em excesso dei de caras na plataforma
FILMIN com este “Le Daim” de 2019, no título original, escrito e realizado pelo
mesmo senhor Quentin Dupieux e em consideração aos atores; Jean Dujardin e Adèle
Haenel, de quem tenho algumas boas referências noutras interpretações, resolvi
conferir-lhe o benefício da dúvida prometendo a mim próprio assistir a todos os
77 minutos de duração do filme.
Georges (Jean Dujardin) que
só de raspão sabemos que ele é um divorciado recente (pelo desenrolar da
história e do seu comportamento assumimos que a senhora terá tido todas as
razões para se separar deste maluco) tem uma fixação intelectual num blusão de
camurça com franjinhas, umas tiras fininhas também de camurça que pendem da
parte de cima do peito, das costas e das mangas, com quem ele fala, tece
considerações filosóficas sobre a sua aparência vestido com ele frente ao
espelho e se propõe torná-lo o único blusão “vivo” através da liminar
destruição de todos os blusões com que ele se cruze ao chegar aquela pequena
cidade do interior americano, de carro, vindo não se sabe de onde nem porquê.
Ao chegar aqui lembrei-me
logo do pneu a rolar isolado pela estrada e a comentar a sua existência, mas
continuei a ver o filme, pois afinal tinha formulado um compromisso para 77
minutos o que até nem é muito…
Georges, porém, tem ainda
outra fixação, assume-se como realizador de cinema para o que empunha
constantemente uma máquina de filmar, uma Handycam da Sony de uso doméstico (pelo
que me pareceu) e com ela motiva Denise (Adèle Haenel) a formar uma equipa de
filmagem, depois de esta, na receção do hotel em que se alojou, lhe ter confessado
que também gostava muito de cinema e tinha propensão para editora de filmes e
que a atividade de edição preenchia completamente a sua veia artística.
Posso vislumbrar nesta
obsessão pela filmagem uma crítica alusiva à multiplicidade de pessoas que de
telemóvel em punho filma e fotografa tudo o que lhe aparece pela frente para
posterior publicação nas redes sociais, mas daí até fazer como ele, de filmar e
matar a tiro todas as pessoas que vestiam blusões, para lhos tirar e enterrar, para
que só restasse o seu, o único blusão de camurça, vai um abismo de
razoabilidade e de sentido.
Não quero revelar o final da
história, mas a bem da lei e da ordem, um individuo que mata tão impunemente
outras pessoas por um motivo tão fútil, só pode ter um fim semelhante às mãos
de um sobrevivente que desempenhou um personagem ainda mais indefinido do que
os participantes principais no enredo do filme… assim, tout court, sem mais nem menos... tiro e queda!...
Igualmente, sem me querer
arvorar em detentor da verdade absoluta, informo que no IMDb (International
Movie Data base) este filme tem a classificação de 6,8 num total de 4009
utilizadores, dos quais 34,5% atribuíram a classificação de 7, o que significa
que outras pessoas tiveram opinião diferente da minha, todavia, declaro também
que a minha classificação se destina totalmente aos atores e nada ao argumento,
que reputo de fútil, desconchavado e idiota.
Classificação: 2 numa escala
de 10
NOTA: Para quem quiser esclarecer
as dúvidas que a minha crónica possa ter levantado, informo ainda que este filme
está disponível na plataforma FILMIN, de origem espanhola e internacionalizada
desde Novembro de 2016 no México e em Portugal, por €3,95, durante 72 horas,
sem fidelização ou contrato, bastando apenas a inscrição no site.
Sem comentários:
Enviar um comentário