7 de março de 2020

Opinião – “All the Bright Places” de Brett Haley


Sinopse

Baseado no romance best-seller internacional de Jennifer Niven, “All The Bright Places” conta a história de Violet Markey (Elle Fanning) e Theodore Finch (Justice Smith), que se encontram e mudam a vida, um do outro para sempre.
Enquanto lutam com as cicatrizes emocionais e físicas de seu passado, os dois adolescentes lidam com problemas pessoais e criam uma forte ligação, enquanto embarcam numa viagem para documentar os locais mais deslumbrantes do estado de Indiana.

Opinião por Artur Neves

Este é mais um filme da plataforma Netflix que está a introduzir alguma revolução no modo de ver cinema e de encarar o próprio espetáculo em si mesmo. Se até agora o cinema de estreia só estava acessível em sala dedicada, escura e com o ambiente adequado como norma, com esta plataforma pode assistir-se aos mesmos conteúdos num pequeno ecrã de 83” e 16x9, num pequeno tablet ou smartphone apoiado no colo, ou mesmo na velhinha televisão de tubo de raios catódicos se complementada por uma TVBox equipada com saída AV.
Obviamente que em cada uma das situações não temos a mesma experiência mas é o que o futuro nos trouxe e significa uma evolução tecnológica que cabe a cada um decidir se adere, em melhores ou piores condições, com incidência direta na sua carteira.
No caso presente a Netflix renomeia este filme para Portugal como; “Fala-me de um Dia Perfeito” e trata-se de uma história de amor romântico entre dois jovens perturbados psicologicamente por eventos anteriores que vamos conhecendo ao longo da história. Eles andam na mesma escola e só falam diretamente um com o outro quando Finch encontra Violet sobre o parapeito de uma ponte com intenções de se suicidar. A razão de Finch se encontrar naquele local, aquela hora, também não é a melhor mas o facto de ter convencido Violet a voltar para um lugar seguro, dá a ambos uma perspetiva renovada dos seus próprios problemas.
Finch é um aluno problemático, frequentemente envolvido em lutas e disputas físicas com raiva violenta que o tornam sinalizado para ser acompanhado num apoio psicológico especializado que ele aceita com desinteresse e um largo sorriso de desafio. Violet que já tinha sido uma borboleta social entre as suas colegas, estava agora remetida ao mutismo de uma solidão autoimposta pelo remorso de culpa no envolvimento da morte da irmã.
Brett Haley tenta assim uma adaptação difícil do drama escrito por Jennifer Niven, envolvendo os dois candidatos a apaixonados a sucessivas camadas de tristeza, suicídio (Finch autoflagela-se em sucessivas tentativas de suspensão da respiração por longos momentos na banheira e na piscina) e doença mental ao mesmo tempo que nos conduz ao aparecimento do amor límpido entre dois jovens perturbados.
Os trabalhos escolares motivam a insistência dele para que ambos constituam um grupo de trabalho, contra a relutância dela em aceitar a proposta, porém, depois de ter aceitado a sugestão, a recolha de dados implica a deslocação de ambos para diferentes locais do estado de Indiana (“Todos os locais Brilhantes” na referencia original do nome do filme) o que aumenta o conhecimento mútuo e constitui um objetivo real para a vida, para lá de Violet se interessar por Finch e de se pretender constituir como sua salvadora, como ele inicialmente fez com ela e ela não conseguiu ser para a sua irmã falecida.
Assim, o realizador apresenta-nos uma abordagem diferente ao comum amor jovem e romântico. Existem muitas dificuldades de relacionamento entre ambos numa ligação de amor em que a inspiração de morte está sempre presente. Os acontecimentos vão-se sucedendo e a relação torna-se dúbia, colocando a história num patamar de mistura entre trevas e luz a caminho do desequilíbrio, que não vou revelar para não estragar o interesse do filme.
Tal como na vida real as coisas podem ser muito desafiadoras ou desanimadoras e até totalmente desprovidas de esperança, mas vale sempre a pena procurar os lugares claros nos tempos sombrios, (no sentido original do título) ou procurar os momentos perfeitos nos dias sombrios (no enfoque do título para Portugal) para permitir que alguém à nossa volta se sinta menos isolado, e os 107 minutos de filme justificam essa premissa.

Classificação: 6 numa escala de 10

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