Sinopse
Um jovem de
apenas 22 anos, vestido com uma boina preta e um fato escuro justo, viaja num
avião de São Petersburgo para Paris. Estamos em 1961 e Rudolf Nureyev, ainda
não é uma figura lendária e majestosa: dança na mundialmente famosa companhia
Ballet Kirov e viaja pela primeira vez para fora da União Soviética.
A vida
parisiense encanta Nureyev e o jovem bailarino está ansioso por consumir toda a
cultura, arte e música que a deslumbrante cidade tem para oferecer. Mas os
agentes do KGB, que observam cada movimento seu, tornam-se cada vez mais
desconfiados do seu comportamento e da amizade com a jovem parisiense Clara
Saint. Quando finalmente confrontam Nureyev com uma exigência chocante, ele é
obrigado a tomar uma dolorosa decisão que poderá mudar para sempre o curso da
sua vida e colocar a sua família e amigos em grande perigo.
Da infância pobre de Nureyev na cidade soviética de
Ufa, ao seu despontar como estudante de dança em Leninegrado e à chegada ao
epicentro da cultura ocidental na Paris do início da década de 1960, “O Corvo Branco”
é a história verídica do percurso incrível de um artista único que transformou
para sempre o mundo do ballet.
Opinião
por Artur Neves
Rudolf Nureyev nasceu a
bordo do comboio transiberiano (que viria a marcá-lo para a vida) a caminho de Ufa
em Março de 1938 e transformou a arte do ballet,
constituindo-se no mais celebrado bailarino e coreógrafo do século XX. Em 1961,
durante uma apresentação em Paris e fascinado com o ambiente cultural que
vivencia, desertou para o Ocidente, apesar da vigilância cerrada do KGB e da nomenklatura Soviética que o cercava de
perto.
É durante este período da
sua vida, o nascimento, a infância, a escola de dança, o virtuosismo revelado
em São Petersburgo que Ralph Fiennes realiza este filme e interpreta o
professor Alexander Pushkin, escolhido por Nureyev para o ensinar. Desde muito
cedo que o seu caráter impulsivo, avesso a regras e em certas situações,
grosseiro, que Nureyev se revela, como Fiennes tem alguma contenção em mostrar,
com um percurso de desmandos e de infâmias que, apesar de constituírem o
sucesso de uma carreira, poderiam manchar o valor de um artista. É talvez por
isso que o filme se resume às suas origens.
Embora a história sendo
sobre Nureyev (Oleg Ivenko) cabe aqui referir a interpretação de Fiennes que
documenta a capacidade e versatilidade deste ator Inglês, ao interpretar o seu
personagem, Pushkin, falando fluentemente um Russo.
Aliás como realizador ele
também é notável, considerando que o desenvolvimento da história, embora
ancorada em Paris 1961, é complementada oportunamente com as referências à infância
e à escola em São Petersburgo que nos permitem compreender e interiorizar todas
as motivações da personalidade histriónica de Nureyev. Em tudo o mais Fiennes é
meticuloso, imprimindo à história um bom ritmo, culminando no processo de
deserção para Ocidente, recheado de suspense, em que Nureyev tem de decidir passar
por uma de duas portas, para ser livre, ou para voltar sob prisão à URSS.
Todavia, como filme
ilustrativo da dança clássica, não apresenta grandes cenas de bailado e quem
for à espera disso pode sentir-se frustrado, como ainda, acaba no momento da
grande revelação de Rudolf Nureyev ao Ocidente, à França, ao início da sua
consagração e da parceria com Margot Fonteyn, para a qual o filme deixa uma
dica. Falta-lhe revelar a sua bissexualidade, a sua vivência íntima partilhada
por vários anos com companheiros masculinos, o seu mau génio, a sua dependência
das drogas e o seu contágio com SIDA que provoca a sua morte em Janeiro de
1993.
Nessa área Ralph Fiennes não
se quer meter e por isso fica em 1961, na pele de Alexander Pushkin, sendo
interrogado pelo KGB sobre a fuga do seu pupilo e respondendo a tudo com a
mesma postura com que ensina os seus alunos. No silêncio do seu espírito talvez
pense que um dia alguém vai querer fazer um; “O Corvo Branco 2” para o qual não
lhe faltará material.
Um filme muito interessante,
recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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