20 de novembro de 2019

Opinião – “Onde estás Bernadette?” de Richard Linklater


Sinopse

Onde Estás, Bernadette? é baseado no bestseller sobre Bernadette Fox (interpretada pela vencedora de 2 ÓSCARES Cate Blanchett), uma mulher de Seattle que tinha tudo – um marido dedicado e uma filha brilhante. Quando ela desaparece inesperadamente, a sua família parte numa aventura emocionante para resolver o mistério do seu paradeiro.
Com interpretações de Kristen Wiig, Billy Crudup e Laurence Fishburne, Onde Estás, Bernadette? baseia-se no bestseller de Maria Semple e é realizado por Richard Linklater, vencedor de um Óscar com Boyhood: Momentos de Uma Vida e realizador da trilogia de filmes Antes de Amanhecer, Antes do Anoitecer e Antes da Meia-Noite. (1995-2013).

Opinião por Artur Neves

Esta história é fundamentada num romance escrito em 2012 por Maria Semple que em jeito de comédia descreve a personalidade e a vida de uma arquiteta, que por motivos ilustrados no filme desaparece subitamente para se encontrar intimamente, nem ela sabia onde, antes de fugir.
A adaptação duma história destas não se apresenta fácil quando, seguindo o objeto do livro, temos de conjugar comédia social, crítica feminina sobre arte, união familiar e trauma materno, decorrente da ocorrência fortuita de dois abortos antes do nascimento de Bee Branch (abreviatura de Balakrishna, por acidente de dicção), (Emma Nelson) o “ai Jesus” da família e narrador em off dos eventos mais significativos que conduziram aquele desaparecimento.
Outro problema associado a esta realização seria encontrar a pessoa certa para este personagem multifacetado, agorafóbico, inteligente e maternal e aí dou os meus parabéns a Richard Linklater que acertou “na muge” ao escolher Cate Blanchett, essa versátil atriz que já nos deu um excelente personagem de mulher que tenta assumir uma identidade em que não pode acreditar, em Blue Jasmine de 2013, realizado por Woody Allen.
Linklater, que apresenta um certo pendor para o lamecha, aqui, descartou-se da profundidade do romance que não dizia respeito a Bernadette para que Cate Blanchett pudesse brilhar e apoiando-se, num personagem muito bem conseguido, pode dizer-se que; “leva o filme às costas”, ao ponto de se reconhecer que onde ela não está, é o vazio.
A história mostra-nos que tanto Bernadette como Bee são espíritos inquietos decorrente dos seus percursos; Bernadette como a arquiteta mais promissora da sua geração, recheada de sucessos na vida profissional, detentora de um prémio MacArthur Grant, por uma obra, posteriormente destruída por um vizinho que a odiava (aliás, Bernadette não é fácil de amar) e Bee que tendo nascido com uma insuficiência cardíaca, foi sujeita a múltiplas operações de reconstrução do coração que retardaram o seu crescimento e lhe proporcionaram uma infância difícil e conturbada.
O marido, Elgie Branch (Billy Crudup) e a sua vizinha fútil Audrey (Kristen Wiig) como sendo as pessoas que mais diretamente interagem com Bernadette têm os seus papeis menorizados representando o marido, um alto quadro da Microsoft, com elevado sucesso na sua carreira e que decorrente dos acontecimentos que nos são mostrados poderia assumir algum poder agressivo, foi transformado num quase idiota, plácido e conformado com todas as decisões tomadas pela “arquiteta” e Audrey, para quem o artificialismo das convenções pontua como comportamento e modo de vida é aqui remetida para um lugar secundaríssimo, muito embora nos apetecesse ver mais da sua interação.
Blanchette dá tudo de si e nos 109 minutos de filme, Bernadette existe em qualquer lugar onde ela se encontre e estabelece a diferença como o ator se entrega ao seu personagem, tanto no seu mau relacionamento com a tecnologia, como no amor à sua desejada filha. Para ela vai toda a classificação indicada a seguir e no meu entender, bem o merece.

Classificação: 6,5 numa escala de 10

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