Sinopse
Reed despede-se da sua mulher e do filho bebé,
aparentando ir numa viagem de negócios. Mas em vez de roupas, a sua mala contém
um kit de bondage e um picador de gelo. O plano está traçado: irá fazer check-in num hotel, ligar para um
serviço de acompanhantes, e matar uma prostituta inocente. Mas o plano de Reed
não contava com Jackie, a sedutora e misteriosa acompanhante que entra no seu
quarto e altera completamente tudo aquilo que Reed meticulosamente tinha imaginado.
À medida que a noite avança, um pesadelo diabólico instala-se. Uma comédia
negra baseado num livro de Ryu Murakami, que também inspirou o clássico
"Audition" (1999), de Takashi Miike.
Opinião
por Artur Neves
Este filme fundamenta-se (embora
remotamente) no romance Japonês citado na sinopse, mas abordado por outro prisma,
considerando que em “Auditon” o que se pretende mostrar é a violência bizarra
dos jogos sadomasoquistas de uma jovem candidata a atriz que se apresenta numa
representação elaborada, fazendo-se passar por quem não é para assim cativar os
que acreditam nela.
Nesta abordagem, temos a
mesma tendência desviante da pretendente, mas noutro contexto, considerando que
quem deveria ser morta era ela por um meticuloso assassino, pai de família
frustrado na sua existência, que decide “só porque sim” assassinar uma
acompanhante de luxo para se divertir e encontrar alguma compensação para os
seus insucessos.
Para que nada falhe o
putativo assassino ensaia o golpe em todos os pormenores, simulados até à
exaustão, imaginando o som dos membros a serem cortados e o sangue a jorrar,
com a expressão mais natural que se possa conceber que o realizador detalha com
precisão, e excesso, digo eu, fazendo derivar o filme e o espírito da obra em
que se inspirou para a comédia negra com sangue a jorros e situações caricatas
que destorcem o drama de horror e mistério que lhe deu origem.
Não podemos dizer que
Nicolas Pesce se destaca pela negativa neste trabalho. O seu trabalho anterior;
“Os Olhos da Minha Mãe” de 2016, também um drama de horror e morte está muito
bem conseguido o que indicia ser mais bem utilizada a sua arte com histórias de
elevada intensidade dramática do que em trabalhos como o atual onde a loucura
dos personagens e a sua exuberante convicção nos seus objetivos, os leva a
comportamentos que criam ambientes tensos que subitamente caem no ridículo e no
improvável e nos fazem perder, ou pelo menos reduzir a expetativa inicial.
A mulher que lhe aparece no
quarto não é a que ele tinha requisitado, mas antes Jackie (Mia Wasikowska) muito
diferente do que Reed (Chistopher Abbott) esperava, com quem ele se vê
compelido a desenvolver um romance imprevisto, constituindo dois personagens
credíveis até ao final abrupto que não vou revelar para não retirar o mais
interessante do filme e que justifica a classificação atribuída.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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