Sinopse
Bem-vindo a Easter Cove, uma
vila de pescadores salgados nos confins da costa rochosa do Maine. Lamentando a
perda de sua mãe e enfrentando um futuro incerto, Mary Beth e Priscilla
Connolly encobrem uma briga horrenda e fatal com um homem perigoso. Para
ocultar seu crime, as irmãs devem aprofundar-se no ventre de Easter Cove e
descobrir os segredos mais sombrios das matriarcas da cidade.
Opinião
por Artur Neves
Neste período de acentuada
crise vivencial, o streaming constitui
uma alternativa para nos permitir apreciar histórias inteligentes e divertidas
que não estavam previstas para a exibição em sala, mais por defeito das distribuidoras
do que dos seus autores que as conceberam de maneira generosa e, digo eu, com
uma saudade inspiratória baseada em “Fargo”, uma excelente comédia negra de
1996 realizada pelos irmãos Joel e Ethan Coen.
Easter Cove é uma vila
piscatória na costa leste dos USA, banhada pelo oceano Atlântico e fazendo
fronteira com o Canadá, numa latitude em que os invernos são rigorosos e
assolados por nevões de intensidade apreciável. O seu povo é rude, adequado á
dureza do clima e os pescadores são homens simples que julgam que mandam na
vila como no mar, sem se aperceberem da sua qualidade de peões na insidiosa
sociedade matriarcal em que estão envolvidos, capitaneada por Enid Devlin (Margo
Martindale), secundada por Susie Gallagher (June Squibb, nomeada para o Oscar
em “Nebrsca”) e Gail Maguire (Annette O'Toole) corporizando uma sociedade
singular de coexistência difícil entre mulheres exploradas e homens
exploradores. Todavia, através de um pacto secreto elas conseguem controlar economicamente
a situação e assim, a vida da aldeia.
Mary Beth (Morgan Saylor) e
Priscilla Connolly (Sophie Lowe) conduzem o funeral de sua mãe e estão em
presença de dificuldades futuras com a peixaria da família e a própria casa de
habitação, pendente de uma hipoteca contraída por sua mãe para lograr desenvolver
o negócio. Porém Mary Beth, a mais nova das irmãs, sonha com outros voos, sentindo-se
presa naquela cidade de província que não responde aos seus anseios, não a
compreende, que a sufoca com as meias palavras e os segredos que se adivinham
mas que não se distinguem facilmente.
É com um misto de tristeza e
desespero que na noite do velório, Mary Beth abandona tudo, refugia-se no bar
da aldeia de Enid Devlin, embriaga-se, estabelece contacto ao balcão com Gorski
(Ebon Moss-Bachrach) e saem ambos para uma acidentada viagem no automóvel que
acaba perto do cais de pesca. Na sequência de uma tentativa de violação por
parte deste, Mary Beth defende-se com um arpão encontrado por ali, e espeta-o
no pescoço de Gorski provocando-lhe a morte.
A reação das irmãs não se
faz esperar e na mesma noite, cortam o cadáver em pedaços de forma que permita
alojar todo o corpo na caixa conservadora de frio, que pode ver-se no poster do filme e “desembaraçam-se do problema”
atirando-o para o Atlântico.
Só que isso é o princípio de
outros problemas e o argumento apresenta a história através de um coro de
pescadores, que à boa maneira do teatro Grego clássico comentam à sua maneira a
ação que está a decorrer e que funciona bem nesta comédia negra de assassinatos
acidentais e crimes deliberados, insuspeitos do seu verdadeiro autor.
O filme praticamente não
inclui homens e os que aparecem são marginais e decorativos, incluindo os
agentes da investigação policial, que não beliscam a poderosa irmandade
feminina, cujos segredos e acordos mútuos unem os seus membros, que embora
sejam bastantes simples e diretos promovem um resultado intrigante de thriller no
meio de uma comédia social. Pode ser visto na Amazon – Prime Vídeo.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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