3 de abril de 2020

Opinião – “Cloud Atlas” de Tom Tykwer e Lilly e Lana Wachowski


Sinopse

Cloud Atlas explora como as ações e as consequências das vidas individuais se afetam mutuamente no passado, no presente e no futuro. Ação, mistério e romance se entrelaçam dramaticamente ao longo da história, à medida que uma alma é transformada em assassina em herói e um único ato de bondade ondula ao longo dos séculos para inspirar uma revolução no futuro distante. Cada membro do conjunto aparece em vários papéis à medida que as histórias se movem no tempo.

Opinião por Artur Neves

Numa altura de endurecimento das medidas restritivas de movimentação e de insistente recomendação de permanência em casa recomendo um filme que areja a imaginação e nos justifica a permanência em casa por 172 minutos. É um filme de grande orçamento, US$ 100 milhões, já raro em Hollywood, mas que ainda assim foi coberto pela receita, tendo dado lucro aos produtores.
Cloud Atlas, estreado em 2012 é baseado no romance de David Mitchell com o mesmo nome e reuniu várias nomeações para prémios literários, não sem que o seu autor fosse acusado de ambição desmedida para o fim a que se propunha, abordando um tema entre o místico e o científico, muito embora a ciência nunca tenha apresentado dados, nem teses concretas sobre a reencarnação da espécie ao longo dos tempos.
O filme não vai tão longe e ainda bem. Tom Tykwer e as irmãs Wachowski que são também os autores do argumento pegaram nas seis histórias descritas no livro entre os anos de 1849 e 2321 e entreteceram eventos demarcados no tempo com personagens que se ligam por uma marca de nascença em forma de cometa que os vincula a uma referência originária, perene e continuadora de comportamentos pré estabelecidos, por uma genealogia ancestral que se renova sucessivamente.
Os eventos que compõem cada história estão remotamente relacionados e resultam muito bem em cinema pela explosão de cores e cenários que apresentam, numa imagem bem conseguida que nos transporta do sublime ao ridículo e nos prende durante todo o tempo.
O elenco é liderado por Tom Hanks e Halle Berry, coadjuvado por outros atores de primeira grandeza e por um número significativo de bandas britânicas da época que corporizam personagens que ao longo de cada segmento do filme enfatizam o tema da reencarnação e a repetição dos ciclos de vida com uma finalidade comum em cada época em que são retratados.
Não é um filme que se possa contar, ou onde se possa destacar um resumo lógico, porque a interpretação de cada imagem é propriedade de quem a vê, mas no seu todo, mostra ação, romance, investigação filosófica, cenas ridículas com sotaques tolos que macaqueiam personalidades burlescas em atitudes reais, numa vertigem sequencial que pretende confundir o espectador até o levar com ele embora sem saber bem porquê.
Pode dizer-se que é um filme indisciplinado e louco, o que todavia não constitui qualquer obstáculo para um filme épico que passa por exemplo, de uma comédia contundente num lar de idosos em Inglaterra para uma corrida de carros voadores na Coreia, ou que apresenta um assassino loiro quase branco, uma histriónica enfermeira de seios enormes segundo o modelo dos Supertramp em Breakfast in América ou o mais improvável maestro nazi.
Há reclamações de que o filme é confuso e em boa verdade não posso deixar de concordar, contudo afirmo não ser pior do que alguns, muitos, episódios da série “Game of Thrones” que tanto sucesso teve e analisando o seu conceito macro percebe-se que cada história, com o seu enredo próprio, consegue ligar-se ao longo dos tempos em que decorre sendo isso o elemento determinante do seu interesse e importância.
Está disponível amanhã, 4 de abril, pelas 21h30’ no canal NOS Stúdio, ou em qualquer altura se tiver possibilidade de “viajar no tempo”, ou então no canal Neteflix. De qualquer modo prometo que não se vai arrepender.

Classificação: 8 numa escala de 10

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