26 de janeiro de 2020

Opinião – “Mulherzinhas” de Greta Gerwig


Sinopse

A realizadora e argumentista Greta Gerwig (Lady Bird) apresenta uma versão de “Mulherzinhas” que se baseia não só no romance clássico de Louisa May Alcott, como também nas notas deixadas pela autora. Esta história, vai desdobrando-se no alter ego da autora, Jo March, à medida que esta leva a sua vida real para a sua obra ficcional. Na opinião de Gerwig, a adorada história das irmãs March - quatro jovens determinadas a viver a vida à sua maneira - é intemporal e oportuna. Retratando Jo, Meg, Amy e Beth March, este filme é protagonizado por Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, com Timothée Chalamet no papel do seuvizinho Laurie, Laura Dern como Marmee e Meryl Streep como tia March.

Opinião por Artur Neves

Este é o oitavo filme sobre o romance clássico de Louisa May Alcott numa realização salpicada de reflexos #Metoo, considerando a modernidade com que o argumento é abordado transformando as meninas que atingiram a maioridade em 1860 apenas dedicadas ao lar e à vida doméstica da época, em raparigas modernas, conscientes de si e das suas vontades e do seu desejo de independência e autonomia em relação aos costumes e tradição com que foram educadas.
Alcott escreveu o romance por encomenda do seu editor e impregnou-o da sua autobiografia de tal modo que Jo é um personagem baseado em si mesma e com a mesma ânsia de se tornar escritora e através disso afirmar-se na sociedade do seu tempo.
Greta Gerwig, atriz e realizadora americana que já nos deu “Lady Bird” em 2017 e o excelente desempenho de Frances em “Frances Há” em 2012 pega nesse facto logo no início do filme, mostrando-nos Jo March (Saoirse Ronan, fabulosa como sempre) entrando nos escritórios de uma editora em Nova Yorque para apresentar o seu primeiro trabalho que é imediatamente corrigido com desdém pelo responsável, embora veja nela o potencial de escritora que se vem a revelar posteriormente.
A partir daqui o filme recua e avança no tempo mostrando-nos a Jo do passado e a sua vida em casa, com as irmãs e o pai ausente na guerra da secessão e a mãe Marmee March (Laura Dern) que desenvolve um personagem cheio de força e de carácter, embora doce e silencioso nas ocasiões de sofrimento e drama, como o esteio que mantém a família unida.
Este modo inovador de apresentar a história é sem dúvida o resultado de um rasgo de inteligência de Greta Gerwig que com indicações subtis nos posiciona antes e depois, entrelaçando os factos identitários de cada tempo e de cada local. Tem como contra, o facto de exigir mais atenção do espectador para não se confundir no tempo com os factos apresentados. A nota que sublinha o classicismo da época coube à tia March (Meryl Streep) que sem qualquer disfarce para a sua idade real é a única que recomenda às sobrinhas que se casem com um homem rico para assegurarem a sua subsistência financeira, exemplificando com a sua vida celibatária, só possível devido ao dinheiro que já possui.
Por outro lado a modernidade de abordagem de um romance do século XIX revelada neste filme, faz-nos sentir que os personagens têm carne e sangue em alvoroço nas suas veias, assemelham-se a pessoas reais, nossos colegas, nossos vizinhos, pessoas que conhecemos e dos quais conhecemos a história, muito diferente das meninas bem comportadas de antanho tradicionalmente apresentadas. Para mim é a melhor das oito adaptações existentes e muito embora a representação da sociedade de uma época clássica se mantenha, está despida do servilismo e obediência submissa que a caracterizava.

Classificação: 7 numa escala de 10

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