Sinopse
Na companhia
de familiares e amigos próximos, Beatrice (Alexandra Lamy) comemora a
publicação do seu livro, onde conta o acidente do marido, que lhes alterou
radicalmente a vida: Frederic (José Garcia) ficou cego e sem filtro, passando a
dizer tudo o que pensa. Embora continue divertido e sedutor, transformou-se num
homem imprevisível.
Mas o livro – um hino à vida – acaba por desencadear
uma onda de discussão, porque embora Beatrice tenha alterado os nomes dos
amigos que menciona no livro, cada um deles tenta identificar a sua personagem,
o que vai despertar segredos e ciúmes escondidos. O grupo de familiares e
amigos estremece, mas há tempestades que nos salvam a vida.
Opinião
por Artur Neves
“Sem Filtro” é mais um filme
francês que aborda a temática dos relacionamentos pessoais tanto no foro íntimo
como social num regime ligeiro, de comédia “soft”, que apela ao sorriso através
do sentido secundário das situações que nos são mostradas, de uma cuidadora
presente em todos os momentos da vida do seu agregado familiar onde existe um
deficiente visual e cognitivo, uma filha adolescente e um rapaz infantil, no
contexto descrito na sinopse, que lhe satura a existência.
Como terapia para a sua
abnegada insatisfação, Beatrice resolve escrever um livro onde descreve a sua
vida vivida durante os últimos cinco anos e do seu grupo de amigos que de
alguma maneira a têm apoiado nesta difícil fase, descrevendo, embora com nomes
fictícios, as suas características, as suas tendências, os seus interesses e
particularidades que ela mais apreciou, mas que ao serem lidos pelos próprios,
que se reconhecem pelos eventos citados, não têm o mesmo entendimento de
catarse, de agradecimento, de hino à amizade com que ela os citou.
Adicionalmente, a história
também nos transporta para o novo paradigma das relações abertas tão em voga
nos tempos que correm, como sendo mais uma panaceia para a ajudar a suportar a
sua solitária existência, considerando que entre outros traumas, o marido Frederic
também ficou impotente. Este íntimo problema foi sendo resolvido, através do
conhecimento acidental de Bernard (Nuno Melo) durante um dos ataques de gula de
Frederic no restaurante de fast food em
que se encontraram.
A atração entre Beatrice e
Bernard floresce e consuma-se, é uma paixão com hora marcada, com apontamento
de calendário, e com justificação alternativa pois o tempo é um elemento
contínuo na vida das pessoas. Ela ama e trata do marido, não descura o governo
da casa nem o acompanhamento dos filhos mas sente-se só, diminuída, com uma
vida insuficiente. A paixão que experiencia com Bernard é o complemento que lhe
falta, o côncavo para o seu convexo (parafraseando Roberto Carlos) a fonte do
seu equilíbrio, o seu ânimo no dia-a-dia, que como mais tarde veremos é
reconhecido e aceite pela sogra, num dos momentos mais gratos desta história.
Só que Eric Lavaine, não
quis chegar tão longe e na sua realização só aborda de “raspão” esta realidade
e entrega a Bernard (Nuno Melo) o protagonismo da cena mais desconchavada deste
filme. Não se lhe exigia um final romântico de pacotilha, ou uma “love story” de arrasar, incompatível com
alguém que coloca em livro a catarse das sua frustrações, mas apenas o
reconhecimento de que; “não se deve começar aquilo que não se pode acabar”, ou
neste caso; não se quer abordar. Por tudo isto considero-o inferior ao recente:
“Pequenas Mentiras entre Amigos 2” e 1 também. Ainda assim continua a ser
interessante, pelo sorriso que provoca e pela reflexão “sem filtro” que
indicia.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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