Sinopse
Quando
Shannan Gilbert, de 24 anos, desaparece misteriosamente certa noite, a sua mãe
Mari (Amy Ryan) inicia um percurso obscuro onde tem de encarar difíceis
verdades sobre a sua filha, sobre si própria e ainda a indiferença da polícia.
Determinada
a encontrar a sua filha, Mari Gilbert revisita os últimos passos conhecidos de
Shannan, levando a cabo a sua própria investigação que a conduz a uma
comunidade fechada nos arredores de Long Island. As suas descobertas obrigam as
autoridades e os meios de comunicação a revelar mais de uma dezena de
homicídios de profissionais do sexo por resolver - vidas de jovens que Mari não
deixará que caiam no esquecimento.
Inspirado no livro "Lost Girls: An Unsolved
American Mystery", de Robert Kolker.
Opinião
por Artur Neves
Nestes dias estranhos o streaming da Netflix é uma opção para a
ocupação do tempo que nos resta e no caso do presente filme trata-se de mais
uma teatralização da vida real com base numa história verídica, que
infelizmente não é nova, ao ponto de já pertencer a um livro que não permite
que estes casos caiam no esquecimento.
A história que este filme
nos conta é real e sombria e relata o mistério do desaparecimento de uma
profissional do sexo de 24 anos que sendo perseguida na noite do dia 1 de Maio
de 2010 e apesar de conseguir realizar uma chamada para a linha de emergência e
de pedir socorro, não foi atendida e a polícia demorou dias antes de organizar
uma investigação, depois da comunicação de desaparecimento feita pela sua mãe e
após transcorrido o prazo legal para que a sua ausência seja considerada
desaparecimento, a partir da data da denúncia.
No telefonema ela ainda
conseguiu gritar “eles estão tentando matar-me” mas a hora avançada e o local
da chamada, indiciavam uma atividade censurável muito comum da zona que implica
um estigma social. Só uma mãe lamenta a sua filha desaparecida, seja ela
trabalhadora do sexo ou não, e sabe que ela nunca será considerada como;
“amiga, filha, irmã” de alguém, mas sempre e só, com o estigma da sua
atividade.
Embora a história reporte um
caso de polícia o argumento faz da mãe de Shannan Gilbert a protagonista, com o
sabor amargo de ser também corresponsável pela atividade profissional da fila
decorrente do abandono a que a votou, na sequência do seu divorcio, crise de
bebida e droga e abandono pessoal.
Hoje Mari já está recuperada,
procura a redenção através da sua luta diária em manter a estabilidade social e
suprir as necessidades das suas duas filhas mais novas, através do trabalho que
desenvolve em dois empregos modestos em Ellenville, Nova York. Todavia isso não
lhe alivia o remorso das muitas coisas que ela não sabia, ou que recusava saber,
sempre que pedia dinheiro a Shannan Gilbert para satisfazer os seus vícios.
É também a história de uma
mulher com raiva de si, que não pode aceitar sozinha o remorso da sua culpa,
tentando incluir a sociedade que igualmente não lhe foi favorável. Ela acusa a polícia
de inação e desinteresse, afirma que fez tudo pela filha, sem acreditar no que
diz e movida pela vergonha, organiza uma manifestação de protesto com as mães
das outras raparigas, cujos cadáveres foram encontrados pela polícia na mesma
área, quando finalmente se decidiram iniciar uma investigação. Mari (Amy Ryan) constrói
aqui um personagem credível de meia idade, com um rosto duro e sem brilho,
emoldurado por uma cabeleira loura que contrasta com a sua expressão de raiva e
remorso.
É pois uma história
multifacetada que apresenta uma atitude defensiva e reacionária da polícia, que
se opõe à angústia de mães enlutadas, em luta contra a proteção das autoridades
aos ricos e poderosos que embora suspeitos, não passam dessa condição. Aliás, Richard
Dormer (Gabriel Byrne) encarregado da investigação é um homem cansado, vencido
pela vida e à beira da reforma que ele não pretende complicar. Interessante e
emotivo, vale a pena ver.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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