Sinopse
Algures no Curdistão, Bahar, uma jovem advogada,
visita a família. Num ataque violento dos extremistas, o marido é assassinato e
ela é feita prisioneira, juntamente com o filho e milhares de crianças e mulheres.
Uns meses depois de conseguir fugir, Bahar torna-se na líder das “Filhas do
Sol”, um batalhão de mulheres que tem como objetivo recuperar a cidade onde foi
capturada e salvar o filho. Ao seu lado, Mathilde, uma repórter de guerra
veterana, segue o dia-a-dia do batalhão durante os 3 dias do ataque. Nesta
situação inimaginável, nasce um laço universal de irmandade, a união das
“Filhas do Sol”.
Opinião
por Artur Neves
Este filme estreou-se no
festival de Cannes de 2018 e aparece em Portugal pela mão da distribuidora Midas
Filmes, integrado no seu ciclo “Mulheres, Vida, Liberdade” sublinhando que o
seu exemplo de coragem mostrado em vários conflitos internacionais, nos mais
diferentes contextos, deve ser para sempre lembrado. Neste caso, trata-se de um
grupo de guerrilheiras Curdas numa ação de combate ao Daesh, depois de fugirem
do cativeiro a que foram sujeitas, após os acontecimentos relatados na sinopse.
Eva Husson é uma realizadora
francesa, nascida em 1977, em Le Havre, fortemente influenciada pela participação
do avô na Guerra Civil Espanhola, de cujo conhecimento de muitas histórias de
coragem feminina contadas por ele, a inspiraram na construção desta história
que tem fundamento real no massacre de Sinjar em 2014, no qual o autodenominado
Estado Islâmico praticou uma tentativa de genocídio contra o povo Yazidi, tendo
raptado mulheres e crianças que foram vendidas como escravas sexuais.
Todavia, este “filme de
guerra” é diferente de todos os outros do mesmo género, empenhados em mostrar a
glória, a masculinidade e o arrojo de valorosos combatentes por uma causa
frequentemente coincidente com o ponto de vista americano, nos conflitos em que
anda envolvida a pátria do Tio Sam. Aqui é diferente, pois mostra-se uma
aventura de tenacidade e sofrimento no sentido da obtenção da libertação e da
sobrevivência de mulheres que foram usadas e abusadas em nome de uma religião
que não as respeita.
O filme revela-se escorreito
e competente usando uma narrativa de flashbacks
para nos informar das razões que levaram aquelas mulheres a insurgir-se e a
organizar-se num grupo de resistência ao fanatismo do Daesh. No entanto pouco
conhecemos da história e da personalidade das guerreiras, para além da
protagonista Bahar (Golshifteh Farahani) e da correspondente de guerra enviada
para cobrir a resistência Mathilde (Emmanuelle Bercot) diretamente inspirada em
Marie Colvin (até lhe foi colocada uma pala no olho esquerdo) uma repórter de
guerra que morreu no desempenho da sua missão, cuja história já foi tratada em
cinema, no filme “Uma Guerra Pessoal” de 2018, já comentado neste blogue.
Embora sendo guerreiras e
passem à ação armada a história pretende enfatizar sobretudo o seu papel de
mães e focar como principal motivo para o combate a vingança dos filhos mortos,
a defesa dos filhos ainda no ventre, como é o caso de uma combatente que dá à
luz durante uma fuga, ou a recuperação dos seus filhos desaparecidos, como é o
caso de Bahar que pretende chegar à escola onde presume que o seu filho esteja
sendo formado como combatente do E.I. que ela abomina e combate.
Não existe qualquer
informação específica sobre o conflito Curdo, nem quais as diferenças
religiosas ou políticas entre os seus ideais e a religião defendida pelo Daesh,
nem sobre as origens sociais e políticas que norteiam esta guerra, nada disto é
sequer referido o que torna a narrativa novelesca e as personagens remetidas à
sua condição de mulher mãe e sofredora, tornando imediata a identificação com
todo o público feminino que assista ao filme.
Neste ponto considero que
seja uma menorização do seu papel de contribuição para a justiça subjacente que
procuram naquele combate sem tréguas. Não há qualquer destaque para os seus papéis
de combatente, de estratégia guerreira ou de captação de momentos pela
correspondente de guerra. Só amor e preocupação em abstrato com os filhos. É
pouco para quem mostra tanta disponibilidade em dar a vida por um bem maior. Todavia,
o bom desempenho na credibilidade dos personagens e a filmagem em ambiente natural,
justificam a classificação atribuída.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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