30 de janeiro de 2020

Opinião – “Amor à Segunda Vista” de Hugo Gélin


Sinopse

Quando Raphaël (François Civil) conheceu Olívia (Joséphine Japy) no secundário, foi amor à primeira vista. Após 10 anos de casamento feliz e uma carreira próspera como autor de best-sellers, Raphaël tem tudo – ou pelo menos assim o pensa.
Após uma enorme discussão entre o casal, Raphael acorda numa vida paralela onde é solteiro, jogador de pingue-pongue e professor do ensino secundário, com uma vida pouco interessante e demasiado colada à do seu melhor amigo de infância.
Percebendo que Olívia era tudo para si, Raphael terá de fazer o impossível para reconquistar o amor de sua vida – que neste mundo não faz a mínima ideia de quem ele é.

Opinião por Artur Neves

Este filme combina comédia romântica com ficção científica na qualidade de realidade paralela que na minha opinião “não bate a bota com a perdigota”. Comédia romântica é o género normal de filmes com adolescentes embevecidos com a descoberta do amor e das suas revelações no contexto que valem por si próprias. Realidade paralela é um tema ainda com conceção abstrata no âmbito da teoria de Einstein que tem pouco a ver com romantismo, exceto para Hugo Gélin, o realizador francês nascido em Paris em 1980, que nos apresenta a história resumida na sinopse.
Quem está familiarizado com comédias românticas, e reconheço com todo o respeito que existe um público dedicado ao género, é fácil aceitar que os produtos saídos de Hollywood são mais emocionantes do que os europeus, muito particularmente os de origem francesa, normalmente com histórias mais rebuscadas do que os primeiros. Todavia neste caso, Hugo Gélin consegue “tricotar” com assinalável desenvoltura um caso de amor à primeira vista entre dois personagens; Raphaël e Olívia que nos transmitem toda a simplicidade, a beleza do primeiro amor vivido intensamente e para a vida, consumado no casamento perfeito.
Porém, como a vida não é perfeita contagia o amor da sua imperfeição com os objetivos para atingir, os compromissos profissionais, as contas para pagar, as diferenças individuais que inevitavelmente agudizam a relação e o afastamento surge, como aconteceu com os nossos amantes perfeitos. Isto é normal, humano, real, está a acontecer a alguém ou já nos aconteceu a nós próprios na nossa realidade pessoal. É reconhecível a todos os níveis.
No limite as pessoas separam-se, vão cada uma para seu lado mantendo ou não o contacto entre si, é opcional. Em muitos casos começa aqui a saga da reconstrução, do reencontro e nas comédias românticas como já sabemos que os dois acabarão juntos o mais interessante é saber como foi, como superaram as suas diferenças, como cederam mutuamente nas suas premissas iniciais, donde normalmente resultam boas histórias de vida.
Mas Hugo Gélin meteu a “bucha” da realidade paralela, ele passou a viver noutro mundo (que se existisse alguns já teriam passado para lá porque este já vai ficando saturado) ela deixou de o reconhecer mesmo olhando para ele e falando-lhe, ele deixou de fazer o que fazia e infantilizou-se, esqueceu-se de si e caiu numa vida que já não era a sua (curiosamente, não esqueceu Olívia nem o amigo do peito Félix - Benjamin Lavernhe) e procura recuperar a sua amada noutro dia de nevão igual ao dia em que a perdeu. Lindo!...
Consegue isso reescrevendo todo o romance em que no final, (teria bastado reescrever somente o final… não?...) mata a sua companheira, avatar de Olívia, que deu origem a esta trapalhada.
Uma boa comédia romântica deve contar uma bela história de amor, creio que o leitor concorda comigo, e esta até tem um grande amor, comédia, alguma surpresa e é bem disposta, mas a “bucha” da realidade paralela, neste contexto, dá me volta ao estômago. Uma pena!...

Classificação: 5 numa escala de 10

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