7 de junho de 2019

Opinião – “High Life” de Claire Denis


Sinopse

Nos confins do espaço, muito além do nosso sistema solar, Monte (Robert Pattinson) e Willow, a sua filha pequena, vivem juntos a bordo de uma nave espacial, em isolamento total.
Monte, um homem solitário cuja severa autodisciplina é uma proteção contra o desejo – o seu e o de outros – tornou-se pai contra a sua vontade. O seu esperma foi usado para inseminar Boyse (Mia Goth), uma jovem que deu à luz Willow. Ambos eram membros de uma tripulação de prisioneiros: encarcerados espaciais, condenados à pena de morte. Usados como cobaias pela perversa Dra. Dibs (Juliette Binoche) são enviados numa missão ao buraco negro mais próximo da Terra.
Agora, somente Monte e Willow permanecem. Mas Monte não é o mesmo. Através da filha, e pela primeira vez, experimenta o nascimento de um amor avassalador. Pela sua parte, Willow cresce, tornando-se numa menina e depois numa jovem mulher. Juntos e sozinhos, pai e filha aproximam-se do seu destino final – o buraco negro onde o tempo e o espaço deixam de existir.

Opinião por Artur Neves

Anteriormente nestas crónicas, a propósito do filme “O Meu Belo Sol Interior” de 2017 já abordei a personalidade de Claire Denis que também realiza este filme. Só que, em “O Meu Belo Sol Interior” o argumento e a história filmados seguem um guião genericamente tradicional, muito ao contrário do que acontece em “High Life” que embora classificado como ficção científica, foge aos cânones desta classe pelo que me parece importante acrescentar algo mais, ao que ficou dito sobre a realizadora francesa Claire Denis.
Esta senhora, nascida em Abril de 1946 em Paris, é particularmente conhecida por seguir um raciocínio sinuoso nos seus filmes, nomeadamente dando respostas a perguntas que o espectador não faria, deliberadamente para o fazer sair da sua zona de conforto, de forma a no entender dela, nos confrontar com verdades mais elevadas do amor e da vida. Por outro lado, as suas abordagens de violência no amor, têm sempre uma componente sexual brutal, ou um assassínio cometido de forma improvável e imprevisível no contexto, considerando que no seguimento da história não nos conduziria a antever desfechos tão drásticos e letais.
Ela desafia o espectador através de relações improváveis, tais como; amor e provocação de ferimentos, lutar e fazer amor (sendo esta dualidade uma das suas preferidas) beijar e morder até arrancar o lábio num delírio de paixão, ou como neste filme, em que a nave se parece mais com um armazém desorganizado, os tripulantes são todos condenados à morte sem redenção, a sua missão consiste numa viagem ao buraco negro mais próximo da terra que os conduzirá à morte inevitável, incluindo a bebé que nasceu abordo e que representa um futuro de esperança que todos acalentam mas que lhes é liminarmente negado.
Em “High Life” o conceito de ficção científica é completamente deformado, onde a Drª Dibs que comanda a nave, desenvolve brinquedos sexuais, pratica o sexo com uma energia selvagem e demoníaca, viola os seus pacientes roubando-lhes esperma numa exaltação criativa de natureza humana destruidora, sem um objetivo definido que não, o de confrontar o espectador com conceitos e pensamentos que na vida normal, sublimamos, ou pura e simplesmente mantemos em segredo no nosso espírito.
Não quero com isto dizer que o filme não tenha qualidade, pois pode justificar-se um bem pelo lado negativo desse bem, mas além de ser insólito conduz-nos a elipses mentais que contrariam a fluência corrente do pensamento humano. Como pode um assassino de crianças cuidar tão ferozmente de uma nova vida?... Como pode um buraco negro, que tudo absorve, até a luz, constituir-se como um buraco de esperança?...
São pois, estas contradições que o esperam caro leitor, se optar por se divertir com este filme, pelo meu lado gostei, porque gosto de desafios, embora reconheça que tenho gostos algo controversos.

Classificação: 7 numa escala de 10

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