Sinopse
Voltando para casa depois de
um fim de semana tenso de férias com seus sogros, Ray Monroe (Sam Worthington),
um homem de família bem-intencionado, mas oprimido, entra numa área de descanso
com sua esposa Joanne (Lily Rabe) e a filha Peri (Lucy Capri). A viagem piora
quando Peri se aleija num acidente e a família corre para um hospital próximo,
administrado por uma equipe com intenções duvidosas. Depois de serem enviados
para outros testes, Peri e Joanne desaparecem e todos os registros de sua
visita não se encontram. A preocupação de Ray transforma-se numa corrida sem
fim à vista para tentar encontrá-los.
Opinião
por Artur Neves
Das piores angústias que um
ser humano pode sentir é a sensação de dúvida de interpretação dos que os seus
olhos veem, isto é, perante um evento real e concreto, a mente não o reconhecer
diretamente e interpretar o facto através da criação de versões alternativas da
realidade, que a espaços, preenchem a consciência sem nunca ser fiável o reconhecimento
que se faça da situação real.
É sobre este trauma que
trata o filme “Fraturado” (título em tradução livre) da plataforma de streaming Netflix que está disponível desde
Outubro de 2019, mas que não merece pressa em ser procurado.
A história começa no retorno
de uma visita aos sogros de Ray, no dia de Ação de Graças que nos USA
corresponde ao ritual cumprido na nossa Páscoa, em que Joanne recrimina e
desconsidera Ray em diálogos expositivos cheios de tensão, mas desajeitados não
só pela forma como os profere mas também pelas respostas e postura de Ray,
interpretado por um ator (Sam Worthington), com uma expressão dura mas estática
que dificilmente deixa transparecer as emoções que naturalmente seriam
provocadas pela conversa acusatória de Joanne. Nós não os conhecemos mas
aqueles diálogos acrescentam muito pouco a esse conhecimento.
Como se pretendo criar um
ambiente de suspense, a bomba de gasolina onde param e onde ocorre o acidente é
assistida por uma funcionária com cara de facínora que sem qualquer motivo aparente
mostra uma expressão agressiva e displicente ao cliente, Ray, que se apresenta
apenas interessado em cumprir os pedidos que a sua família lhe encomendou.
Depois do acidente com Peri,
segue-se uma louca corrida automóvel em busca de um hospital de que Ray se
lembrava ter visto um aviso, poucos kms antes. Ao chegar lá desenvolve-se uma
crítica razoável aos serviços hospitalares públicos, que no caso dos USA tem
toda a componente de comprovação da existência ou não de seguro, que define o
grau e a complexidade do atendimento de socorro. Nesta parte a história vale
pela denúncia que insere comprovadamente ao sistema, introduzindo aqui, talvez
abusivamente, a suspeita de existência de negócios paralelos com transplante de
órgãos humanos.
Depois, segue-se a angustiosa
confusão mental de Ray, tal como refiro no primeiro parágrafo deste texto, com
o potencial desaparecimento da sua esposa e filha que ele tenta a todo o custo
encontrar, transportando-o pelos sinistros corredores do hospital onde habita
um ambiente de assustador pesadelo. Porém, é tudo feito tão sem personalidade
visual que a sensação de pavor perde-se numa sucessão de rostos anónimos que contradizem
a versão de Ray e que o espectador, sem nada a que se agarrar fica a espera de
uma miraculosa reviravolta.
Brad Anderson, não é
propriamente um novato nestas andanças e a comprová-lo tem na sua carreira
filmes como; “Sessão 9” de 2001 e “Transiberiano” de 2008, recentemente citado
neste blogue, donde não seria de esperar a falta de jeito demonstrada para agarrar
este tema que teria outro tratamento e projeção nas mãos de Carpenter ou de David
Cronenberg, presumo eu, porque tal como está fica-se com a sensação de se ter
assistido a uma fraude.
Quando a reviravolta surge é
a desgraça total, porque todas as coisas que não faziam sentido antes fazem
menos sentido agora e o alívio somente surge porque o filme se aproxima do fim
e termina a sensação de perda de tempo. Uma pena!...
Classificação: 4 numa escala
de 10
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