Sinopse
Saïd é dono de uma serração
no meio da floresta, que ele decide vender. Mal sabe ele que um de seus
aprendizes foi encurralado por seu irmão e forçado a esconder uma grande
quantidade de cocaína dentro da sua fábrica. Quando o gangue a quem as drogas
pertencem aparece, Saïd rapidamente percebe os quão determinados e impiedosos
eles são. Embora em menor número, ele conhece a serração como ninguém. Forçado
a defender-se para proteger sua filha Sarah, Saïd transforma a serração numa área
de combate. E à medida que o número de vítimas cresce, cresce também a sede de vingança...
Opinião
por Artur Neves
O eixo principal da história
desenvolve-se no interior da serração na forma de um thriller que se foca na
criação de um ambiente de suspense num espaço fechado com muitos possíveis
esconderijos para quem não conhece o meio como é o caso do líder dos
assaltantes Adama (Ériq Ebouaney) que pretende resgatar a sua mercadoria que
foi desviada pela equipa ao seu serviço, implicada no assalto à esquadra que
guardava oito quilos de cocaína apanhada pela polícia numa investigação.
Saïd (Sami Bouajila) que se
vem a revelar um assíduo colaborador de Julien Leclercq noutras obras recentes
deste realizador é o destemido e silencioso defensor dos seus bens, da sua casa
e da sua filha adolescente Sarah (Sofia Lesaffre) portadora de uma deficiência quase
total de audição, que há de justificar o seu sacrifício para assegurar a sua
autonomia e o seu bem-estar futuro.
A cena inicial do assalto é
indicadora da dureza que o filme quer imprimir à história com um grupo de
indivíduos afro-franceses, mascarados, tensos e vigilantes que aguardam dentro
de um automóvel a oportunidade de iniciarem o assalto, sob uma chuva torrencial
a que eles se mostram totalmente indiferentes. A entrada na esquadra está de
acordo com o planeado, porém dois dos elementos do grupo envolvem-se num
tiroteio fatal, imprevisto e indesejável para os objetivos traçados, embora os
outros dois sobreviventes consigam fugir com a droga.
É a partir daqui que os
traficantes de cruzam com a vida pacata de Saïd, porque um dos sobreviventes, Medhi
(Redouanne Harjane) que planeou um destino diferente para o resultado do
assalto, é irmão de Yanis (Samy Seghir) que está em liberdade condicional e foi
admitido como trabalhador na serração de Saïd em período acompanhado de recuperação,
pede-lhe para esconder lá o produto do roubo, já que o assalto é amplamente
divulgado com pormenores nos meios de comunicação.
É a partir daqui que o filme
ganha tensão emocional, embora sem ser suficientemente engenhoso e capaz de
criar um clima que nos faça pensar o que será que o argumento nos espera nas
próximas cenas, considerando que sem muito grau de incerteza o desfecho é
medianamente previsível, dando a impressão que nem Leclercq nem os
argumentistas; Guez e Matthieu Serveau, se preocuparam muito em escamotear as
razões da propensão para a violência de Saïd, bem como, as razões que o
deixaram naquela situação de cuidador da filha que tem para ele uma postura de confiança
e de agradecimento, sim, mas evidenciando por vezes alguma agressividade que
poderia trazer ao filme um conteúdo familiar mais dramático e dinâmico.
Por outro lado, a
personalidade dos agressores também se apresenta muito plana. Eles são vilões, agressivos,
mas sem muita inteligência que possa potenciar como uma vantagem a sua
superioridade numérica no assalto que estão cometendo num local que completamente
desconhecem. Todos apresentam expressões carrancudas e armamento
suficientemente poderoso mas o seu efeito é reduzido, exceto no consumo desregrado
de munições disparadas aleatoriamente pelas suas AK-47.
Constitui portanto um filme
que resume a história ao essencial, que aposta em muita adrenalina em tempo
real e que se situa uns “furos” acima de outros congéneres, mais impessoais e
mais exibicionistas de força bruta, só por ela mesmo.
Em exibição na plataforma Netflix desde 17 de Abril.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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