23 de março de 2020

Opinião – “Contágio” de Steven Soderbergh


Sinopse

Um vírus letal, altamente contagioso e transmitido pelo contacto com pessoas infetadas ou com objetos que estas tenham tocado, espalha-se rapidamente pelo planeta, enquanto a comunidade científica tenta descobrir uma possível cura.
Contudo, a sociedade mostra-se cada vez mais vulnerável à pandemia.

Opinião por Artur Neves

Não, não é por razões mórbidas que retorno a um filme estreado em Portugal em Outubro de 2011 sobre o contágio generalizado de uma população por um vírus letal, mas sim pela semelhança com os tempos que estamos vivendo agora, podendo em algumas situações aquela história tornar-se premonitória, de tão bem informada sobre os procedimentos a tomar, consequências diretas, e indiretas nas redes sociais que começavam a despontar em que Alan (Jude Law) é o seu principal dinamizador, e ações a desenvolver. Atualmente este videograma está disponível na plataforma de streaming; Amazon Prime Video.
O filme começa no segundo dia do contágio e revela, numa atitude algo moralista, que a causa foi o contacto numa relação extra matrimonial de Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow) em Hong Kong, com o seu antigo namorado que já se encontrava contagiado, e onde ela se deslocou em trabalho. Todavia, para a história o que interessa sublinhar é que ela foi o paciente zero a contrair por contágio a nefasta doença que se propagará pelo mundo.
Por razões não explicadas na história, Mitch Emhoff (Matt Damon) marido de Beth é imune ao vírus e fica a tomar conta do filho de ambos Clark (Griffin Kane) quando Beth, pouco depois de ter chegado a casa, em completa falência física, tem necessidade de ser internada no hospital e falece da doença sem cura. Esta é principal diferença do vírus para atualidade, pois como sabemos a Covid-19 embora mate, mata lentamente e com moderação.
Steven Soderbergh, realizador americano cuja atividade de realização foi abandonada, tendo-se dedicado à produção de filmes e séries documentais, constituiu no seu tempo uma referência em Hollywood decorrente do pormenor e veracidade que impunha às suas realizações, sempre complementadas por uma noção de arte segundo um formalismo abstrato que tornava a história dos filmes direta e escorreita.
Assim, este é um filme metódico, sem câmara na mão em que o Dr. Ellis Cheever (Laurence Fishburne) epidemiologista, dirige os seus mais diretos colaboradores; Drª. Erin Mears (Kate Winslet) para o Minnesota para acompanhar a evolução da infeção e Drª. Leonora Orantes (Marion Cotillard) responsável na sede da OMS pelo departamento de virologia, voa para Hong Kong para investigar as causas da infeção, enquanto o Dr. Ian Sussman (Elliott Gould) acompanha a evolução da doença e a investigação de uma vacina em S. Francisco.
As cenas desenvolvem-se em vários “tabuleiros”, tudo muito metódico e acético como convém fazendo-nos sentir o progresso da pandemia, com diálogos rápidos, desempenhos individuais setorizados, á medida que a infeção se desenvolve sem possibilidade de retorno.
Toda a história segue uma cronologia segura da crise em desenvolvimento, Soderbergh dá-nos pistas e permite que tenhamos as nossas suspeitas. É um filme de desastre, com pânico e caos, e no final, torna-se simplista e ingénuo, apresentando o primeiro dia do contágio e a origem do vírus, como que a dizer-nos que a globalização como solução económica pode trazer-nos reveses que não previmos. Teve o seu tempo, é certo, mas ainda continua visível, nomeadamente no tempo estranho que atravessamos.

Classificação: 6 numa escala de 10

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