Sinopse
Enquanto
Jahkor (Ashton Sanders, de “Moonlight”), de fala mansa e gestos contidos, luta
para manter seu sonho de se manter vivo no meio de uma guerra de gangues em
Oakland, sua vida infeliz e as responsabilidades do mundo real levam-no cada
vez mais além da linha do certo e do errado com trágicas consequências.
Depois de ser preso e de
encontrar seu pai na prisão, JD (Jeffrey Wright, de “Westworld”), com quem ele
nunca se quis comparar, Jahkor embarca numa improvável jornada de
autodescoberta, explorando os eventos que os unem, na esperança de ajudar seu
filho recém-nascido a quebrar um ciclo que parece inevitável.
Opinião
por Artur Neves
Este trabalho de Joe Robert
Cole, realizador americano negro que tem no seu curricula “Black Panther” de
2018 e a popular e muito aclamada série para a televisão; “American Crime
Story” apresenta-nos agora o ator de “Moonlight”, filme premiado na cerimónia
dos Óscares de 2016, em Jahkor, um personagem que conta uma dramática história
de vida de um garoto abandonado, com pai desaparecido, educado por um padrasto
violento, a cumprir uma pena de prisão perpétua, mas com uma determinação de
não deixar replicar que os seus erros de ontem se transformem amanhã em
tragédias do seu filho.
A história começa pelo
brutal crime a sangue frio que impõe a narrativa e o levará a julgamento e
posteriormente à cadeia onde se encontra, numa cela isolada, que lhe permite
reviver todo o seu caminho até ali reconhecendo a brutalidade dos seus atos
como reflexo da infância e juventude que viveu, numa história de amadurecimento
envolvido numa meditação sombria e desconfiada sobre a identidade, intenções e
masculinidade do americano negro.
Embora sempre acompanhado na
infância pela sua mãe Delanda, (Kelly Jenrette) e sua tia Tommetta, (Regina
Taylor) duas fontes de força e amor duro, sempre a instigá-lo para seguir um
caminho contrário aos exemplos diários com que se confrontava na escola e com
os amigos frequentes, tais como, o astuto TQ (Isaiah John) desde sempre
inclinado para uma vida de crime e arrastando-o com ele e o otimista Lamark
(Christopher Meyer) sempre pronto a congeminar a melhor maneira de cometer o
crime e escapar dele.
Em todo o filme ele mantém
um monólogo íntimo e recorrente em que descreve uma narrativa de luta de gangs, de tráfico de droga, de racismo
diário nos mais vulgares eventos quotidianos que motivam a citação em forma de
murmúrio; “A escravatura ensinou os negros a sobreviver, mas não a viver” que
ele repete em todos os momentos em que procura o isolamento para compor música hip-hop para a qual se sente
particularmente vocacionado, embora sem oportunidade para a desenvolver naquele
meio.
No desenvolvimento da
história, entre o presente estado de reclusão e a descrição das razões que o
levaram aquele medonho crime, o filme recorre-se de múltiplos flashbacks, sempre suportados pela sua
voz em off, desde as lutas no recreio
da escola em que experimenta a primeira satisfação de ter vencido um dos
colegas mais acintoso e de ter cumprido a recomendação do seu pai adotivo de responder
à violência com violência. Esta conclusão tornar-se-á uma emoção permanente na vida
à qual se habituou.
“Todo o dia e uma Noite” na
versão portuguesa, é uma história de fatalismo constante que elimina a possibilidade
de redenção do que nos vai sendo apresentado. Sabemos desde o primeiro momento
o crime que cometeu e que vai ser preso, portanto as suas tentativas de compor hip-hop,
a sua recusa ao consumo de droga, o encontro com Shantaye (Shakira Ja'nai Paye)
a quem faz um filho, são percalços de uma vida que sabemos não terá futuro e
que deixa ao espectador a única hipótese de se concentrar no modo como tudo
aconteceu.
Mesmo que em algum momento,
como no tempo do seu relacionamento com Shantaye, você sinta alguma comiseração
e esperança que ele atine com a vida, o filme a seguir mostra-lhe claramente
que isso não vai acontecer, pelo que uma alteração da montagem poderia
contribuir para a manutenção da esperança que a história se encarrega de
eliminar.
Para lá das explosões de
violência este filme contém uma meditação sobre a vida e sobre os maiores
riscos de ser destruída e isso justifica o seu visionamento. Está disponível
desde 1 de maio na plataforma Netflix.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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