3 de março de 2020

Opinião – “Mulheres de Armas” de Peter Cattaneo


Sinopse

Kate (Kristin Scott Thomas), é a mulher perfeita de um oficial, que suporta com elegância e estoicismo uma vida de ansiedade e solidão, quando ele se encontra ausente em missões militares.
Encontrando liberdade em cantar, ela convence um grupo de mulheres da base a formar o Coro de Mulheres de Militares.
Uma das mulheres, Lisa (Sharon Horgan) – recém-chegada, rebelde, inconformada e inicialmente cética pelo amadorismo do grupo, vê-se rapidamente convencida pela amizade, humor e coragem do coro, assumindo com Kate a sua direção.
Na busca de uma voz única, Kate, Lisa e o coro fazem frente às convenções e às suas próprias diferenças pessoais.
Entoando sucessos da pop e hinos do rock, este extraordinário grupo de mulheres acaba por transformar um hobby num sucesso inesperado, a nível nacional.
Inspirado num fenómeno global da vida real, “Mulheres de Armas” com as suas mulheres luminosas dão-nos força a todos, para – unidos – superarmos os nossos medos.

Opinião por Artur Neves

Esta história, é baseada em factos reais como nos é mostrado no fim do filme, o conjunto de coros femininos de esposas de militares em diferentes bases inglesas por todo o território da Grã-Bretanha, onde mitigam os seus medos e angustias em conjunto, ocupando o tempo em atividades de canto coral amador.
Só que, e ainda bem, a história mostra muito para lá das atividades canoras das participantes, toda a envolvência e relacionamento entre as esposas dos militares em que cada uma assume implicitamente uma posição equivalente à patente do seu marido, muito embora o seu estatuto oficial de esposa não lhe confira isso por direito.
Deste modo, mostram-se as relações entre as pessoas quando submetidas a um convívio, se não forçado, pelo menos fortemente condicionado pelas circunstancias da vida castrense e da situação de missão no exterior dos seus cônjuges.
E aqui o filme destaca-se pelos pormenores que frequentemente exibe sobre a censura velada que umas exercem sobre outras, a crítica pelas atitudes e pelos conceitos que lhes determinam o modo de estar em sociedade, muito focado no comportamento dos filhos, na solidão do seu estado, no medo do telefone ou do aviso oficial do desastre que temem em receber (nós sabemos que alguém vai morrer) vivendo um ambiente de privação sexual que as constrange e lhes motiva múltiplas referencias mais ou menos críticas à condição que envolve todas.
Neste caldo de relações sociais existe sempre alguém que se destaca e nesta história é a “coronela” Kate (Kristin Scott Thomas), fria, distante, convencionalmente organizada, mas também muito magoada pela perda do filho em combate, à qual se opõe, Lisa (Sharon Horgan) a “sargenta principal” truculenta, intuitiva, com propensão para a bebida, com pouco gosto para a casa, intransigente para com a filha adolescente e farta das repetidas ausências do marido, que protagoniza com Kate o melhor e mais completo bate-boca sobre o casamento, o sexo e as atitudes sociais que ele, ou a sua falta, provocam.
Depois claro, temos o coro, o revivalismo de canções do imaginário inglês mais comum e conhecido, desde Cyndi Lauper aos cantores clássicos que serve também como confrontação entre duas mulheres empenhadas em fazer acontecer coisas mas cada uma à sua maneira, do seu jeito e segundo as suas premissas, uma com planeamento e organização e a outra de forma mais casual e deixando as outras mulheres descobrirem as suas preferências e o seu próprio caminho, separadas dos seus parceiros.
Por entre os risos e as confrontações do grupo existe um drama latente, em suspenso em cada uma delas, que se juntam para espantar os pensamentos mais sombrios e transformar a espera no purgatório mais ameno que possam conseguir. É um filme de pormenores, de retalhos de vida, de convívio comprometido, que forma um microcosmo interessante para ser visto.

Classificação: 6 numa escala de 10

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