Sinopse
O escritor e realizador Taika Waititi (“Thor:
Ragnarok”, “Hunt for the Wilderpeople”), traz-nos o seu habitual humor e
dedicação no novo filme “Jojo Rabbit”, uma sátira sobre a Segunda Guerra
Mundial, que conta a história dum solitário rapaz alemão (Roman Griffin Davis)
cujo mundo foi virado avesso quando este descobre que a sua mãe (Scarlett Johansson)
esconde no sótão uma jovem judia (Thomasin McKenzie). Apoiado apenas pelo seu
amigo imaginário, Adolf Hitler (Taika Waititi), Jojo é obrigado a confrontar-se
com o seu nacionalismo cego.
Opinião
por Artur Neves
Não sei se será boa ideia
misturar holocausto com comédia, sobretudo porque se trata de comédia fantástica
em que o próprio Adolf Hitler é o amigo imaginário de Jojo Betzler “Rabbit” (Roman
Griffin Davis) um garoto alemão de 10 anos com um amor fanático pela causa Hitleriana
e que tem o próprio Hitler como seu mentor espiritual e hóspede dos seus
pensamentos e dos seus desejos.
Este filme estreou em 2019
no Festival de Cinema de Toronto e recebeu o galardão “People's Choice Award” por ter sido escolhido pelo público, tendo
descartado; “História de Casamento” e “Parasita”, pelo que causou alguma
estranheza considerando que este galardão já premiou algumas obras que
posteriormente se vieram a revelar merecedoras do Oscar.
O humor utilizado emprega
muitas piadas repentistas e diretas que nem causam muito riso porque se fundamentam
ou na inépcia de Jojo, que se fere gravemente num treino de campo da juventude Hitleriana,
quando auto inflamado pela doutrina nazi, sofre o rebentamento de uma granada
que ele próprio tinha atirado, ou na grotesca assistente Fraulein Rahm (Rebel
Wilson) do Capitão K (Sam Rockwell) que só pelo seu aspeto e atitude, pretende
evocar o riso quando serve o Capitão K, um militar expulso do exército
principal por andar sempre bêbado, a quem deram a missão de formar os novos
recrutas. Não há elevação nos diálogos, nem subtileza nas conversas, nem
qualquer segundo sentido nas alusões. Rosie (Scarlett Johansson) que faz de mãe
de Jojo, constrói um personagem esteriotipado pouco convincente.
“Jojo Rabbit” baseia-se num romance
de uma autora belga / neozelandesa, Caging Skies e não é uma história cómica,
nem inclui Hitler como modelo ideológico de Jojo, sendo esta uma ideia
peregrina (acho eu) do realizador Taika Waititi, descendente de maori, judeu e irlandês
e que se descreve como “judeu polinésico”, que assumiu esse papel construindo
um “Hitler”, em versão maníaca, meio idiota e infantil, muito distante do arquétipo
que a juventude Hitleriana deveria inculcar nas mentes em formação dos seus
membros e impossível de ter sido concebido pela mente de um miúdo de 10 anos,
fanático pela doutrina e pelo personagem. Esta é portanto uma gritante discrepância
que contrasta com o contexto sombrio do personagem real, tornando o resultado
algo excêntrico.
Jojo é um rapaz preocupado
com a guerra, com o seu resultado, com o futuro, com os nazis que matam pessoas
nas ruas da sua cidade e que mataram a sua mãe e que neste sentido pode ser
encarado como o despertar da inocência de uma criança. Os torcionários, a
polícia política, são representados como palhaços estúpidos, mas não nos
esqueçamos que eles não foram inofensivos, foram eles que executaram o
Holocausto, que está subjacente na judia Elsa (Thomasin McKenzie) de 16 anos, que
Rosie abrigou no sótão de sua casa e que por isso morreu quando foi denunciada.
Pode também considerar-se
que “Jojo Rabbit” é um filme ousado por abordar de forma ligeira a questão mais
dramática do século XX, mas a sua ausência de condenação explícita, numa
narrativa de banalização do Holocausto, não previne nem erradica a sua
indesejada repetição e neste aspeto não é feliz no seu argumento.
Classificação: 5,5 numa
escala de 10
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