17 de fevereiro de 2020

Opinião – “SEBERG - Contra todos os Inimigos” de Benedict Andrews


Sinopse

Jean Seberg (Kristen Stewart) é já uma conhecida atriz e apoiante do movimento pelos direitos civis, quando se envolve por Hakim Jamal (Anthony Mackie), um carismático ativista do movimento Black Power, e o seu relacionamento rapidamente passa de político para romântico. Esse envolvimento fazem dela um alvo do FBI, e os agentes Jack Solomon (Jack O'Connell) e Carl Kowalski (Vince Vaughn) tudo fazem para documentar esta relação.
Jack torna-se obcecado e atraído pela presença luminosa de Jean, o que a leva a perceber que está a ser seguida, tornando-se cada vez mais psicologicamente instável.
Empenhados em desacreditar Jean e o próprio movimento, o FBI lança informações escandalosas que dilaceram a família de Jean e erguem uma barreira entre ela e as suas paixões. Horrorizado com o impacto desta ação e envergonhado pela sua participação nela, Jack embarca numa missão de salvação e redenção que o coloca por momentos em contacto direto com Jean. Para ele, é simultaneamente um confronto com a sua obsessão e um ponto de viragem moral. Para Jean, é a confirmação de que foi vítima de um sistema corrupto e um reflexo do papel que desempenhou no seu próprio desenlace.

Opinião por Artur Neves

Com a extensa sinopse anterior enviada pelo distribuidor, a história de Jean Dorothy Seberg fica contada pelo que a seguir ficamos com a oportunidade de nos dedicarmos ao filme que Benedict Andrews nos apresenta. Realizador australiano nascido em Adelaide em 1972, e educado no Flinders University na Austrália, que não conta no seu histórico profissional com trabalhos de relevo, para o qual este biopic de Jean Seberg poderia ser a sua rampa de lançamento.
Poderia, mas definitivamente não é!... A história é boa, apresenta potencial de desenvolvimento noutras mãos que lhe saibam conferir a denúncia pública de interferência abusiva da poderosa organização de investigação americana, FBI, na vida particular e íntima de uma cidadã americana cuja verdadeira culpa é o desejo de igualdade entre as pessoas independentemente da sua cor de pele, contribuindo para essa causa com o seu dinheiro e a sua pessoa, imbuída de um espírito de justiça ingénuo, impróprio para a luta pelo poder, pensando que toda a sua vida pode continuar igual ao que era, apesar de se ter apaixonado pelo líder da organização Black Power e de permitir que a própria organização utilize as suas doações para fins diferentes dos inicialmente anunciados; a educação de crianças e jovens com vista a um mundo melhor (já nos cruzámos com isto tantas vezes!... que até doi…).
O que Benedict Andrews nos mostra é uma narrativa sem alma, dececionante e baseada em clichés sobre a vida da atriz, fantasiando a existência de um agente “bonzinho”, Jack Solomon, que tem muita pena e sente-se muito mal com o que está fazendo sem contudo deixar de continuar a praticar o mesmo registo e que num momento de remorso insuportável subtrai clandestinamente o dossier da atriz dos arquivos e leva-o para o mostrar a Jean Seberg numa atitude de patético arrependimento que não contribui literalmente para nada, nem para a justiça, nem para a condenação do Black Power, nem para a sua redenção ao serviço da torcionária organização, nem para a sua própria vida pessoal, já parcialmente desfeita com sua esposa Linette Solomon (Margaret Qualley) que suspeita que ele tem um caso decorrente do seu mutismo, tristeza e abandono em casa. Daqui, o sobre título do filme: “Contra todos os Inimigos”. Não há evidências históricas sobre este personagem, nem tão pouco que o FBI tenha sido acometido de alguma “dose de arrependimento” depois da sua intervenção.
Quanto aos outros personagens, Benedict também não os trata bem, são figuras menores, mostrando somente a sua relação com a atriz, sem “espessura”, sem a densidade dramática que a luta contra a segregação nos USA sempre motivou. São pouco mais do que folclóricos.
Salva-se Kristen Stewart que apresenta um bom desempenho como Jean Seberg, não só constituindo uma escolha feliz considerando as suas semelhanças físicas com a atriz, como mostrando que ainda se está revelando e tem muito para dar. Depois da saga Twilight em três partes que a projetou ao estrelato do público mais jovem e da sua boa prestação em “A Vingança de Lizzie Borden” de 2018 (já comentada neste blogue) temos aqui uma representação madura que só peca pelo que a narrativa não soube explorar, para ela vai toda a classificação a seguir indicada.

Classificação: 6 numa escala de 10

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