31 de março de 2020

Opinião – “Mistério a Bordo” de Kyle Newacheck


Sinopse

Para renovar os votos de casamento, um polícia de Nova Iorque e sua esposa embarcam numa viagem para a Europa. Durante o voo, eles conhecem um homem misterioso que os convida para passar o fim de semana no iate do bilionário Malcolm Quince. Contudo, quando o mesmo é encontrado morto, o casal americano torna-se o principal suspeito do crime. Juntos, eles tentarão a todo custo investigar o caso e provar sua inocência.

Opinião por Artur Neves

Numa altura em que o tempo e a vida se esvaem sem utilidade nem préstimo, neste confinamento domiciliário obrigatório embora prudente, seria bom conseguir parar o cérebro e para ajudar a esse objetivo nada melhor do que uma comédia de mistério e romance com um ator (Adan Sandler) que se reinventou nesse extraordinário filme, também já comentado neste blogue; “Diamante Bruto” para a mesma produtora, Netflix, que nos traz a presente proposta.
Trata-se de uma história policial na linha dos contos de Agatha Christie com o seu Poirot de pacotilha na figura de Nick Spitz (Adam Sandler) com todos os ingredientes do género incluindo a sábia exibição da dedução do crime perante todos os suspeitos do costume reunidos em plácida e atenta audição, bem como o responsável da polícia local, Inspetor de la Croix (Dany Boon) incluído na contemplativa assistência.
Só que nenhum dos personagens corresponde ao figurino da mestra, Nick e sua esposa Audrey Spitz (Jennifer Aniston) que até já foram casados na vida real, estão a bordo do iate do magnata Malcolm Quince (Terence Stamp) sempre sério e respeitável como o conhecemos, por razões avulsas e casuais, constituindo a categoria de “penetras” numa reunião familiar com a qual não têm relação alguma e assistem ao assassinato de Quince, em plena cerimónia de anúncio do casamento deste com Suzi Nakamura (Shioli Kutsuna) ex-namorada de Charles Cavendish (Luke Evans) e da comunicação da alteração do testamento, inicialmente distributivo pelos presentes a agora destinado a uma única pessoa.
Nestas condições o casal Spitz torna-se o alvo preferencial de incriminação pelo assassino e já que a polícia é incapaz de deslindar o enredo por de traz do crime, caberá a eles defenderem-se provando a sua inocência através da descoberta do verdadeiro culpado.
É a partir daqui que a paródia se desenrola, com fugas mirabolantes, assassinatos de outros intervenientes, perseguições de carros nas ruas estreitas do Mónaco ao melhor nível de James Bond, com o casal Spitz no centro das operações, ele como candidato chumbado no exame a detetive e literalmente sem pontaria na utilização de armas de fogo e ela, cabeleireira de profissão, mas arguta no raciocínio de investigação e líder da “equipa” assim formada, que tem de descobrir os culpados.
O argumento é simples e o realizador Kyle Newacheck aposta forte na capacidade interpretativa dos seus personagens, criando condições que nos fazem pensar que todos são culpados, e de facto são, se nos deixarmos arrastar pela vertigem dos gags mais ou menos comuns de um grupo bem disposto que só nos quer animar. Aniston e Sandler mostram suficiente amizade depois do divórcio que podemos ainda vislumbrar alguma química entre eles e ela dedicou-se de tal modo ao personagem que o faz brilhar uns “furos” acima do de Sandler, justificando a sua escolha.
Nesta altura, a carreira de Adan Samdler ainda está congelada nas travessuras avulsas que é comum ele mostrar nos filmes que fez até aqui. A tentativa de ser o maior e o mais corajoso, a indumentária escolhida para um jantar de cerimónia, o cartão prenda de US $50 que ele comprou para oferecer a Audrey no aniversário dos seus 10 anos de casamento.
É um filme para ver e esquecer, tal como o tempo que vivemos é igualmente para esquecer, vale enquanto dura e se durante esse tempo nos conseguirmos alhear dos problemas que nos cercam, vale completamente a classificação que lhe atribuo a seguir.

Classificação: 6 numa escala de 10

Sem comentários: