5 de dezembro de 2019

Opinião – “Frankie” de Ira Sachs


Sinopse

Frankie, uma famosa actriz francesa, descobre que só tem alguns meses de vida.
Para as suas últimas férias, reúne toda a gente em Sintra, Portugal.

Opinião por Artur Neves

Frankie, a atriz francesa Françoise Crémont, (Isabelle Huppert) recebe a notícia do seu médico de recidiva do tumor canceroso combatido dois anos antes e que agora lhe concede poucos meses de vida.
Para pôr as “contas em dia” com todos os que lhe são mais próximos; o marido atual Jimmy (Brendan Gleeson), de quem tem um filho Paul (Jérémie Renier) de temperamento instável, o primeiro marido Michel (Pascal Greggory) com quem tem uma filha Sylvia (Vinette Robinson) que está em processo de divórcio do seu marido Ian (Ariyon Bakare) que ainda a ama e resiste à separação, bem como o seu círculo restrito de amigos donde se destaca; Ilene (Marisa Tomei) amiga de longa data, confidente, e suporte emocional nos momentos mais difíceis da sua doença, convida-os para umas férias em Sintra – Portugal, onde ela pretende fazer a sua despedida da vida social e mostrar como todos os seus parentes mais queridos podem aprender a viver juntos… sem a sua presença.
Possui ainda um plano secreto de aproximar a sua amiga de sempre, do seu filho Paul mas que se revela impraticável, considerando que Ilene, atriz em Nova Iorque, governa bem a sua vida, tem ideias bem definidas sobre si própria e do que quer no campo sentimental. Resiste à declaração amorosa de seu colega de filmagens Gary (Greg Kinnear) e não aceita a sugestão de Frankie de “escolher antes de procurar”, como esta lhe recomenda, no papel de mãe que pretende deixar o filho acompanhado.
É assim neste ambiente constrangido pela gravidade do anúncio de Frankie que se desenvolvem aquelas “férias”, onde a terceira geração da família encontra uma experiencia de mudança de vida numa ida à Praia das Maçãs com Bento (Máximo Francisco) como escape para as frequentes desavenças com Sylvia, sua mãe.
Este problema com tantas variáveis não tem solução fácil e Ira Sachs, realizador americano que dirige este projeto, procurou dar-nos a conhecer todos os personagens com suficiente profundidade para que possamos ajuizar a complexidade subterrânea destas relações onde todos e cada um à sua maneira, sofrem de uma acédia temporal que lhes provoca apatia e torpor durante toda a narrativa. Sofrem isolados e Ira Sachs sabe “mistura-los”, sem contudo conseguir amenizar o seu desconforto. Sofrem por Frankie e por eles próprios, por não conseguirem concretizar os seus anseios. Todos querem o que não alcançam!...
O filme está bem articulado, não obstante as incongruências inerentes a cada um dos personagens, o drama está apresentado de modo credível e os 100 minutos de duração passam agradavelmente por entre a paisagem rural de Sintra.

Classificação: 6 numa escala de 10

PS: Este filme é uma produção Franco – Portuguesa, coproduzida na parte nacional pela produtora “O Som e a Fúria” e pelo ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual IP) em que os atores principais são estrangeiros, incluindo o realizador e os atores secundários são todos nacionais, onde se destaca Carloto Cotta, o jovem ator já anteriormente referido e muitos outros que compõem o ambiente rural de Sintra, filmado na Quinta da Regaleira e na Peninha, como se de um postal turístico se tratasse. 
Toda a equipa técnica é igualmente portuguesa, não somente na captação de imagem mas também nos outros aspetos acessórios inerentes à filmagens, bem como na edição, o que significa que nós somos capazes e que o cinema português apresenta um potencial de qualidade que tem estado invisível em muitas das recentes realizações.
Na minha opinião falhamos nos argumentos, demasiado novelescos e com dramas de “cordel”, bem como na representação de primeiro nível em que nos deixamos arrastar pela lamechice, suportada por uma representação teatral de que ainda não nos livrámos. Somos uns tristes!...

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