Sinopse
A realizadora e argumentista Greta Gerwig (Lady Bird)
apresenta uma versão de “Mulherzinhas” que se baseia não só no romance clássico
de Louisa May Alcott, como também nas notas deixadas pela autora. Esta
história, vai desdobrando-se no alter ego da autora, Jo March, à medida que
esta leva a sua vida real para a sua obra ficcional. Na opinião de Gerwig, a
adorada história das irmãs March - quatro jovens determinadas a viver a vida à
sua maneira - é intemporal e oportuna. Retratando Jo, Meg, Amy e Beth March,
este filme é protagonizado por Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza
Scanlen, com Timothée Chalamet no papel do seuvizinho Laurie, Laura Dern como
Marmee e Meryl Streep como tia March.
Opinião
por Artur Neves
Este é o oitavo filme sobre
o romance clássico de Louisa May Alcott numa realização salpicada de reflexos
#Metoo, considerando a modernidade com que o argumento é abordado transformando
as meninas que atingiram a maioridade em 1860 apenas dedicadas ao lar e à vida
doméstica da época, em raparigas modernas, conscientes de si e das suas vontades
e do seu desejo de independência e autonomia em relação aos costumes e tradição
com que foram educadas.
Alcott escreveu o romance
por encomenda do seu editor e impregnou-o da sua autobiografia de tal modo que
Jo é um personagem baseado em si mesma e com a mesma ânsia de se tornar escritora
e através disso afirmar-se na sociedade do seu tempo.
Greta Gerwig, atriz e
realizadora americana que já nos deu “Lady Bird” em 2017 e o excelente
desempenho de Frances em “Frances Há” em 2012 pega nesse facto logo no início
do filme, mostrando-nos Jo March (Saoirse Ronan, fabulosa como sempre) entrando nos escritórios de
uma editora em Nova Yorque para apresentar o seu primeiro trabalho que é
imediatamente corrigido com desdém pelo responsável, embora veja nela o potencial de
escritora que se vem a revelar posteriormente.
A partir daqui o filme recua
e avança no tempo mostrando-nos a Jo do passado e a sua vida em casa, com as
irmãs e o pai ausente na guerra da secessão e a mãe Marmee March (Laura Dern)
que desenvolve um personagem cheio de força e de carácter, embora doce e
silencioso nas ocasiões de sofrimento e drama, como o esteio que mantém a
família unida.
Este modo inovador de
apresentar a história é sem dúvida o resultado de um rasgo de inteligência de Greta
Gerwig que com indicações subtis nos posiciona antes e depois, entrelaçando os
factos identitários de cada tempo e de cada local. Tem como contra, o facto de
exigir mais atenção do espectador para não se confundir no tempo com os factos apresentados.
A nota que sublinha o classicismo da época coube à tia March (Meryl Streep) que
sem qualquer disfarce para a sua idade real é a única que recomenda às
sobrinhas que se casem com um homem rico para assegurarem a sua subsistência financeira, exemplificando
com a sua vida celibatária, só possível devido ao dinheiro que já possui.
Por outro lado a modernidade
de abordagem de um romance do século XIX revelada neste filme, faz-nos sentir
que os personagens têm carne e sangue em alvoroço nas suas veias, assemelham-se
a pessoas reais, nossos colegas, nossos vizinhos, pessoas que conhecemos e dos
quais conhecemos a história, muito diferente das meninas bem comportadas de
antanho tradicionalmente apresentadas. Para mim é a melhor das oito adaptações
existentes e muito embora a representação da sociedade de uma época clássica se
mantenha, está despida do servilismo e obediência submissa que a caracterizava.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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