Sinopse
Harry (James
Caan), um antigo cardiologista judeu de Nova Iorque, decide passar os anos da
reforma como criador de porcos em Nazaré, Israel. É uma escolha que causa
choque entre os seus familiares, e coloca Harry em conflito com a comunidade
local, especialmente o rabi Moshe (Tom Hollander). Ao mesmo tempo, em Nova
Iorque a ex-mulher de Harry, Monica (Rosanna Arquette), tenta orientar a vida
dos seus filhos já adultos, Annabelle (Efrat Dor) e David (Jonathan Rhys
Meyers), assim como a sua, depois de descobrir que sofre de um tumor no
cérebro.
Filmado nas icónicas paisagens de Israel, LUGARES
SAGRADOS é uma história universal sobre amor, família, perda e tolerância,
contada com grande humor e afeto, que nos mostra como até nas famílias mais
disfuncionais, o que importa é a coragem para dizer aquilo que nunca foi dito.
Opinião
por Artur Neves
Com uma história recheada de
segredos e palavras escondidas, não ditas pela vergonha das ações que as
sustentam, relatada com fino humor e subtil crítica às convenções religiosas
que assentam em dogmas anacrónicos, este filme é um consolo de alma para todos
os agnósticos que como eu pensam que; se Deus criou o mundo e todas as coisas
que nele existem, também criou os porcos com todas as particularidades que lhes
conhecemos, pelo que á luz da Sua declarada infinita bondade, não faz sentido
ser proibida a criação de porcos em Israel.
É com esta premissa que se
desenvolve a aventura de Harry, um homem solitário que abandonou, Nova Iorque,
onde deixou a mulher Monica, por se ter apaixonado pelo seu colega, também cardiologista
com quem trabalhava, um filho homossexual que ele não consegue encarar nem tão
pouco, responder às insistentes cartas que este lhe escreve tentando justificar
a sua opção, bem como a sua filha Annabelle, uma rapariga adulta que se recusa
a assumir as responsabilidades da vida sob o pretexto da contínua e prolongada frequência
escolar como escape para as suas incapacidades.
É tudo isto que Harry deixou
para traz e rumou à sua terra de origem para ser criador de porcos em Nazaré, onde
a sua pessoa é contestada por todas as religiões e que serve de ilustração para
as incongruências da fé e das práticas convencionais de todas as religiões que
somente visam impor procedimentos vinculativos para a sua prática, mas vazios
de sentido para a vida das pessoas que os praticam.
Amanda Sthers, realizadora a
viver em Los Angeles, nascida em Paris, França, apresenta-nos aqui um filme
recheado de sentimentos e desgostos, silêncios e alegrias, bem conseguido através
de personagens credíveis, como por exemplo Monica (Rosanna Arquette como á
muito tempo não a via) e Michel (Patrick Bruel) o seu namorado, e médico, com
quem estabelece a conversação mais calma, suave e conformada sobre a previsão do
seu breve falecimento.
Todo o filme é apresentado
de forma fluida, segura, contando os factos em antecipação à sua inserção na
história, como que avisando-nos para que algo vai acontecer e que é
reconhecível de seguida, entre a truculência de Harry, o remorso acusador de
David, a ligeireza filial de Annabelle e os protestos ansiosos de Monica que
não quer perder um segundo do tempo que lhe resta. A incongruência religiosa é
a cereja sobre o bolo. Recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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