3 de junho de 2019

Opinião – “Os Olhos de Orson Welles” de Mark Cousins


Sinopse

Ao ter acesso exclusivo a centenas de desenhos e pinturas de Orson Welles, o cineasta Mark Cousins mergulha no trabalho visual do actor e realizador mítico para revelar o retrato de um artista como nunca o tínhamos visto – através do seu próprio olhar, desenhado com a sua própria mão, pintado com os seus pincéis. Dá vida às paixões e ao poder deste showman do século XX e explora a forma como o génio de Welles continua hoje a ressoar na época de Trump, mais de 30 anos depois da sua morte.

Opinião por Artur Neves

Um biopic sobre Orson Welles não é um assunto que à primeira vista possa motivar muito interesse. É generalizadamente conhecido como realizador de Citizen Kane de 1941,pelo qual foi premiado, bem como da sua emissão radiofónica sobre a invasão da Terra por seres alienígenas que foi tomada como autêntica pelos ouvintes e lhe valeu um contrato com a RKO para a realização de três filmes com absoluta liberdade sobre os temas.
Todavia, Mark Cousins, um realizador Irlandês, nascido em 1965 em Belfast, centra-se na globalidade da obra deixada por deste diretor e faz deste documentário digressivo uma demonstração da sua admiração, respeito, conhecimento e culto sobre a personagem de um homem que talvez não seja tão conhecida como a partir de agora ficou.
Cousins estrutura o documentário em seis capítulos, em cada um dos quais aborda uma faceta da vida de Orson Welles, tal como, o desenho, a realização, os amores e tudo o que preencheu o conteúdo multifacetado da sua vida, desde as aguarelas e quadros com pinturas durante a infância e continuando pela adolescência e idade adulta, traçando o percurso do autor pela Irlanda, Marrocos, Nova Iorque e Hollywood onde foi famoso e feliz, bem como autoexilado por falta de recursos financeiros.
Cousins teve acesso ao extraordinário acervo de documentação em poder da filha mais nova de Welles, Beatrice, que o assessorou na construção do guião deste biopic, em que Cousins progride através de perguntas que faz a Welles, sabendo previamente as respostas que nos apresenta através dos seus trabalhos, das suas obras em poder da filha, bem como nos arquivos da Universidade de Michigan que incluem esboços de storyboards que Welles fez para vários dos seus filmes.
Ficamos com a ideia que para lá do grande cineasta, Welles foi um visualizador um descritor visual do mundo e da vida, tendo-a realçado através da utilização do som da forma mais criativa do que os outros realizadores seus congéneres, bem como um inovador nas tomadas de vistas segundo uma diagonal privilegiada que passou a ser escola desde então.
Mark Cousins não se detém particularmente na vertente cineasta de Welles, embora lhe refira as obras fundamentais e os pormenores de construção, deixando todavia, perpassar por todo o filme que era essa a principal forma de visualização de Welles e que havia muito mais em Welles do que o “conhecido realizador” que ao ser somente apreciado assim se tornava redutor e limitado da sua incomensurável grandeza.
È um retrato de Welles como nunca tinha sido visto antes, através dos olhos de Cousins que através da animação dos esboços e pinturas de Welles, recria os trabalhos originais numa descrição visual que nos revela o artista de uma forma agradável, diversificada e bem disposta. A ver, recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

Sem comentários: