26 de março de 2020

Opinião – “Transiberiano” de Brad Andersen


Sinopse

Depois de uma missão religiosa na China, Roy (Woody Harrelson) e Jessie (Emily Mortimer) decidem fazer a viagem de regresso no célebre Expresso Transiberiano, passando por Moscovo. Durante o longo percurso de seis dias, travam conhecimento com Carlos e Abby, um estranho casal. Apesar de parecerem dois turistas como quaisquer outros, cedo revelam não ser o que aparentam. Mas quando dois detectives russos entram no comboio, Jessie compreende que algo terrível vai acontecer. Ela e Roy acabam por tornar-se alvos de uma investigação, comandada por um ex-detective do KGB (Ben Kingsley), e que envolve tráfico de drogas.

Opinião por Artur Neves

Proponho hoje a revisitação de um filme que foi estreado em Portugal em Julho de 2009 e que pode ser visto amanhã, dia 27 de Março no canal NOS – Studio às 01h:55’ ou à hora que mais lhe convier desde que possa “viajar no tempo” e assistir ao filme em diferido, durante uma semana a contar da data de projeção. Outra opção é encomendar o DVD na Fnac por €5, ou adquirir o Blu-Ray na Amazon por €6. Apesar de se tratar de um filme com 11 anos ainda é agradável e emocionante de assistir.
A história decorre numa viagem do comboio Transiberiano, que liga Pequim a Moscovo através das paisagens geladas da Sibéria acompanhando a viagem de uma casal americano jovem; Roy (Woody Harrelson, quando ainda interpretava personagens de jovem inconsciente) e Jessie que travam conhecimento com outro casal jovem, mas não inconsciente como eles; Carlos (Eduardo Noriega) e Abby (Kate Mara) e se envolvem numa relação de proximidade que posteriormente se revela comprometedora.
Roy e Jessi regressam de uma missão de caridade na China organizada pela sua igreja e utilizam aquele meio de transporte por uma questão de aventura, recusando o voo que lhes estava destinado. Vamos posteriormente descobrindo que a relação entre os dois resultou de um desastre provocado por álcool e droga e que ambos se ampararam entre si na recuperação. São dois seres em expiação de culpas passadas.
Carlos e Abby, pelo contrário são dois mochileiros que viajam por vocação à procura do seu lugar no mundo não rejeitando tarefas ilegais que lhe possam render dinheiro fácil. Todavia, Carlos procura deliberadamente o sucesso a qualquer preço, enquanto Abby apenas pretende conseguir resgatar o seu paraíso idílico, numa postura diferente da do seu companheiro.
A história complica-se quando Roy conhece Grinko (Ben Kingsley), um inspetor Russo do departamento de narcóticos que nunca mais o larga e se esforça por lhe tentar ensinar Russo em todas as situações e se insinua na vida do casal sem uma razão explicita que a suporte. Adicionado a isto, os colegas de de Grinko na investigação não aparentam a condição de polícias, sendo desculpados por este com respostas evasivas. Apenas a insistência de Grinko na envolvência com o casal provoca a subida de tensão nos diálogos e nas cenas.
Aqui chegados, temos o quadro completo do “suspense hitchcockiano", um meio confinado ao comboio em movimento, um número de personagens restrito e já conhecido, embora não completamente definido, e uma história que começa a revelar as suas mutações com todos os personagens a terem alguma coisa para esconder para conseguirem manter as premissas anteriormente assumidas. Em cada quadro do enredo, em cada insistência de Grinko, em todas as aproximações de Grinko ao casal Roy e Jessi pode sentir-se a presença velada do mestre do suspense e da emoção crescente.
O deserto árido e gelado da Sibéria reforça o isolamento dos personagens e constitui o elemento estático da tensão e da insegurança que o realizador Brad Andersen constrói lentamente desde as primeiras cenas, onde ninguém pode sentir-se seguro, porque a sugestão do desastre é iminente, todavia, quando acontece não corresponde ao que se esperava e isso é divertimento puro de cinema. Recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

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