Sinopse
Nos confins
do espaço, muito além do nosso sistema solar, Monte (Robert Pattinson) e
Willow, a sua filha pequena, vivem juntos a bordo de uma nave espacial, em
isolamento total.
Monte, um
homem solitário cuja severa autodisciplina é uma proteção contra o desejo – o
seu e o de outros – tornou-se pai contra a sua vontade. O seu esperma foi usado
para inseminar Boyse (Mia Goth), uma jovem que deu à luz Willow. Ambos eram
membros de uma tripulação de prisioneiros: encarcerados espaciais, condenados à
pena de morte. Usados como cobaias pela perversa Dra. Dibs (Juliette Binoche)
são enviados numa missão ao buraco negro mais próximo da Terra.
Agora, somente Monte e Willow permanecem. Mas Monte
não é o mesmo. Através da filha, e pela primeira vez, experimenta o nascimento
de um amor avassalador. Pela sua parte, Willow cresce, tornando-se numa menina
e depois numa jovem mulher. Juntos e sozinhos, pai e filha aproximam-se do seu
destino final – o buraco negro onde o tempo e o espaço deixam de existir.
Opinião
por Artur Neves
Anteriormente nestas crónicas,
a propósito do filme “O Meu Belo Sol Interior” de 2017 já abordei a
personalidade de Claire Denis que também realiza este filme. Só que, em “O Meu
Belo Sol Interior” o argumento e a história filmados seguem um guião
genericamente tradicional, muito ao contrário do que acontece em “High Life”
que embora classificado como ficção científica, foge aos cânones desta classe pelo
que me parece importante acrescentar algo mais, ao que ficou dito sobre a
realizadora francesa Claire Denis.
Esta senhora, nascida em
Abril de 1946 em Paris, é particularmente conhecida por seguir um raciocínio
sinuoso nos seus filmes, nomeadamente dando respostas a perguntas que o
espectador não faria, deliberadamente para o fazer sair da sua zona de conforto,
de forma a no entender dela, nos confrontar com verdades mais elevadas do amor
e da vida. Por outro lado, as suas abordagens de violência no amor, têm sempre
uma componente sexual brutal, ou um assassínio cometido de forma improvável e
imprevisível no contexto, considerando que no seguimento da história não nos
conduziria a antever desfechos tão drásticos e letais.
Ela desafia o espectador
através de relações improváveis, tais como; amor e provocação de ferimentos,
lutar e fazer amor (sendo esta dualidade uma das suas preferidas) beijar e
morder até arrancar o lábio num delírio de paixão, ou como neste filme, em que
a nave se parece mais com um armazém desorganizado, os tripulantes são todos
condenados à morte sem redenção, a sua missão consiste numa viagem ao buraco
negro mais próximo da terra que os conduzirá à morte inevitável, incluindo a
bebé que nasceu abordo e que representa um futuro de esperança que todos
acalentam mas que lhes é liminarmente negado.
Em “High Life” o conceito de
ficção científica é completamente deformado, onde a Drª Dibs que comanda a nave,
desenvolve brinquedos sexuais, pratica o sexo com uma energia selvagem e
demoníaca, viola os seus pacientes roubando-lhes esperma numa exaltação criativa
de natureza humana destruidora, sem um objetivo definido que não, o de
confrontar o espectador com conceitos e pensamentos que na vida normal,
sublimamos, ou pura e simplesmente mantemos em segredo no nosso espírito.
Não quero com isto dizer que
o filme não tenha qualidade, pois pode justificar-se um bem pelo lado negativo
desse bem, mas além de ser insólito conduz-nos a elipses mentais que contrariam
a fluência corrente do pensamento humano. Como pode um assassino de crianças cuidar
tão ferozmente de uma nova vida?... Como pode um buraco negro, que tudo
absorve, até a luz, constituir-se como um buraco de esperança?...
São pois, estas contradições
que o esperam caro leitor, se optar por se divertir com este filme, pelo meu
lado gostei, porque gosto de desafios, embora reconheça que tenho gostos algo
controversos.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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