5 de julho de 2019

Opinião – “Na Sombra da Lei” de S. Craig Zahler


Sinopse

Na Sombra da Lei é um intenso thriller policial sobre Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), dois agentes da Polícia que acabam suspensos depois de um vídeo com as suas táticas duras ser divulgado por um canal de televisão. Com pouco dinheiro e sem opções, os amargurados agentes descem ao submundo do crime para procurar justiça, mas acabam por encontrar à sua espera mais do que desejavam.

Opinião por Artur Neves

O modo como esta história é contada faz-nos recuar ao tipo de cinema que era frequente no século passado, ou seja, um longa-metragem, neste caso com 159 minutos, desenvolvido em meio urbano, com temática criminal, protagonizado preferencialmente por anti-heróis que usam meios ilícitos para fazer justiça e com um visual de elevada densidade utilizando o contraste de cores claro/escuro, muito ao jeito do pintor barroco Caravaggio. Outra nota interessante deste filme, que não quero deixar de mencionar, é que o nome atribuído em Portugal está mais adequado ao argumento do que o nome original e isso não costuma ser muito frequente.
Assim, os dois polícias mandados para casa pelo seu superior hierárquico, interpretado por Don Johnson numa pequena, mas excelente e convincente aparição, começam a fazer contas à vida sobre o modo como irão sobreviver durante o tempo de suspensão e Ridgeman serve-se de contactos antigos para encontrar uma solução, para a qual conviva o seu parceiro Lurasetti igualmente com problemas de liquidez financeira.
Eles não sabem ao que vão, mas sabem que têm de fazer qualquer coisa para satisfazer os seus compromissos, embora a sua noção de cumprimento da lei os constranja nesta atividade proscrita e durante o tempo de vigilância, para afinar os pormenores do ato, sentados no interior de um carro, dão-nos as melhores cenas desta história, em que Ridgman (Mel Gibson) apresenta-nos o seu melhor desempenho, com uma voz áspera e pesada, refutando ou justificando as alegações do seu colega Lurasetti (Vince Vaughn), sobre a posição deles na sociedade e sobre a objeção de consciência que o assalta. Embora relutante, Lurasetti concorda com os termos e ambos avançam para a aventura.
Craig Zahler, realizador americano de ascendência judia, nascido em 73 na Florida, não tem muitas realizações em seu nome, repartindo a sua atividade com a de argumentista, mas do que se conhece sabe-se que a sua construção é lenta, os personagens começam a juntar-se, apresentando-as separadamente no início e enquadrando-as nas suas vidas e atividades que justificam o seu cruzamento posterior. Quando isso acontece já as conhecemos, já sabemos o fundamental sobre elas e isso confere à história, credibilidade e fluidez. É uma construção de camada sobre camada, com diálogos que excedem o essencial mas que desenvolvem um crescendo de violência e de suspense, cujo custo se reflete no tempo de duração, mas creia caro leitor, vale a pena.
Como anteriormente referi, é um filme de anti-heróis e não vou revelar o seu desfecho, mas informo que durante a sessão somos levados a pensar onde tudo isto irá parar, pois a história está bem arquitetada, muito pormenorizada, ocorrida no tempo atual mas sem tecnologias sofisticadas que na vida real nunca funcionam como nos mostram, exibindo apenas os desejos e as fraquezas humanas que fazem andar o mundo, pausadamente, sem pressas, ao sabor das ocorrências que nos são apresentadas e posso garantir-lhe que ao chegar ao fim não vai ficar desapontado. Recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

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