Sinopse
Salamanca, verão de 1936, Espanha vive uma situação
desconcertante e o ilustre escritor Miguel de Unamuno decide apoiar
publicamente a revolta militar acreditando que poderá trazer ordem ao caos
existente. Como consequência desse apoio, é imediatamente demitido do seu cargo
de reitor da Universidade de Salamanca pelo governo de esquerda. Entretanto o
general Francisco franco une as suas tropas à rebelião e inicia com sucesso uma
campanha vinda do Sul, tentando secretamente tomar o comando da guerra. Este confronto
torna-se bastante sangrento e alguns amigos e colegas do escritor são detidos e
aprisionados, obrigando Unamuno a questionar o apoio que tinha dado anteriormente
à rebelião e até aos seus próprios princípios. Quando Franco transfere o seu
quartel general para Salamanca e é nomeado Caudilho, Unamuno visita-o no
palácio determinado a implorar clemência.
Opinião
por Artur Neves
Alejandro Amenábar
apresenta-nos aqui um relato dramático sobre o início do regime Franquista, em
pleno início da guerra civil e como esse personagem congelou os destinos do
povo espanhol durante quase 40 anos submetendo-o a uma ditadura de direita com
a bênção divina. Franco e sua família eram fortemente crentes em Deus e o filme
documenta essa dependência.
A história desenvolve-se em
torno do filósofo e escritor Espanhol Miguel de Unamuno, conhecido pela sua
obra; “O Sentimento Trágico da Vida” que lhe valeu a condenação da igreja e
pela sua postura social, tal como descrito na sinopse e que compõe o argumento
deste filme.
Miguel de Unamuno (Karra
Elejalde) é assim considerado um autor estimado e filosofo, incluindo a fação
nacionalista que o considerava patriota e nessa conjuntura, ele também se
mostrava solidário com a junta militar que em processo colegial tinha o
controlo do poder em convulsão e que evitava criticá-lo por conhecer o seu raciocínio
de livre pensador independente de qualquer dogma.
Os seus amigos mais chegados
são; Salvator (Carlos Serrano-Clark) um jovem professor que foi seu aluno e Atilano
(Luis Zahera), pastor protestante, em que nas suas longas conversas, ambos,
sobrevalorizando a influência política de Unamuno, frequentemente lhe
recomendavam intervenções e pedidos que Unamuno sabia não estarem ao seu alcance,
não só decorrente dos achaques da sua saúde, como principalmente, pela
indiferença a que o poder remete o prestígio da intelectualidade, quando estão
em jogo as ideologias fascistas e os partidos totalitários que enquadram
pessoas incultas nas suas fileiras e divulgam uma doutrina que os afasta do
raciocínio lógico.
Dos elementos constituintes
da junta militar dirigente começa a formar-se a ideia da existência de um líder
único em contraste com a tomada de decisão colegial, particularmente
impulsionada por um general, mutilado e herói de guerra, temperamentalmente
arrogante e possivelmente psicótico; Millan-Astray (Eduard Fernández) camarada
de armas de Franco na frente africana, que “empurra” Franco para a presidência do
grupo, apesar deste se apresentar como um militar fraco, sem qualquer espírito
de liderança, passivo e até tímido, com medo (declarado pelo próprio) de “fazer
o movimento errado”. Millan-Astray possivelmente teve em conta o seu poder de
influência sobre Franco na condução das decisões de guerra.
É pois a este general Franco,
já empossado pelos seus pares, que Unamuno se dirige em audiência pedindo clemência
para os seus amigos entretanto presos, recebendo como esperado, um “não”
rotundo, e que é posteriormente solicitado para a presidência do ato de
abertura do ano letivo de 1936 no salão nobre da universidade, onde depois das
exaltações da praxe política, Unamuno revela a sua oposição ao regime
evidenciando muito particularmente as contradições do regime que ele abomina.
Alejandro Amenábar que nos
ofereceu; “Mar Adentro” em 2004 com o drama da vida de Ramon Sampedro como
ilustração da justeza da eutanásia, ou; “Os Outros” em 2001, numa história que
inverte a posição entre os mortos e os vivos que habitam uma casa assombrada, traz-nos
aqui um documento histórico que embora do ponto de vista técnico flua com
segurança, apresenta alguma falha de ignição emocional que não nos empolga nem
surpreende em nenhum momento. Todo o filme está bem construído, utilizando
meios técnicos de primeira qualidade que tornam a representação credível e bem representativa
de um passado não muito distante que serve para nos lembrar que todos os
conflitos emergentes na Espanha atual não são um assunto novo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
PS: Não existem documentos
históricos do discurso de Unamuno na universidade, mas segundo os relatos da
época a controvérsia das suas declarações que levaram à sua terceira
destituição de Reitor da Universidade de Salamanca estão descritas na página da
Wikipedia referente a Miguel de Unamuno, cujo link deixo aqui.
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