20 de novembro de 2019

Opinião – “Enquanto a Guerra durar” de Alejandro Amenábar


Sinopse

Salamanca, verão de 1936, Espanha vive uma situação desconcertante e o ilustre escritor Miguel de Unamuno decide apoiar publicamente a revolta militar acreditando que poderá trazer ordem ao caos existente. Como consequência desse apoio, é imediatamente demitido do seu cargo de reitor da Universidade de Salamanca pelo governo de esquerda. Entretanto o general Francisco franco une as suas tropas à rebelião e inicia com sucesso uma campanha vinda do Sul, tentando secretamente tomar o comando da guerra. Este confronto torna-se bastante sangrento e alguns amigos e colegas do escritor são detidos e aprisionados, obrigando Unamuno a questionar o apoio que tinha dado anteriormente à rebelião e até aos seus próprios princípios. Quando Franco transfere o seu quartel general para Salamanca e é nomeado Caudilho, Unamuno visita-o no palácio determinado a implorar clemência.

Opinião por Artur Neves

Alejandro Amenábar apresenta-nos aqui um relato dramático sobre o início do regime Franquista, em pleno início da guerra civil e como esse personagem congelou os destinos do povo espanhol durante quase 40 anos submetendo-o a uma ditadura de direita com a bênção divina. Franco e sua família eram fortemente crentes em Deus e o filme documenta essa dependência.
A história desenvolve-se em torno do filósofo e escritor Espanhol Miguel de Unamuno, conhecido pela sua obra; “O Sentimento Trágico da Vida” que lhe valeu a condenação da igreja e pela sua postura social, tal como descrito na sinopse e que compõe o argumento deste filme.
Miguel de Unamuno (Karra Elejalde) é assim considerado um autor estimado e filosofo, incluindo a fação nacionalista que o considerava patriota e nessa conjuntura, ele também se mostrava solidário com a junta militar que em processo colegial tinha o controlo do poder em convulsão e que evitava criticá-lo por conhecer o seu raciocínio de livre pensador independente de qualquer dogma.
Os seus amigos mais chegados são; Salvator (Carlos Serrano-Clark) um jovem professor que foi seu aluno e Atilano (Luis Zahera), pastor protestante, em que nas suas longas conversas, ambos, sobrevalorizando a influência política de Unamuno, frequentemente lhe recomendavam intervenções e pedidos que Unamuno sabia não estarem ao seu alcance, não só decorrente dos achaques da sua saúde, como principalmente, pela indiferença a que o poder remete o prestígio da intelectualidade, quando estão em jogo as ideologias fascistas e os partidos totalitários que enquadram pessoas incultas nas suas fileiras e divulgam uma doutrina que os afasta do raciocínio lógico.
Dos elementos constituintes da junta militar dirigente começa a formar-se a ideia da existência de um líder único em contraste com a tomada de decisão colegial, particularmente impulsionada por um general, mutilado e herói de guerra, temperamentalmente arrogante e possivelmente psicótico; Millan-Astray (Eduard Fernández) camarada de armas de Franco na frente africana, que “empurra” Franco para a presidência do grupo, apesar deste se apresentar como um militar fraco, sem qualquer espírito de liderança, passivo e até tímido, com medo (declarado pelo próprio) de “fazer o movimento errado”. Millan-Astray possivelmente teve em conta o seu poder de influência sobre Franco na condução das decisões de guerra.
É pois a este general Franco, já empossado pelos seus pares, que Unamuno se dirige em audiência pedindo clemência para os seus amigos entretanto presos, recebendo como esperado, um “não” rotundo, e que é posteriormente solicitado para a presidência do ato de abertura do ano letivo de 1936 no salão nobre da universidade, onde depois das exaltações da praxe política, Unamuno revela a sua oposição ao regime evidenciando muito particularmente as contradições do regime que ele abomina.
Alejandro Amenábar que nos ofereceu; “Mar Adentro” em 2004 com o drama da vida de Ramon Sampedro como ilustração da justeza da eutanásia, ou; “Os Outros” em 2001, numa história que inverte a posição entre os mortos e os vivos que habitam uma casa assombrada, traz-nos aqui um documento histórico que embora do ponto de vista técnico flua com segurança, apresenta alguma falha de ignição emocional que não nos empolga nem surpreende em nenhum momento. Todo o filme está bem construído, utilizando meios técnicos de primeira qualidade que tornam a representação credível e bem representativa de um passado não muito distante que serve para nos lembrar que todos os conflitos emergentes na Espanha atual não são um assunto novo.

Classificação: 7 numa escala de 10
PS: Não existem documentos históricos do discurso de Unamuno na universidade, mas segundo os relatos da época a controvérsia das suas declarações que levaram à sua terceira destituição de Reitor da Universidade de Salamanca estão descritas na página da Wikipedia referente a Miguel de Unamuno, cujo link deixo aqui.


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