12 de dezembro de 2019

Opinião – “És Capaz de Guardar um Segredo?...” de Elise Duran


Sinopse

Pensando que se vão despenhar, Emma Corrigan (Alexandra Daddario) conta os seus segredos a um desconhecido, num avião. Pelo menos, ela achava que era um desconhecido… até conhecer Jack (Tyler Hoechlin), o novo CEO da empresa onde ela trabalha, que agora sabe todos os pormenores humilhantes sobre ela.

Opinião por Artur Neves

A história a que assistimos é de uma comédia romântica made in USA concebida com todos os defeitos e virtudes que carateriza este género.
Quanto a defeitos, são muitos e variados desde um argumento pouco verosímil, situações improváveis, personagens pouco credíveis e ligeiras que apenas lá estão para cumprir as falas do argumento e darem “corpo” à história, situações artificialmente criadas para provocarem sorrisos ou lágrimas consoante a situação e sempre, mas sempre incluindo um conjunto de lamechices para satisfazer os amantes do género. Valha a verdade que neste ultimo aspeto esta comédia nem é das piores.
Quanto às virtudes, refiro-me à capacidade de alegar situações reais da vida corrente, normalmente inacessíveis no nível de relacionamento da convivência cerimoniosa. Nesta história são abordados assuntos de algum melindre, embora de forma ligeira e superficial, (trata-se de uma comédia) mas com um grau de abertura suficiente para os banalizar retirando-lhe a carga pejorativa que frequentemente lhes é atribuída.
Baseado no romance de Sophie Kinsella, o seu primeiro livro independente com o mesmo nome, após o sucesso dos guiões escritos para a série “Louca por Compras” que passou em Portugal em 2009, é uma adaptação de comportamentos centrados em mulheres que assumem desempenhos de liderança e constroem uma imagem de independência para lá das limitações de género, muito embora continuem femininas e desejáveis.
Com a história resumida na sinopse, acrescento o facto da insatisfação que ela sente no trabalho por ser de uma área financeiramente instável. Do seu relacionamento amoroso com o namorado Connor (David Ebert) que é pouco mais do que idiota, embora lhe satisfaça todos os desejos. Da monotonia da sua vida na casa que partilha com duas amigas. Ela precisa desesperadamente de uma mudança radical que se dá acidentalmente no voo de regresso a Nova Iorque depois de uma desastrosa apresentação comercial que ela foi fazer a Chicago.
A surpresa começa quando ela encontra o desconhecido do avião, Jack Harper (Tyler Hoechlin), na empresa gerando-se uma situação embaraçosa e desnivelada, ela é uma assessora de marketing, ele o novo administrador delegado, foi a ele que ela se revelou os mais ínfimos detalhes da sua intimidade com o namorado e com as amigas, apenas pelo terror de morrer de desastre de avião e aqui começa o imbróglio que inevitavelmente os há de unir no final do filme. Estamos numa comédia romântica, as coisas são o que são e esta só pode acabar em amor.
Para compor o ramalhete Jack é um brincalhão que explora as vulnerabilidades que Emma partilhou e embora a aceite e procure a sua presença, não sente á vontade para partilhar as suas próprias neuroses e segredos pessoais que só posteriormente viremos a saber serem de Polichinelo. Todavia é o suficiente para vermos que a centelha do romance já se acendeu entre ambos e agora é só deixar fluir.
No geral, a história pode encarar-se como uma brincadeira aceitável para quem procura filmes baseados numa ficção pós feminista, embora sem alcançar o nível de “Na sua Pele” de 2005 ou “ O Diabo veste Prada” de 2006, evitando os aspetos tóxicos de uma narrativa demasiado sexista. É um filme para a família em tempo de Natal, que se entrar alegre vai sair satisfeito e a pensar na próxima ocupação.

Classificação: 5 numa escala de 10

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