22 de novembro de 2019

Opinião – “Sibyl” de Justine Triet


Sinopse

Sibyl (Virginie Efira) é uma psicanalista que decide largar a maioria dos seus pacientes quando é tomada pelo desejo de escrever, procurando inspiração em Margot (Adèle Exarchopoulos), uma jovem atriz que lhe suplica que a receba.
Em pleno período de filmagens, Margot engravidou do ator principal… que mantém uma relação com a realizadora do filme. Enquanto Margot lhe vai contando o seu dilema passional, Sibyl, fascinada, vai gravando secretamente as sessões. A narrativa da paciente alimenta-lhe a ideia para o livro, mergulhando-a ao mesmo tempo no turbilhão do seu passado. Quando Margot lhe pede que vá ter com ela a Stromboli para acompanhar o fim das filmagens, tudo se acelera a uma velocidade vertiginosa.

Opinião por Artur Neves

A realizadora deste filme, Justine Triet, natural de França e diplomada pela Paris National School of Fine Arts deve ter um dia pensado que; “sendo a vida tão difícil como já é, como é que posso apresentá-la mais complicada ainda?...” e na sequência desse pensamento concebeu este argumento em conjunto com um escritor de serviço e apresentou-o no Festival de Cannes em Maio de 2019.
Com o resumo do argumento reproduzido na sinopse, esta história pretende cruzar diferentes formas de poder, a saber; o poder do terapeuta sobre o seu paciente, o poder de um realizador de cinema sobre os atores que corporizam uma obra que vai ser sua, o poder da atração física que inspira o amor entre o possuidor e o possuído, aqui com a nuance de o possuído poder ter mais poder que o possuidor e seja o elemento a determinar quem deixa quem.
Percebe-se em todo o filme o facto de ter sido um argumento meticulosamente construído de forma a conter alguma forma de suspense clássico, em conjunto com momentos de descontração que todavia não desviam o espectador do fundamental da história. Não se conhece a vida quotidiana de qualquer dos personagens, muito embora para a história seria interessante apreciá-los noutros contextos, porque de tal forma o objectivo de Justine Triet é seguido, de juntar a psicanálise á representação, e de mostrar que todos os personagens são manipuladores e se manipulam entre si, dentro e fora dos seus trabalhos com o único objectivo de retirarem dividendos para si próprios.
Sibyl e Margot aparentam preocupar-se uma com a outra mas por motivos diferentes dos que seriam inerentes à relação que as liga. Sibyl vislumbra a história do seu romance no problema de Margot e esta, apesar de sofrida, vê em Sibyl um desafio que ela quer testar, apesar de já ter decidido o que fazer consigo.
A narrativa é preenchida com flashbacks entre o presente de Sibyl com o actual e com o anterior companheiro, pai dos seus filhos, embora possam parecer desenquadrados aos espectadores menos atentos ao desenrolar do enredo (e aqui deixo o aviso; este filme requer atenção) que em conjunto com diálogos em off conduzem o argumento entre a expectativa do próximo passo e a história de fantasia à beira do fantástico.
Curiosamente, ou não, a importância inicial do livro de Sibyl perde-se na narrativa, considerando que a produção artística de diferentes formas é o objectivo da manipulação entre os personagens, porém, parece que não há tempo para absorver todas as vertentes, que faz com que alguns símbolos tenham de ser abandonados.
Em conclusão posso acrescentar que este filme propõe um desafio psicológico fascinante entre personagens manipuladores que se pretendem servir entre si e para cada um, mas as variáveis em presença, factuais, previstas e passadas, são tantas que se vão perdendo durante o exercício, o que é pena. Ainda assim achei interessante.

Classificação: 6 numa escala de 10

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