Sinopse
Eles
tinham-se conhecido há muitos anos, um homem e uma mulher cujo fascinante e
inesperado romance, mostrado no agora icónico filme, revolucionou a forma como
compreendemos o amor.
Hoje,
o antigo piloto de automóveis de corrida parece incapaz de aceder às suas
memórias; para o ajudar, o filho procura a mulher que o seu pai não conseguiu
conservar, mas de quem não cessa de falar.
Anne volta a reunir-se com
Jean-Louis e a ligação entre os dois recomeça no ponto onde eles a tinham
deixado…
Opinião
por Artur Neves
Claude Lelouch, atualmente
com 83 anos, não se liberta da sua icónica obra-prima dos anos sessenta “Um
Homem e uma Mulher” de 1966, filme largamente premiado e vencedor do Oscar
desse ano, em que o jovem piloto de automóveis, Jean-Louis (Jean-Louis
Trintignant) vive um tórrido caso de amor, simples mas sublime, com Anne (Anouk
Aimée) e do qual já fez um remake em 1986, “Um Homem e uma Mulher: 20 anos
depois” cuja aceitação crítica não pôde ter influenciado este retorno ao tema,
pois esse filme ficou perdido na espuma do tempo, tal como até hoje se mantém.
Confesso que este autor já
foi um dos meus preferidos naquele tempo, complementado com duas obras que
reputo de muito interessantes; “Toda Uma Vida” de 1974, como introdução e “rascunho”
de argumento do também icónico “Uns e os Outros” de 1981, onde ele retrata
magistralmente o pós guerra europeu de 1939-45, entretecendo personagens significativos
para época, numa história que contempla os sobreviventes do Holocausto e
culmina na magistral interpretação do Bolero de Ravel, por Rudolf Nureyev na
praça Trocadero em Paris.
Desta vez Lelouch junta
novamente Anne e Jean-Louis, com 86 e 88 anos respetivamente, ela francamente
mais apresentável e vibrante do que ele, que exibe uma lamentável impotência física
e mental. Ele está ligado a uma cadeira de rodas, passa todo filme sentado na
cadeira ou num sofá onde revê a sua antiga apaixonada e a reconhece brevemente
por um movimento de remoção do cabelo dos olhos, mas toda a conversa entre os
dois remete-se ao que foram, ao que sentiram e às memórias do que viveram que
para Jean-Louis são sempre remotas e vagas. O único momento em pé de Jean-Louis
é quando, ajudado por Anne, executa uma transição entre o sofá e a cadeira de
rodas que promove a sua locomoção.
A magia do encontro é
preenchida com flashbacks do passado
que ambos viveram extraídos do filme de 1966, quando sentados no jardim da casa
de repouso que serve de abrigo a Jean-Louis, ou em pequenos passeios no Citroen
2CV de Anne, que se vêm a revelar sonhos e devaneios da mente perturbada de
Jean-Louis, enquanto sonha acordado com o amor que viveu e os fragmentos que
recorda.
A velhice, a degradação física
e mental das pessoas não será o elemento real mais importante para exibir num
filme e por mais curioso que seja, ver Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée
representarem os personagens que os fixaram no nosso imaginário, talvez pela
última vez, não terá o mesmo impacto nas novas gerações até aos 30 anos, para
os quais o “amor dos avós” significa apenas um dos factos que lhes deu origem,
ou para a geração até aos 60 anos, em que se consciencializa a eventual inevitabilidade
daquele futuro mas que todavia desconhece e não quer partilhar, ou na geração
posterior, que se assistir ao filme o olhará com indiferença, porque naturalmente
a imagem refletida naquele “espelho” não é reconfortante para a consciencialização
das suas capacidades perdidas.
A reunião tardia entre Anne e
Jean-Louis, revivendo o amor que viveram e os lugares onde o praticaram, poderia
ter acrescentado algo de novo á criação cinematográfica, mas tal não aconteceu
decorrente da demasiada recorrência ao filme de 66, em confronto com uma realidade
bem diversa que nada tem a ver com a desse tempo passado. O modo de Lelouch filmar
é idêntico, a envolvência das emoções pela música também, mas o primeiro é vida
pulsante, o segundo é o prenúncio da morte e cabe-nos a nós próprios definir o
momento de sair de cena pelos nossos próprios meios.
Classificação: 4 numa escala
de 10
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