Sinopse
Sibyl
(Virginie Efira) é uma psicanalista que decide largar a maioria dos seus
pacientes quando é tomada pelo desejo de escrever, procurando inspiração em
Margot (Adèle Exarchopoulos), uma jovem atriz que lhe suplica que a receba.
Em pleno período de filmagens, Margot engravidou do
ator principal… que mantém uma relação com a realizadora do filme. Enquanto
Margot lhe vai contando o seu dilema passional, Sibyl, fascinada, vai gravando
secretamente as sessões. A narrativa da paciente alimenta-lhe a ideia para o
livro, mergulhando-a ao mesmo tempo no turbilhão do seu passado. Quando Margot
lhe pede que vá ter com ela a Stromboli para acompanhar o fim das filmagens,
tudo se acelera a uma velocidade vertiginosa.
Opinião
por Artur Neves
A realizadora deste filme,
Justine Triet, natural de França e diplomada pela Paris National School of Fine Arts deve ter um dia pensado que; “sendo
a vida tão difícil como já é, como é que posso apresentá-la mais complicada
ainda?...” e na sequência desse pensamento concebeu este argumento em conjunto
com um escritor de serviço e apresentou-o no Festival de Cannes em Maio de 2019.
Com o resumo do argumento
reproduzido na sinopse, esta história pretende cruzar diferentes formas de
poder, a saber; o poder do terapeuta sobre o seu paciente, o poder de um
realizador de cinema sobre os atores que corporizam uma obra que vai ser sua, o
poder da atração física que inspira o amor entre o possuidor e o possuído, aqui
com a nuance de o possuído poder ter
mais poder que o possuidor e seja o elemento a determinar quem deixa quem.
Percebe-se em todo o filme o
facto de ter sido um argumento meticulosamente construído de forma a conter
alguma forma de suspense clássico, em conjunto com momentos de descontração que
todavia não desviam o espectador do fundamental da história. Não se conhece a
vida quotidiana de qualquer dos personagens, muito embora para a história seria
interessante apreciá-los noutros contextos, porque de tal forma o objectivo de Justine
Triet é seguido, de juntar a psicanálise á representação, e de mostrar que
todos os personagens são manipuladores e se manipulam entre si, dentro e fora
dos seus trabalhos com o único objectivo de retirarem dividendos para si
próprios.
Sibyl e Margot aparentam
preocupar-se uma com a outra mas por motivos diferentes dos que seriam
inerentes à relação que as liga. Sibyl vislumbra a história do seu romance no
problema de Margot e esta, apesar de sofrida, vê em Sibyl um desafio que ela
quer testar, apesar de já ter decidido o que fazer consigo.
A narrativa é preenchida com
flashbacks entre o presente de Sibyl
com o actual e com o anterior companheiro, pai dos seus filhos, embora possam
parecer desenquadrados aos espectadores menos atentos ao desenrolar do enredo
(e aqui deixo o aviso; este filme requer atenção) que em conjunto com diálogos
em off conduzem o argumento entre a
expectativa do próximo passo e a história de fantasia à beira do fantástico.
Curiosamente, ou não, a importância
inicial do livro de Sibyl perde-se na narrativa, considerando que a produção artística
de diferentes formas é o objectivo da manipulação entre os personagens, porém,
parece que não há tempo para absorver todas as vertentes, que faz com que
alguns símbolos tenham de ser abandonados.
Em conclusão posso
acrescentar que este filme propõe um desafio psicológico fascinante entre
personagens manipuladores que se pretendem servir entre si e para cada um, mas
as variáveis em presença, factuais, previstas e passadas, são tantas que se vão
perdendo durante o exercício, o que é pena. Ainda assim achei interessante.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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