28 de janeiro de 2020

Opinião – “Ladrões com Arte” de Matt Aselton


Sinopse

Ivan (Theo James), um ladrão de arte bem-sucedido, herda a vida de crime do pai, mas ao contrário de muitos ladrões, Ivan adora tanto a arte como a arte de roubar. Anseia por se livrar do mundo do crime, mas está de tal maneira envolvido nele que pode nunca conseguir sair. Até que conhece Elyse (Emily Ratajkowski), uma atriz e vigarista que tenta fugir ao seu próprio passado caótico. Juntos, vão realizar o derradeiro golpe, que não vai deixá-los ricos, mas sim libertá-los.

Opinião por Artur Neves

“Ladrões com Arte” é um filme espirituoso, agradável de ver, com graça subtil em algumas cenas, muito por causa do carisma do seu personagem principal Ivan (Theo James), que desenvolve uma boa química com Elyse (Emily Ratajkowski), depois de acidentalmente se conhecerem numa festa em que qualquer dos dois não engana o outro sobre os seus verdadeiros objetivos e os leva a brincar entre si duma maneira elegante e cúmplice.
O filme começa com a citação de um provérbio curioso que não resisto em reproduzir; “Quando um ladrão te beijar, conta os dentes” que encerra em si todo o argumento. Isto é, mesmo para aqueles em quem confias não deixes de estar atento ao próximo movimento, pois pode não corresponder ao esperado. É assim que se desenrola toda a dinâmica entre Ivan e Elyse num meio em que ambos tentam sobreviver com os seus próprios recursos mesmo que não sejam os mais honestos.
O realizador americano Matt Aselton, que também escreveu o argumento em conjunto com Adam Nagata mostra-nos uma ficção de um ladrão experiente e inteligente, que usa meios técnicos sofisticados para subtrair aos ultra ricos obras de arte valiosas, cobiçadas por outros colecionadores, que encomendam os seus desejos a Dimitri (Fred Melamed) que por sua vez usa meios de persuasão sobre Ivan para que ele os roube para ele. O falecido pai de Ivan era um viciado em apostas e jogo e tem uma dívida não saldada para com Dimitri que este usa para forçar Ivan a trabalhar para ele. Elyse também tem dívidas para um produtor de cinema que a ameaça com o fim da sua carreira se não lhe pagar. Assim a aliança entre Ivan e Elyse começa por ser baseada numa mútua ajuda para a resolução dos problemas de ambos mas depressa passa para outro nível como é de esperar nestas aventuras ligeiras.
O argumento é escorreito e está bem contado sendo as cenas dos furtos suficientemente emocionantes, explicadas com pormenor em flashback e complementadas por uma banda sonora eletrónica, entrecortada e nervosa que confere uma certa tensão às cenas de furto. Toda a ação é credível e desenvolve-se em ambiente calmo sem tiros nem violência, prosseguindo ao jeito de “O Grande Mestre do Crime” de 1968, sem a aura de Steve McQueen e Faye Dunaway bem entendido, mas bem entregue ao ponto de constituir um filme digno.
No fundo eles roubam porque gostam e precisam e nós gostamos de os ver roubar daquela maneira elegante e airosa a quem não merece ser poupado a esse roubo. É também um filme que ensaia atitudes desviantes, sem dúvida, mas simultaneamente inofensivo, inteligente, que combina comédia ligeira com ação, drama e romance que se adivinha, com destreza fluida em 100 minutos. Gostei e recomendo.

Classificação: 6 numa escala de 10

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