Sinopse
Ao ter acesso exclusivo a centenas de desenhos e
pinturas de Orson Welles, o cineasta Mark Cousins mergulha no trabalho visual
do actor e realizador mítico para revelar o retrato de um artista como nunca o
tínhamos visto – através do seu próprio olhar, desenhado com a sua própria mão,
pintado com os seus pincéis. Dá vida às paixões e ao poder deste showman do
século XX e explora a forma como o génio de Welles continua hoje a ressoar na
época de Trump, mais de 30 anos depois da sua morte.
Opinião
por Artur Neves
Um biopic sobre Orson Welles não é um assunto que à primeira vista
possa motivar muito interesse. É generalizadamente conhecido como realizador de
Citizen Kane de 1941,pelo qual foi premiado, bem como da sua emissão radiofónica
sobre a invasão da Terra por seres alienígenas que foi tomada como autêntica
pelos ouvintes e lhe valeu um contrato com a RKO para a realização de três
filmes com absoluta liberdade sobre os temas.
Todavia, Mark Cousins, um
realizador Irlandês, nascido em 1965 em Belfast, centra-se na globalidade da
obra deixada por deste diretor e faz deste documentário digressivo uma
demonstração da sua admiração, respeito, conhecimento e culto sobre a
personagem de um homem que talvez não seja tão conhecida como a partir de agora
ficou.
Cousins estrutura o
documentário em seis capítulos, em cada um dos quais aborda uma faceta da vida
de Orson Welles, tal como, o desenho, a realização, os amores e tudo o que preencheu
o conteúdo multifacetado da sua vida, desde as aguarelas e quadros com pinturas
durante a infância e continuando pela adolescência e idade adulta, traçando o
percurso do autor pela Irlanda, Marrocos, Nova Iorque e Hollywood onde foi
famoso e feliz, bem como autoexilado por falta de recursos financeiros.
Cousins teve acesso ao extraordinário
acervo de documentação em poder da filha mais nova de Welles, Beatrice, que o assessorou
na construção do guião deste biopic,
em que Cousins progride através de perguntas que faz a Welles, sabendo
previamente as respostas que nos apresenta através dos seus trabalhos, das suas
obras em poder da filha, bem como nos arquivos da Universidade de Michigan que
incluem esboços de storyboards que
Welles fez para vários dos seus filmes.
Ficamos com a ideia que para
lá do grande cineasta, Welles foi um visualizador um descritor visual do mundo
e da vida, tendo-a realçado através da utilização do som da forma mais criativa
do que os outros realizadores seus congéneres, bem como um inovador nas tomadas
de vistas segundo uma diagonal privilegiada que passou a ser escola desde
então.
Mark Cousins não se detém
particularmente na vertente cineasta de Welles, embora lhe refira as obras fundamentais
e os pormenores de construção, deixando todavia, perpassar por todo o filme que
era essa a principal forma de visualização de Welles e que havia muito mais em
Welles do que o “conhecido realizador” que ao ser somente apreciado assim se
tornava redutor e limitado da sua incomensurável grandeza.
È um retrato de Welles como
nunca tinha sido visto antes, através dos olhos de Cousins que através da
animação dos esboços e pinturas de Welles, recria os trabalhos originais numa
descrição visual que nos revela o artista de uma forma agradável, diversificada
e bem disposta. A ver, recomendo.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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