11 de abril de 2020

Opinião – “Blow the Man Down” de Danielle Krudy e, Bridget Savage Cole


Sinopse

Bem-vindo a Easter Cove, uma vila de pescadores salgados nos confins da costa rochosa do Maine. Lamentando a perda de sua mãe e enfrentando um futuro incerto, Mary Beth e Priscilla Connolly encobrem uma briga horrenda e fatal com um homem perigoso. Para ocultar seu crime, as irmãs devem aprofundar-se no ventre de Easter Cove e descobrir os segredos mais sombrios das matriarcas da cidade.

Opinião por Artur Neves

Neste período de acentuada crise vivencial, o streaming constitui uma alternativa para nos permitir apreciar histórias inteligentes e divertidas que não estavam previstas para a exibição em sala, mais por defeito das distribuidoras do que dos seus autores que as conceberam de maneira generosa e, digo eu, com uma saudade inspiratória baseada em “Fargo”, uma excelente comédia negra de 1996 realizada pelos irmãos Joel e Ethan Coen.
Easter Cove é uma vila piscatória na costa leste dos USA, banhada pelo oceano Atlântico e fazendo fronteira com o Canadá, numa latitude em que os invernos são rigorosos e assolados por nevões de intensidade apreciável. O seu povo é rude, adequado á dureza do clima e os pescadores são homens simples que julgam que mandam na vila como no mar, sem se aperceberem da sua qualidade de peões na insidiosa sociedade matriarcal em que estão envolvidos, capitaneada por Enid Devlin (Margo Martindale), secundada por Susie Gallagher (June Squibb, nomeada para o Oscar em “Nebrsca”) e Gail Maguire (Annette O'Toole) corporizando uma sociedade singular de coexistência difícil entre mulheres exploradas e homens exploradores. Todavia, através de um pacto secreto elas conseguem controlar economicamente a situação e assim, a vida da aldeia.
Mary Beth (Morgan Saylor) e Priscilla Connolly (Sophie Lowe) conduzem o funeral de sua mãe e estão em presença de dificuldades futuras com a peixaria da família e a própria casa de habitação, pendente de uma hipoteca contraída por sua mãe para lograr desenvolver o negócio. Porém Mary Beth, a mais nova das irmãs, sonha com outros voos, sentindo-se presa naquela cidade de província que não responde aos seus anseios, não a compreende, que a sufoca com as meias palavras e os segredos que se adivinham mas que não se distinguem facilmente.
É com um misto de tristeza e desespero que na noite do velório, Mary Beth abandona tudo, refugia-se no bar da aldeia de Enid Devlin, embriaga-se, estabelece contacto ao balcão com Gorski (Ebon Moss-Bachrach) e saem ambos para uma acidentada viagem no automóvel que acaba perto do cais de pesca. Na sequência de uma tentativa de violação por parte deste, Mary Beth defende-se com um arpão encontrado por ali, e espeta-o no pescoço de Gorski provocando-lhe a morte.
A reação das irmãs não se faz esperar e na mesma noite, cortam o cadáver em pedaços de forma que permita alojar todo o corpo na caixa conservadora de frio, que pode ver-se no poster do filme e “desembaraçam-se do problema” atirando-o para o Atlântico.
Só que isso é o princípio de outros problemas e o argumento apresenta a história através de um coro de pescadores, que à boa maneira do teatro Grego clássico comentam à sua maneira a ação que está a decorrer e que funciona bem nesta comédia negra de assassinatos acidentais e crimes deliberados, insuspeitos do seu verdadeiro autor.
O filme praticamente não inclui homens e os que aparecem são marginais e decorativos, incluindo os agentes da investigação policial, que não beliscam a poderosa irmandade feminina, cujos segredos e acordos mútuos unem os seus membros, que embora sejam bastantes simples e diretos promovem um resultado intrigante de thriller no meio de uma comédia social. Pode ser visto na Amazon – Prime Vídeo.

Classificação: 6 numa escala de 10

Sem comentários: