17 de novembro de 2019

Opinião – “Mulher em Guerra” de Benedikt Erlingsson


Sinopse

Halla, uma ecologista de 50 anos de Reiquiavique decide enfrentar a indústria do alumínio num ato de justiça solitária, em prol da defesa do ambiente e contra o aquecimento global.
Começa então a sabotar as linhas de alta tensão para paralisar a fábrica, mas a notícia de que foi aceite para adoção de uma criança na Ucrânia abala os seus planos.

Opinião por Artur Neves

Benedikt Erlingsson não faz a coisa por menos, constrói um filme estranho, sem género definido, sobre uma história eco-terrorista e mistura nela, com alguma habilidade, diga-se, suspense, drama familiar, comédia sombria e realismo fantástico, apresentando um grupo de três músicos – tuba, acordeão e bateria – e um pianista errante, que acompanham um coro tradicional de cantores Ucranianos. Conjunto este, fora do real das cenas, ninguém os pode ver, apenas porque eles são propriedade do espírito de Halla (Halldóra Geirharðsdóttir) e acompanham-na em todas as situações tensas, acentuando essa tensão no início e posteriormente contribuindo para o seu desanuviamento, se assim se vier a verificar.
O grupo de músicos e o coro não fazem parte da ação, exceto no espírito de Halla que antecipando as dificuldades das ações que vai cometendo, excessivas em relação aos motivos que as justificam, assim as vai caraterizando ao longo do desenrolar da história, como que de um oráculo numa tragédia grega se tratasse, aparecendo nos momentos de risco a comunicar-nos e a envolver-nos nos seus atos heroicos.
As razões que Halla apresenta são a proteção da paisagem natural da Islândia, do funcionamento de uma refinaria de alumínio pertencente ao grupo Rio tinto, que ela diz ser um atentado à beleza natural do seu espaço rural, gloriosamente filmado por Bergsteinn Bjorgulfsson, diretor de fotografia.
Para o defender, ela mune-se de um arco e flechas para provocar um curto-circuito nas linhas de abastecimento de alta-tensão à fábrica de purificação de minério e posteriormente, numa massa explosiva de Semtex para destruir um dos postes de suporte da linha, interrompendo por mais tempo a alimentação de energia à refinaria.
Ninguém suspeita da alegre Halla, com cerca de 50 anos, simpática e participativa na comunidade, cujo trabalho normal é dirigir um grupo coral de adultos de pendor religioso, nem mesmo a sua irmã gémea Asa (também interpretada por Halldóra Geirharosdottir) que vive feliz, ocupada na sua elevação espiritual através da meditação e da prática de yoga e que tal como ela se propuseram em conjunto para adoção de uma criança em que Halla seria a mãe de acolhimento e Asa o garante de retaguarda para o caso de acontecer alguma coisa a Halla.
As coisas alteram-se quando Halla recebe uma carta informando-a que o seu pedido foi atendido e que ela poderá tornar-se mãe de uma menina ucraniana, Mika, apresentada numa fotografia em que toda a gente reconhece nítidas parecenças com ela.
Não caro leitor, a menina não é filha de um qualquer relacionamento anterior de Halla, ou de Asa e o filme é claramente anódino em matéria de erotismo ou esclarecedor sobre a orientação sexual de ambas. Um completo vazio.
A história foca-se somente na ecologia e na defesa da natureza e serve-se de um turista andarilho latino-americano, que é sempre conotado pelas autoridades e pelos midia como o responsável pelos atentados; Juan (Juan Camillo Roman Estrada) que assume a particularidade de estar sempre na hora errada no sítio errado, evidenciando uma certa discriminação negativa, algo incompreensível no contexto, quanto aos não nativos da Islândia.
O argumento é pois minimalista, sem subterfúgios nem twists, valendo-se apenas da beleza paisagística constituída por uma variedade de espaços abertos, grandiosos na sua diversidade geológica, maravilhosamente captados por um diretor de fotografia competente, avisando-nos para o futuro dramático que pode invadir aquela terra. Nada mais.

Classificação: 5 numa escala de 10

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