Sinopse
Apocalypse
Now – Final Cut é a terceira e derradeira versão de um dos grandes marcos da
história do cinema, e que este ano comemora 40 anos sobre a sua estreia no
Festival de Cannes, onde venceu a Palma de Ouro. Francis Ford Coppola considera
naturalmente esta versão como a melhor e a definitiva para o seu filme, cujo
restauro em 4K acompanhou de perto, nomeadamente ao nível do som.
A partir de Coração das Trevas, de Joseph Conrad.
Durante a Guerra do Vietname, um jovem capitão americano recebe como missão
procurar e assassinar um coronel americano desertor que se escondeu na selva e
passou a comandar guerrilheiros no Camboja, onde é adorado como um semi-deus.
Opinião
por Artur Neves
Esta é a atual versão (se é
a derradeira não sabemos!...) do mais emblemático filme que foi produzido sobre
a guerra do Vietname, não por ser um filme de guerra no sentido clássico do
termo, mas antes, um filme que evidencia o horror da guerra, a maldade
gratuita, a loucura que induz a alienação dos atos de guerra, não em função de
uma estratégia, mas sim de acordo com os medos, as obsessões e os interesses
pessoais dos seus intervenientes, também eles sem força, nem razão, para
resistirem emocionalmente aos efeitos de um meio e de um ambiente, que lhes são
desconhecidos e hostis.
“Apocalypse Now” teve a sua
primeira apresentação em 1974 com uma duração de 147 minutos, á qual se seguiu
uma sequela em 2001 com o nome “Apocalipse Now – Redux” com 197 minutos em que
foi acrescentado o encontro do Captain Benjamin L. Willard (Martin Sheen) com
uma família de colonos franceses resistentes ao ambiente de guerra que corporiza
o único momento de amor da história, bem como, logo na primeira cena, com maior
duração para se poder ouvir na íntegra a música dos The Doors: “The End” e evidencia-se
a dependência efetiva do álcool que Martin Sheen sofria na altura das
filmagens. Esta versão atual com a duração de 183 minutos, estreada em 2019, “encolhe”
o encontro com os colonos e remove as evidências de alcoolismo de Martin Sheen.
Em tudo o mais o filme é absolutamente fiel ao argumento original. Todavia,
considerando que as versões apresentadas em VHS, DVD ou Laserdisc, ao longo do
tempo, sempre foram objeto de pequenas alterações nunca pode saber-se se este fnal cut será mesmo final, como é normal
entender-se.
Todo o filme é um portento
de desumanidade. A história desenvolve-se ao longo da viagem de Willard na subida
do rio Nung num barco patrulha, com a missão de eliminar o coronel Walter E.
Kurtz (Marlon Brando) que desertou do exército dos USA e atravessou a fronteira
do Cambodja com um punhado de militares que o seguem cegamente e endeusaram a
sua liderança, para realizar missões de ataque e fuga contra os Viet Cong. As autoridades
americanas estão convencidas que o coronel Kurtz enlouqueceu e por esse motivo
querem eliminá-lo.
Á medida que o barco
patrulha se desloca, a loucura aumenta por todo o lado. Começa na devastação
sanguinária com bombas de napalm ao som da partitura clássica “A Cavalgada das
Valquírias” de Wagner, que o Tenente-Coronel Bill Kilgore (Robert Duvall) leva
a cabo numa praia, apenas para fazer surf com um dos elementos incluídos na
missão de Willard. Segue-se o medo inerente, na viagem que estão a empreender num
território que serve de abrigo aos Viet cong e donde sofrem ataques constantes.
É a chegada a um aquartelamento de tropas americanas, numa altura de recreio,
com um espetáculo de variedades totalmente insano e despropositado para o lugar,
que termina abruptamente no meio de um ataque. É o assassínio aleatório de um
barco de pescadores suspeitos de apoiarem os Viet Cong por uma tripulação
esgotada, demente e alienada pelas drogas que consome. A cena do encontro com
os colonos franceses decorre tensa, embora socialmente correta é contaminada
pelo elevado consumo de droga que distorce as relações e a visão dos
acontecimentos. No final, o encontro com o coronel Kurtz corporiza a loucura da
guerra pelos motivos que a justificam, o ambiente em que todos vivem, a
escuridão e a morte que os circunda em todos os locais do acampamento.
Embora com o mesmo argumento,
a remasterização em UHD 4K refina todos os contornos da imagem, enfatiza as
cores da selva e valoriza este filme de culto que ocupa um lugar de destaque na
curta lista das minhas preferências. Sem dúvida a ver… ou a rever!...
Classificação: 9 numa escala
de 10
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