Sinopse
Na Sombra da Lei é um intenso thriller policial sobre
Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), dois agentes da
Polícia que acabam suspensos depois de um vídeo com as suas táticas duras ser
divulgado por um canal de televisão. Com pouco dinheiro e sem opções, os
amargurados agentes descem ao submundo do crime para procurar justiça, mas
acabam por encontrar à sua espera mais do que desejavam.
Opinião
por Artur Neves
O modo como esta história é
contada faz-nos recuar ao tipo de cinema que era frequente no século passado,
ou seja, um longa-metragem, neste caso com 159 minutos, desenvolvido em meio
urbano, com temática criminal, protagonizado preferencialmente por anti-heróis
que usam meios ilícitos para fazer justiça e com um visual de elevada densidade
utilizando o contraste de cores claro/escuro, muito ao jeito do pintor barroco
Caravaggio. Outra nota interessante deste filme, que não quero deixar de
mencionar, é que o nome atribuído em Portugal está mais adequado ao argumento do
que o nome original e isso não costuma ser muito frequente.
Assim, os dois polícias
mandados para casa pelo seu superior hierárquico, interpretado por Don Johnson
numa pequena, mas excelente e convincente aparição, começam a fazer contas à
vida sobre o modo como irão sobreviver durante o tempo de suspensão e Ridgeman
serve-se de contactos antigos para encontrar uma solução, para a qual conviva o
seu parceiro Lurasetti igualmente com problemas de liquidez financeira.
Eles não sabem ao que vão,
mas sabem que têm de fazer qualquer coisa para satisfazer os seus compromissos,
embora a sua noção de cumprimento da lei os constranja nesta atividade proscrita
e durante o tempo de vigilância, para afinar os pormenores do ato, sentados no
interior de um carro, dão-nos as melhores cenas desta história, em que Ridgman
(Mel Gibson) apresenta-nos o seu melhor desempenho, com uma voz áspera e pesada,
refutando ou justificando as alegações do seu colega Lurasetti (Vince Vaughn),
sobre a posição deles na sociedade e sobre a objeção de consciência que o
assalta. Embora relutante, Lurasetti concorda com os termos e ambos avançam
para a aventura.
Craig Zahler, realizador
americano de ascendência judia, nascido em 73 na Florida, não tem muitas
realizações em seu nome, repartindo a sua atividade com a de argumentista, mas
do que se conhece sabe-se que a sua construção é lenta, os personagens começam
a juntar-se, apresentando-as separadamente no início e enquadrando-as nas suas
vidas e atividades que justificam o seu cruzamento posterior. Quando isso
acontece já as conhecemos, já sabemos o fundamental sobre elas e isso confere à
história, credibilidade e fluidez. É uma construção de camada sobre camada, com
diálogos que excedem o essencial mas que desenvolvem um crescendo de violência
e de suspense, cujo custo se reflete no tempo de duração, mas creia caro leitor,
vale a pena.
Como anteriormente referi, é
um filme de anti-heróis e não vou revelar o seu desfecho, mas informo que
durante a sessão somos levados a pensar onde tudo isto irá parar, pois a
história está bem arquitetada, muito pormenorizada, ocorrida no tempo atual mas
sem tecnologias sofisticadas que na vida real nunca funcionam como nos mostram,
exibindo apenas os desejos e as fraquezas humanas que fazem andar o mundo,
pausadamente, sem pressas, ao sabor das ocorrências que nos são apresentadas e
posso garantir-lhe que ao chegar ao fim não vai ficar desapontado. Recomendo.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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