Sinopse
Nesta
divertida e inspiradora história, baseada numa mentira de verdade, Billi
(Awkwafina), nascida na China e criada nos EUA, regressa relutantemente a
Changchun para descobrir que, embora toda a família saiba que a sua adorada avó
Nai Nai tem poucas semanas de vida, decidiram em conjunto não contar nada à
própria Nai Nai.
Para
garantir a felicidade dela, reúnem-se sob a alegre fachada de um casamento
acelerado, unindo membros da família espalhados pelo estrangeiro. Ao navegar
pelo campo minado das expectativas e convenções da família, Billi descobre que
há muito para celebrar: uma oportunidade para redescobrir o país que deixou em
criança, o maravilhoso espírito da avó e os laços que se mantêm, mesmo quando
muito fica por dizer.
A Despedida é uma celebração sincera, não só da forma
como interpretamos a família, mas também da forma como a vivemos, construindo
magistralmente uma representação delicadamente bem-humorada de uma boa mentira
em ação.
Opinião
por Artur Neves
Com a história resumida na
sinopse anterior, de cariz muito simples e direto para poder desdobrar-se
posteriormente nas apreciações dos comportamentos e na análise das motivações que
justificam o comportamento acima descrito, pensava eu, o filme opta por enveredar
pela tradição que o sustenta concentrando-se na escritora chinesa / americana
Billi Wang (Awkwafina) e na sua deslocação imprevista a Changchun para participar
na piedosa mentira que toda a família orquestrou para a poupar, não à morte
anunciada, mas ao medo que o seu passamento lhe provocará, como acerta altura
justifica a mãe de Bili, filha de Nai Nai (Shuzhen Zhao) sobre as razões do
procedimento familiar para esta mentira.
Assim, até à data do
casamento, imposto para suportar a mentira, a história desfila as diferentes
relações interpessoais no seio da família através da representação dos rituais
familiares chineses que à cultura ocidental podem parecer estranhos, infantis, poereis
e algo idiotas, como por exemplo a prolongada e insistente conversa do
empregado do hotel para se penitenciar da avaria do elevador que provocava a
sua imobilização.
Bili, a chinesa assimilada
que vive em Bushwick, Brooklyn, a neta e a filha que nem os seus pais
convidaram para tal empreendimento, assume-se como ocidental que não encaixa na
tradição, nos rituais e nas idiossincrasias familiares de que ela se afastou na
grande cidade, embora nutrindo um amor pela sua avó que a faz vacilar na sua
determinação e encarar os vários mundos a que está ligada, um por nascimento,
outro por opção.
A argumentista e realizadora
Lulu Wang, que estudou no Boston College, serve-se deste filme para apresentar
os detalhes do seu povo e da sua cultura, como o elevador avariado, os
preguiçosos funcionários que servem o copo de água do casamento, a decoração do
salão de massagens e o efeito da própria massagem que não é de todo o esperado
em mais um ritual de pré casamento. Depois temos a cerimónia, em que os noivos
cumprem uma tarefa em vez de rejubilarem de amor. No banquete há discursos para
todos os gostos, até o de um ex-camarada de armas (Nai Nai foi na juventude um
soldado do exercito de Mao) e este aproveita o encontro com ela para lhe
revelar o seu secreto amor de antanho.
Todo o filme é um conjunto
de quadros familiares e sociais, mostrando pratos típicos chineses, humor subtil
e algum arrependimento melancólico dos ressentimentos sentidos entre os
familiares. A morte é a conclusão inevitável da vida e é mais dolorosa para todos
os que ficam com o sentimento de perda que a morte de alguém próximo implica, todavia,
Lulu Wang revela no final do filme que Nai Nai ainda está viva, seis anos após
o diagnóstico que motivou toda esta trapalhada, o que mais uma vez me faz
concluir: “muito barulho para nada”!...
Classificação: 5 numa escala
de 10
PS: A estreante atriz Awkwafina
(Bili, neste filme) foi a vencedora dos Globos de Ouro de 2020 na categoria de “Melhor
atriz de Musical ou Comédia” contra; Ana de Armas, Cate Blanchett ou Emma
Thompson. Embora ela desempenhe um personagem muito abrangente e muito
empenhado neste filme, penso que ainda não merecia este galardão.
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