Sinopse
Yanis Varoufakis desencadeou uma das batalhas mais
espetaculares e controversas da história política recente quando, como ministro
das Finanças da Grécia de um governo radical, tentou renegociar o
relacionamento de seu país com a UE, provocando a fúria da elite política,
financeira e de mídia da Europa. Mas a verdadeira história do que aconteceu é
quase totalmente desconhecida – porque muitos dos negócios reais da Europa
acontecem em portas fechadas.
Opinião
por Artur Neves
Confesso que foi com algumas
reservas que assisti ao visionamento deste filme considerando que foi baseado
no livro de Yanis Varoufakis “Adults in the Room” publicado em 2019 e segundo
creio, ainda sem tradução em português. O que me fez decidir foi o facto de o argumento
ter sido adaptado do livro por Costa-Gavras, esse realizador Grego de 86 anos
que nos deu “Z - A Orgia do Poder” em 1969, ou “Desaparecido” em 1982, ou ainda
“Amen” em 2002, onde nos mostra a sua visão humanista do mundo e a denúncia da
ditadura dos coronéis na Grécia, numa cinematografia sempre comprometida com a
verdade.
Desta feita, temos uma
abordagem da história recente do seu país natal, a braços com uma dívida
monumental que aproxima perigosamente a Grécia em 2015, da bancarrota e do colapso
social, através do “abraço de urso” da união europeia que lhe impõe condições leoninas
no acordo de entendimento para a liquidação da dívida e para o saneamento da
sua economia.
A história começa com a
eleição de Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis) em Janeiro de
2015 e com a subida do partido de extrema esquerda, Syriza, ao poder na Grécia,
na sequência da falência do governo anterior de pendor liberal do partido Nova
Democracia. Yanis Varoufakis (Christos Loulis) pertencente ao núcleo
duro de apoio a Tsipras, é nomeado ministro das finanças e tem de contrariar as
condições duríssimas impostas pela Alemanha de Wolfgang Schäuble (Ulrich
Tukur), incluídas no acordo de entendimento, o que o faz iniciar um périplo
pelas capitais dos maiores países da União Europeia, Paris, Londres, Frankfurt,
Berlim e Riga, em busca de apoios que lhe permitam atingir os seus objetivos.
Quem viveu estes anos p.p. com
atenção às notícias dos jornais sabe que o maior opositor de Yanis era Schäuble
que se recusava a alterar o que quer que fosse do memorando de entendimento,
desafiando assim a habilidade negocial de Yanis que se desdobrava em tentativas
para obter a compreensão de Christine Lagarde (Josiane Pinson), chefe do FMI e
dos credores mais significativos, que apesar de ensaiarem alguma aceitação dos
seus argumentos, acabavam sempre alinhados com Schäuble na hora das grandes
decisões.
Convenhamos que esta é uma
história difícil de pôr em filme. É necessário criar muitos personagens atuais
com atores, qual deles o mais diferente do original (exceção feita para Schäuble
por causa da sua cadeira de rodas) mas para todos os outros, incluindo Tsipras
e o próprio Yanis, somente após algum tempo é que nos habituamos a considerar
os seus rostos como o rosto que temos associado a estes personagens
indissociavelmente ligados à crise Grega e a este grande problema da história
recente da União Europeia.
Deste modo Costa-Gavras
consegue a proeza de nos apresentar a visão claustrofóbica de múltiplas e
infindáveis reuniões com todos os players
centrais desta negociação, tais como; Jeroen Dijsselbloem (Daan Schuurmans)
presidente à época do Eurogrupo, Pierre Moscovici (Aurélien Recoing), Mario
Draghi (Francesco Acquaroli) presidente do BCE além dos anteriormente já
citados para referir somente os mais importantes. Angela Merkel também aparece
embora em extratos de notícias reais ligadas ao assunto e nunca como um
personagem desta história.
Por outro lado Costa-Gavras
nunca se refere a que o agravamento da crise Grega se deveu à ocultação dos
indicadores macroeconómicos, orquestrado pelo conselheiro financeiro internacional
Goldman Sachs, que permitiu encobrir a dimensão da dívida, nem aos desmandos
financeiros sem controlo nos ordenados dos funcionários públicos e pensões principescas
a membros de antigos governos, como ao elevado nível de corrupção que campeava
na generalidade da economia real. Nada disto é mencionado, dando-se ênfase ao
desemprego do povo, às falências de empresas esmagadas pela Troika e à miséria
generalizada imposta por medidas de austeridade discricionariamente determinadas
no memorando de entendimento.
Todo o filme é acompanhado
por música de Alexandre Desplat inspirada no folclore Grego e até os momentos
de maior tensão são intensificados por ela, apesar de o filme se tornar algo
maçador de tão pormenorizadamente querer apresentar os factos relativos às
negociações com os credores. Não tenhamos dúvidas, são todos culpados, são
todos falcões e nem em Christine Lagarde se vislumbra um arremedo de pomba.
É história recente contada
ao minuto, eu achei interessante mas admito que muitos dos leitores discordarão
de mim.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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