14 de junho de 2019

Opinião – “A Vigilante” de Sarah Daggar-nickson


Sinopse

A Vigilante – Sadie, (Olivia Wilde) uma mulher vítima de violência doméstica, dedica a sua vida ao auxílio de outras mulheres vítimas do mesmo tipo de abuso.
Enquanto procura localizar o seu marido para o matar e então ser verdadeiramente livre.
A Vigilante é um thriller inspirado pela força e bravura de vítimas reais de violência doméstica e pelos inacreditáveis obstáculos à segurança que as mesmas enfrentam.

Opinião por Artur Neves

Denunciar a violência doméstica e utilizar o cinema para divulgar o seu combate e reiterar o direito que ambos os cônjuges possuem em usufruir de uma vida em comum, harmoniosa e profícua. Incitar a mulher, como sendo a vítima mais frequente, a denunciar as sevícias de que é alvo no interior da sua casa é uma boa utilização do cinema em defesa de um problema social que se vem divulgando com uma frequência indesejável.
Considerar como exemplo de solução a existência de uma vingadora, “A Vigilante” na figura de uma mulher durona, combativa, embora também abusada, o que a transforma em juíza em causa própria, como a repositora dos direitos violados, através de justiça executada pelas próprias mãos, é outra coisa muito diferente e significa passar-se para o extremo oposto do problema. Constitui uma abordagem justicialista tão nefasta, equivalente a ação legal da justiça a que temos assistido diariamente no nosso país.
A figura do vigilante justiceiro (no cinema existem também “vigilantes” de outro cariz) tem origem no cinema americano na década de 40 e teve o seu ponto alto na década de 70 com o ator Charles Bronson (num personagem que se lhe colou à pele) no filme; “O Justiceiro da Noite” de 1974, que fez escola noutros filmes da mesma década.
Nesta história Sadie é uma feminista que se dedica à defesa de mulheres em risco de vida, destruindo os homens que as maltratam e de caminho também faz uma perninha como defensora de crianças e de todos os que justificadamente recorram aos seus serviços. Todavia ela só salva, não trata, os miúdos que ficam abandonados por ela castigar os pais que os maltratam têm de posteriormente dirigir-se aos serviços da segurança social porque a companhia dela é perigosa, considerando que ainda tem de matar o marido que a maltratou e que num acesso de fúria, para lhe causar mais sofrimento, ainda matou o filho de ambos.
O parágrafo anterior resume o argumento desta história e será o que vamos assistir durante os 90 minutos do filme até finalmente confrontar o ex-marido (Morgan Spector) um mercenário com aspeto genuinamente selvagem que a deixou quase morta, matou o filho e desapareceu, impedindo-a de acionar o seguro de vida. No primeiro encontro o ex-marido ainda consegue manietá-la, mas no segundo, com um braço partido, ela trata-lhe da saúde de vez.
Com menos conversa e de outro modo mais credível, já Jennifer Lopez tinha lá chegado primeiro, em 2002 no filme “Basta” de Michel Apted, prestando um melhor serviço à causa, representando de forma mais angustiante para a mãe e para o filho, o drama da violência doméstica e o terror da vítima face ao seu algoz.
“A Vigilante” vale assim pelo tema que aborda, mas apresenta inúmeras fragilidades de forma e contem diversos clichês inerentes ao género. Não é que isso seja um mal em si mesmo, mas amortece o impacto dos maus tratos domésticos numa altura em que o tema se reveste duma atualidade gritante. No seu género, Olivia Wilde ainda nos pode oferecer mais do que isto.

Classificação: 5 numa escala de 10

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