11 de janeiro de 2020

Opinião – “1917” de Sam Mendes


Sinopse

Sam Mendes, o realizador vencedor de um Óscar® de 007: Skyfall, 007 Spectre, Revolutionary Road e Beleza Americana, traz a sua visão singular a este épico sobre a Primeira Guerra Mundial, 1917.
No auge da Primeira Guerra Mundial, dois jovens soldados britânicos, Schofield (George MacKay, Capitão Fantástico) e Blake (Dean-Charles Chapman, A Guerra dos Tronos), recebem uma missão aparentemente impossível. Numa corrida contra o tempo, têm de atravessar território inimigo e entregar uma mensagem que impedirá um ataque letal contra centenas de soldados, entre eles o irmão de Blake.
1917 é realizado por Sam Mendes, que escreveu o argumento com Krysty Wilson-Cairns (Penny Dreadful, da Showtime). O filme é produzido por Mendes e Pippa Harris (Revolutionary Road, Um Lugar para Viver) para a sua produtora Neal Street Productions, e por Jayne-Ann Tenggren (produtora associada, 007 Spectre), Callum McDougall (produtor executivo, O Regresso de Mary Poppins, 007: Skyfall) e Brian Oliver (Rocketman, Cisne Negro).

Opinião por Artur Neves

Literalmente e de acordo com o resumo reportado na sinopse, esta história trata-se de; “Levar a carta a Garcia”. Esta frase está ligada à guerra entre os Estados Unidos e Espanha por causa da renhida disputa sobre domínio da ilha de Cuba, em que o presidente norte-americano Wiliam Mckinley encomendou a um dos seus subordinados a tarefa de entregar uma carta ao comandante rebelde das forças de guerrilha, Garcia de seu nome, o que motivou ao militar ter de percorrer, montes, vales, selvas e praias para cumprir a empresa que o seu presidente lhe incumbiu. E é disto que trata este filme!...
Não se pense todavia, que por isso é um filme menor, não, longe disso. É uma história impressionante baseada num relato do avô do realizador, Alfred Mendes que participou na 1ª guerra mundial, sobre um aviso de emboscada às tropas inglesas, pelas tropas alemãs em retirada para a Linha Hindenburg, durante a operação Alberich, em Abril de 1917, em solo Francês.
Todo o filme reconstrói com bastante minúcia o ambiente vivido nesse conflito mundial de uma forma crua e realista através da magnífica fotografia de Roger Deakins que carateriza aquela paisagem árida, cheia de morte e desolação, com todos os tons possíveis de marron para nos fazer sentir o generalizado ambiente de abandono e morte, tanto na visão de uma guerra sombria e macabra, como na parte final, desesperada e alucinatória.
Inicialmente temos a caminhada sobre terra de ninguém, pelas trincheiras abandonadas e armadilhadas que iam custando a vida a Schofield. As casas abandonadas ao longo do caminho geradoras de medo pelo desconhecido, causando um horror casual e cuidados na sua progressão. A morte de Blake, quando este tentava socorrer um piloto de um avião alemão abatido, em que este lhe “paga” a ajuda com uma facada no ventre. É o horror da guerra e da desumanidade mostrando-nos que sempre que existam dois seres humanos geram-se diferendos.
Posteriormente o ambiente muda para uma neblina laranja, depois do encontro com uma aldeia em ruínas, um ferido alemão entrincheirado nas ruínas duma casa que dispara sobre Schofield e uma mulher que recolheu uma criança abandonada, embora sem meios para a alimentar, limpa-lhe as feridas. A fuga da aldeia, sob uma iluminação projetada de cima para baixo gerando sombras móveis das ruínas das casas destruídas assemelha-se a uma perseguição demoníaca. Não há qualquer lugar seguro, até as sombras são fugazes, não conferem qualquer proteção. Sam Mendes apresenta aqui uma realização técnica impressionante e um ambiente de holocausto muito bem conseguido, capturando todo o cenário assustador dos filmes de guerra.
Mais uma vez temos um filme que ilustra a futilidade da guerra, mas a guerra está na mente dos homens, faz parte da sua natureza e não são os 22 milhões que pereceram neste conflito que muda alguma coisa, ou sequer altera essa condição e com tal é útil ser lembrada, revisitada, com a proximidade deste filme que nos apresenta a banalidade dos seus objetivos.
Só que, Sam Mendes está a contar uma história do seu avô e conta-a de uma forma escorreita, direta, linear. Não á cortes da linha ficcional nem narrativas paralelas. É contada como se fossem criadas imagens ao sabor das palavras do narrador. É o que eu chamo; um filme para olhar. Quando acaba a história (quando a carta é entregue a Garcia) tudo se acaba. O próprio Schofield, consciente do dever cumprido senta-se junto de uma árvore nua a contemplar as fotos de família. Se não se registar algo na memória nada fica. É pouco para um globo de ouro, embora seja um filme de guerra de alta qualidade técnica.

Classificação: 8 numa escala de 10

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