Sinopse
Para Sama é simultaneamente
uma viagem íntima e épica pela experiência feminina da guerra. Uma carta de
amor de uma jovem mãe para a sua filha, o filme conta a história de vida de
Waad al-Kateab durante cinco anos de revolta em Alepo, na Síria, ao mesmo tempo
que se apaixona, se casa e tem a filha Sama, tudo enquanto o conflito
devastador cresce à sua volta. A sua câmara captura histórias incríveis de
perda, alegria e sobrevivência enquanto Waad luta com uma escolha impossível –
fugir ou não da cidade para proteger a vida da filha, quando sair significa
abandonar a luta pela liberdade, pela qual já sacrificou tanto.
Opinião
por Artur Neves
A revolução Síria é um
conflito interno que opôs a generalidade da população contra o presidente Bashar
al-Assad que se arroga ao direito divino de suceder ao seu pai, Hafez al-Assad
que ocupou o poder durante 30 anos, e governa o país com mão de ferro á 10 anos.
A inicial luta de poder alargou-se para domínios de natureza sectária e
religiosa incendiando a rivalidade entre Xiita e Sunitas. Os protestos
populares começaram em Janeiro de 2011 pelo que esta guerra civil já conta mais
de 9 anos de duração.
Este documentário reporta a
destruição de Alepo, segunda cidade do país a seguir a Damasco, capital da nação
Síria, através de mais de 500 horas de filmagens dos bombardeamentos e combates
na cidade efectuados pelo exército regular sírio, apoiado pela Rússia que apoia
Bashar al-Assad na sua sangrenta luta pelo poder, sem respeitar a população
civil a quem acusa de terroristas.
As filmagens foram feitas
por Waad al-Kateab, jornalista autodidacta que mantinha ligação com a
distribuição de notícias na televisão independente da Grã-Bretanha. As filmagens
foram inicialmente feitas com smartphone
e posteriormente com uma Handycam Sony
como pode ver-se no filme. Waad é casada com Hamza, médico no único hospital em
funcionamento em Alepo e activista político numa facção resistente ao governo
central.
O casal e a filha Sama já
abandonaram Alepo, pouco antes da tomada da cidade pelas forças do exército
regular, tendo levado consigo para o exterior os discos com todo o material
filmado, vivendo actualmente em Londres onde preparou o presente documentário
com a ajuda do Channel 4, moldando-o neste filme, que documenta a destruição
sistemática da cidade.
O filme é narrado pela
autora num tom pausado e dramático sobre as imagens e os sons da guerra e
destruição a que assistiram ou que filmaram, deixando a câmara em funcionamento
e ausentando-se por segurança dos locais. O filme inclui os acontecimentos até
5 anos antes da destruição de Alepo que nos são apresentados como flashbacks que contrapõem a situação actual
onde se desenrola a maior parte do documentário.
Em todo o filme Waad reporta
os casos individuais da morte de pessoas que chegam ao hospital com as mais
variadas feridas de guerra e das condições de assistência que lhe são prestadas,
por pessoal dedicado, mas sem meios suficientes para as salvar. É a parte mais
dura do filme em que vemos crianças estropiadas, com feridas na cabeça, ou
mesmo já mortas e que os familiares que as transportaram não identificaram.
A filha, Sama surge aqui
como a depositária da esperança que os anima e o objectivo de vida futura pelo
qual eles lutam e morrem todos os dias em Alepo. Sama, além de filha deles é
filha do hospital, por corporizar a razão de toda a dedicação ao próximo e
também a expiação pelo facto de a terem trazido para um mundo em desagregação.
Este filme foi nomeado na
classe de documentário para os prémios BAFTA e embora não o tendo ganho
constitui um testemunho ocular de um regime que continua em guerra com o seu
povo, que mesmo sendo sujeito a um banho de sangue conserva as sementes da
esperança.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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