Sinopse
Um famoso programa de
televisão nos Estados Unidos tem como âncora Katherine Newbury (Emma Thompson),
uma mulher de temperamento forte, com uma sólida carreira no mundo do
entretenimento, mas com muitos inimigos pelo caminho. O seu império começa a
desmoronar quando é acusada de ser antifeminista por ter apenas homens como
guionistas. Assim, contrata Molly (Mindy Kaling), com quem inicialmente não tem
um bom relacionamento. No entanto, o programa sofre uma queda abrupta de
audiências e a abordagem inovadora de Molly pode ser indispensável para salvar
a carreira de Katherine.
Opinião
por Artur Neves
Mais uma sugestão para
suportar estes tempos que não se recomendam mas que se impõem pela dimensão da
sua ameaça. Este filme traz-nos a vida por detrás das câmaras, dos enterteiners de sucesso que ocupam o prime time das cadeias de televisão que
no final se servem deles para nos veicularem a publicidade dos produtos que
vendem. Porém, eles são também pessoas com problemas comuns que Mindy Kaling,
atriz secundária neste filme, usou para construir o argumento desta ficção de
comédia, apimentada com um drama de vida.
A realizadora Nisha Ganatra,
canadiana de nascimento, não é propriamente uma novata neste género,
considerando o seu histórico de realização e aproveitou bem a iniciativa de
Molly Patel (Mindy Kaling) uma engenheira indiana nascida na América que
trabalhava na industria química contra a sua vontade, apesar de ter formação
para isso, contrariando a sua vocação de escritora e que consegue emprego na
equipa de Katherine Newbury (Emma Thompson) depois de esta ter sido admoestada
para o declínio criativo e comercial do seu programa, baseado na redução do share de audiências e da sua recusa em
trabalhar com mulheres.
Katherine por seu lado não é
flor que se cheire, distante, arrogante no trato, sempre de sobrancelhas
levantadas, distribuindo sorrisos preparados embora não sentidos, fechada numa
redoma que a isola do contacto com a cultura jovem e com os movimentos de
mudança tecnológica que pululam em torno dela e ela não quer ver.
Adicionalmente a isso, o seu
marido Walter Lovell (John Lithgow) está moribundo em casa, agarrado à cama por
doença que lhe tolhe os movimentos, embora os diálogos nos informem que nem
sempre foi assim noutros tempos, hoje ele é apenas um homem vencido, com um
temperamento gentil e sofredor que ainda apoia Katherine nesta fase menos feliz
da sua carreira.
É neste contexto que Molly
Patel é admitida e introduzida no grupo de argumentistas que trabalham para Katherine,
todos homens, com vários anos de experiência, de quem ela se recusa a trata-los
pelo nome, referindo-se a eles por um número que aleatoriamente lhes atribuiu. É
aqui que a história se revela como uma ficção absoluta, por improvável possibilidade
que o ambiente teria de ter sido revertido por uma pessoa como Molly, que
embora séria, com talento e capacidades empreendedoras, não possui um pensamento
naturalmente cómico para contribuir para a reformulação dos scripts do programa.
Todavia, entre Molly e Katherine
começa a formar-se uma estranha relação de cumplicidade, apesar de possuírem temperamentos
diferentes por serem ambos tendencialmente depressivos e a sua vivência no meio
de pessoas obcecadas pela pressão da sua profissão e dos prazos a cumprir,
naturalmente desajeitadas para as relações humanas, estabelecerem uma ponte
para compensar as suas fraquezas e os seus desejos de sucesso. Katherine
reconhece o empenho de Molly ao saber que ela frequenta um clube de stand up comedy como formação para o desempenho
da sua função, todavia continua a ser questionável, como é que duas pessoas tão
diferentes poderiam encontrar pontos de aproximação.
Como espetáculo este filme
oferece-nos os excelentes desempenhos de Emma Thompson e Mindy Kaling em
personagens que desenvolvem uma química que ultrapassa a relação patrão –
empregado e vivenciam mutuamente as suas carreiras do ponto de vista diferente
que cada uma possui.
Molly é um peixe fora de
água, Katherine é um falcão ferido por um deslize fatal, que tem de lutar pelo
seu programa e pela sua reconciliação familiar, numa história que o fará sorrir
e também pensar nas grandezas e misérias desta vida.
Pode ser visto no Netflix, Amazon
Prime vídeo, ou através de DVD adquirido na Fnac, com o nome original de “Late
Night”.
Classificação: 6 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário