27 de junho de 2019

Opinião – “O Sol Também é uma Estrela” de Ry Russo-Young



Sinopse

Daniel Bae (Charles Melton) e Natasha Kingsley (Yara Shahidi) conhecem-se — e apaixonam-se — durante um dia mágico na cidade de Nova Iorque. A atração é imediata entre estes dois desconhecidos que talvez nunca se tivessem encontrado, se o destino não lhes tivesse dado um empurrãozinho.
Mas será o destino suficiente? Restam apenas algumas horas a Natasha antes de ser deportada dos EUA juntamente com a família. Natasha luta contra a expulsão da sua família com tanto empenho como luta contra o que começa a sentir por Daniel, que se empenha tanto como ela em provar-lhe que estão destinados a ficarem juntos.
“O Sol Também é Uma Estrela”, uma história moderna sobre encontrar o amor contra todas as probabilidades, explora se as nossas vidas são determinadas pelo destino ou pelos acontecimentos aleatórios do universo.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de amor improvável porque ela é racional e cética e ele um romântico inveterado que acidentalmente se encontram em Nova Iorque, enquanto ela esgota os últimos cartuchos para impedir a deportação com a família para a Jamaica de onde são originais. Ele é um potencial estudante de medicina Coreano, sem gosto nem vontade pelo assunto porque quer tornar-se poeta e ela, uma estudante de ciências que não acredita em nada que não possa ser medido ou pesado, fazendo jus ao seu pragmatismo genético.
O “empurrãozinho do destino” mencionado na sinopse, refere-se ao facto de ele a ter salvo de ser atropelada por um carro enquanto deambulava, absorta, pelas ruas a caminho duma entrevista com o advogado de imigração e ativista dos direitos dos imigrantes; Jeremy Martinez (John Leguizamo), do qual obteve poucas esperanças. Após nove anos de permanência clandestina nos USA, está a 24 horas do voo de deportação que a retornará à Jamaica e terminará o sonho de se formar em ciência astronómica.
Este filme tem como base o romance “YA” de Nicola Yoon (que Nicholas Sparks não enjeitaria pois é bem ao seu estilo) que conta uma história semelhante em; “Antes do Amanhecer”, escrito e realizado por Richard Linklater em 1995. Em ambas, o tema do amor sem futuro constitui o cerne das duas abordagens e os tempos diferentes em que ambos foram realizados condiciona o contexto em que se verificam, embora as conversas, as trocas de olhares significativos e o desfrute da presença comum entre os apaixonados seja uma constante.
“Antes do Amanhecer” é um bom filme, com densidade dramática e humor sofrido, “O Sol Também é uma Estrela” nem tanto, pese embora o facto de conter uma crítica subliminar à falta de apoio à imigração, mesmo quando esta já tem algum tempo de permanência no país, inserindo-se portanto na problemática atual da imigração para os USA no consulado de Trump.
Para agradar ao seu público-alvo, o filme contém todos os indicadores do mesmo destino carrasco que os uniu e os irá separar em despedidas lacrimosas e promessas de amor eterno que os reunirão num tempo não previsto nem previsível, porque amor que se preza quer-se sofrido e doloroso para melhor usufruir das alegrias do reencontro futuro. Não sei porque tem de ser assim, mas é assim que é e não há realizador que fuja ao figurino do drama romântico para induzir no espectador o trauma da separação e fazê-lo sentir o miserabilismo da existência humana.
Outro lugar-comum é a insistência no destino que vai servir de âncora a diferentes eventos desde que os apaixonados se encontram pela primeira vez. Isto confere uma predestinação à história, que cai bem em alguns públicos, mas que restringe a universalidade do amor a um condicionamento externo não controlável. O filme vive também à custa dos atores, que embora novos, exibem um carisma natural que salva a representação. Deles decorre o mérito da classificação indicada.

Classificação: 6 numa escala de 10

Sem comentários: